Lotte Ehlers, da Phoenix Contact GmbH (Alemanha)
Data: 04/05/2017
Edição: Fotovolt Março 2017 - Ano 3 - No 9
Compartilhe:A potência instalada global das instalações geradoras fotovoltaicas (FV) atingiu recentemente a marca de 300 GWp. As projeções são de que esse número ultrapasse 600 GWp até 2020. A maior parte dessas instalações trata-se do tipo string, ou série fotovoltaica. Um ou diversos strings, cada um formado de múltiplos módulos FV, são conectados a um inversor. Com os módulos FV ligados em série, a tensão contínua dos módulos de cada string se soma e compõe a tensão de string. Essa tensão atinge normalmente várias centenas de volts, sendo o limite superior em torno de 1000 Vcc (figura 1). Para garantir a segurança das pessoas durante intervenções nessas instalações, a norma determina que a tensão fique limitada a 120 Vcc quando o sistema for desligado. Simultaneamente, a soma de todas as correntes de curto-circuito deve ser no máximo de 12 mA, ou a potência remanescente da instalação não pode ultrapassar 350 mJ.
Os referidos limites dos parâmetros elétricos após o desligamento da instalação podem ser obtidos de diversos modos. As soluções atualmente oferecidas interrompem o cabeamento do gerador FV centralmente ou num determinado ponto. A corrente cessa, fazendo com que o requisito da norma seja em princípio atendido. Contudo, no sistema completo de corrente contínua permanece uma “tensão de circuito aberto” – portanto, de várias centenas de volts – enquanto a luz solar incidir sobre os módulos.
Outra possibilidade seria fechar os strings em curto-circuito. Com isso a tensão cai a zero e satisfaz a norma. No entanto, ainda assim pode fluir corrente, porque o circuito não foi desconectado. Essa solução implica também o risco da presença de uma tensão elevada quando, durante um serviço de manutenção, o cabo de um string for desconectado e interromper o curto-circuito. Por esta razão, a norma VDE proíbe expressamente que os strings sejam mantidos em curtocircuito por longos períodos [1].
Constata-se, portanto, que as soluções atuais não proporcionam proteção suficiente. Até porque, além de técnicos e instaladores, às vezes outras pessoas sem conhecimentos de eletrotécnica trabalham numa instalação FV, como, por exemplo, marceneiros e demais profissionais que executam reformas na cobertura ou na respectiva estrutura de sustentação. Sem contar os bombeiros, para os quais, em caso de incêndio, inundação, resgate de pessoas e demais operações, se apresentam situações de risco devido a um potencial defeito na instalação. Em consequência de contato direto com módulos ou cabos defeituosos, pontes de corrente entre partes expostas da instalação, e água de combate a incêndio ou de inundação, as pessoas podem receber choques ou sofrer queimaduras causadas por arcos elétricos.
Para que a manutenção e reparos da instalação FV não precise ser realizada à noite, nem implique gastos adicionais desproporcionalmente elevados, são necessárias outras medidas de proteção. O desligamento automático de cada painel FV individual evita o risco de tensões de contato perigosas para qualquer pessoa, e assegura proteção independentemente de conhecimentos especializados de eletrotécnica.
Diante desse cenário, um sistema denominado “Solarcheck RSD” (iniciais do inglês Rapid Shut Down, ou desligamento rápido) foi desenvolvido e patenteado como solução inteligente para desligamento seguro dos módulos FV. O sistema compreende unidades para desligamento dos módulos FV individuais, além de unidades de partida que restabelecem a operação da instalação. Seus componentes são incorporados ao cabeamento de corrente contínua, sem necessidade de comunicação adicional por cabo ou por rádio. A parametrização ou programação é igualmente dispensável (figura 2).
Cada unidade de desligamento desconecta o respectivo módulo FV do conjunto do string. O desligamento é automático quando ocorre um defeito ou o inversor é desligado. Após o desligamento, todo o lado de corrente contínua do gerador FV apresenta no máximo a tensão em vazio de um módulo, portanto, na faixa da extrabaixa tensão de segurança. Por isso, o risco de choque elétrico está eliminado. Caso o defeito não se localize no string nem no inversor, mas num dado módulo, somente este módulo é desconectado, e o restante do gerador FV continua a produzir energia.
Como as unidades de desligamento do sistema aqui apresentado analisam as condições de tensão e de corrente nos cabos de string e em cada módulo FV, elas podem distinguir diversos estados de funcionamento. Segundo o princípio de fail-safe, qualquer desvio do estado normal de funcionamento conduz a um desligamento – independentemente de se tratar de uma falha no cabo do string, no módulo, ou ainda do desligamento do inversor. Para tanto, as unidades de desligamento supervisionam permanentemente o ambiente elétrico e efetuam comparações com as características de operação normal. Dessa forma, elas identificam qualquer intervenção, acidente ou dano como desvio do padrão e desconectam automaticamente o respectivo módulo. O teste e a identificação da falha funcionam de modo autônomo em cada módulo. Disso resulta uma alta redundância, que aumenta significativamente a confiabilidade do desligamento automático, se comparada com a de um sistema de comando centralizado. Ademais, torna-se desnecessária a transmissão de dados no sistema, que está sujeita a erros por interferência ou interpretação equivocada dos parâmetros, e ainda requer alto investimento na instalação.
Além do modo automático, o comando manual de desligamento também é possível, desligando-se o inversor ou desconectando-o da rede. As unidades de desligamento dos módulos FV detectam essa situação imediatamente e iniciam o desligamento da instalação completa. Esse procedimento é realizado, por exemplo, para manutenção e reparos, ou para intervenção dos bombeiros, e sempre antes de adentrar a instalação – com a diferença de que o sistema em análise afasta o risco de choque durante essas operações por meio de extrabaixa tensão de segurança.
A unidade inteligente de partida restabelece automaticamente a operação do gerador FV tão logo se verifiquem condições de contorno seguras e tecnicamente perfeitas. O sistema acompanha automaticamente o estado ridasnos módulos de instalações FV existentes de funcionamento do inversor. Essa tecnologia mostra-se mais rápida e confiável do que qualquer avaliação humana ou comando manual.
O sistema “Solarcheck RSD” pode ser aplicado tanto para projetos novos quanto em instalações existentes, e não está vinculado a nenhum tipo determinado de inversor ou de módulo FV (figura 3). No futuro, essa solução pode ser incorporada diretamente aos módulos e aos inversores.
Com a tecnologia de desligamento inteligente dos módulos FV, são atendidos os requisitos de segurança há muito exigidos pelos sindicados, Corpo de Bombeiros, instaladores e operadores de sistemas fotovoltaicos. Geradores FV podem ser instalados, operados e mantidos com segurança. Como esses serviços podem ser realizados durante o dia, são poupados os altos custos de serviços noturnos. Além disso, o sistema estabiliza a geração FV e tem efeitos positivos sobre o inversor, porque todas as manhãs é efetuada uma rotina definida de partida da instalação, que protege a eletrônica do inversor.
Artigo publicado originalmente na revista alemã IKZ-Energy, edição 7/8/2016. Copyright Strobel Verlag, Arnsberg. Publicado por FV sob licença dos editores. Tradução e adaptação de Celso Mendes.