Um projeto inédito de usina solar flutuante, que gira 180 graus durante o dia acompanhando o movimento do sol, para melhor aproveitamento da radiação, vai entrar em operação experimental em lago na Estância Jatobá em Campinas (SP). Batizada de “ilha seguidora solar”, trata-se de iniciativa da empresa nacional Apollo Sistemas de Flutuantes para Usinas Fotovoltaicas, que constrói a usina para a Royal Fic, distribuidora de combustíveis, de Paulínia (SP), proprietária da estância e que será também dona da microusina de GD .

Em montagem e com planejamento de ser apresentada para o público especializado que visitará a próxima Intersolar (29 a 31 de agosto, em São Paulo), de onde haverá translado gratuito até o local, a usina foi projetada para acompanhar o trajeto eclíptico do sol durante o dia, e retornar para sua posição inicial à noite,  a partir de propulsores a jatos d´agua, instalados em volta da ilha e controlados por sistema computadorizado.

O projeto é integral da Apollo, que entre outros desenvolvimentos fez os propulsores a partir de pequenos motores blindados trifásicos de 3 kW com turbinas de jet-ski adaptadas na ponta, com 5 CV de potência. Com dimensão de 12 x 12 metros e pensando cerca de 1,2 tonelada, a usina terá 10 módulos bifaciais de 690 Wp, que por conta do seguimento solar têm potencial para gerar de 20% a 25% mais energia do que uma solar flutuante fixa, segundo o diretor-presidente da Apollo, José Alves Teixeira Filho.

Tecnologia incipiente mesmo globalmente, com apenas usinas experimentais na Europa e Ásia, a instalação brasileira, explica Teixeira, terá ancoramento pivotante único no centro, por onde também passará o cabo de energia. Um computador a bordo, programado com os dados diários do movimento do sol, assim como magnetômetro (bússola eletrônica que mede o campo magnético da Terra), serão responsáveis por verificar se a usina segue o trajeto correto em graus. “A ilha deve girar aproximadamente 1 grau a cada dois minutos”, diz.

Pela manhã, a usina ficará apontada para o nascer do sol, a leste. Conforme o trajeto eclíptico, o giro provocado pelos propulsores faz com que, ao meio-dia, ela esteja virada para o  Norte e, no fim da tarde, a oeste. Ao término desse período, que a depender da época do ano leva de 7 horas a 9 horas, há um freio nos propulsores  e a inversão do giro em 180 graus, que passará a ser um movimento mais lento, em cerca de 16 horas, para retornar ao leste  – e esperar o próximo dia – consumindo menos energia no trajeto. De maneira geral, revela Teixeira, a operação da ilha seguidora consome cerca de 2% da energia produzida pela usina.

Além de acompanhar se a curvatura segue o trajeto dos dados de movimento do sol, o sistema automatizado também controla os propulsores a jatos d´água, que criam um torque horário para fazer o sistema flutuante girar no sentido anti-horário. Para o executivo, aliás, a performance da propulsão será bastante avaliada durante o experimento, inclusive com o acompanhamento técnico da Unicamp. Isso porque, mesmo com operação a potência muito baixa, cerca de 100 W cada um (o equivalente a 5% do disponível), no momento do freio ela precisará aumentar em 40% a potência. “É uma aposta com grau de assertividade muito grande, porque em testes conseguimos movimentar o sistema com apenas um propulsor”, diz.

O local onde ficará a ilha seguidora solar, na verdade, se tornará uma espécie de showroom da Apollo, que fabrica flutuadores de polietileno e estruturas pultrudadas que servem como base dos módulos. No mesmo lago, ao lado, já está instalada uma usina solar flutuante fixa, com a mesma estrutura e capacidade solar, conectada no grid como geração distribuída ainda na primeira semana de junho. Além disso, há outra em solo, também com os mesmos 10 módulos,  para demonstrar a estrutura de pultrudado de PRFV e também testar a solução para a aplicação agrissolar. Todas as usinas e instalações na estância são de propriedade da Royal Fic.

Também no lago da Estância Jatobá, será demonstrado um sistema flutuante de manutenção e combate a incêndios. Trata-se de barcaça de fundo plano, produzida com os próprios flutuantes da Apollo, e também com propulsão elétrica fotovoltaica. A ideia do sistema é servir de apoio às instalações desde as obras de construção, no transporte de pessoal e equipamentos, até depois da partida da usina, para manutenção e combate a incêndios. “Pretendemos fornecê-las para os clientes quando começarmos a montar as usinas flutuantes comercialmente”, afirma. A unidade piloto, que ficará em Campinas, terá 42 m2 e as comerciais, 200 m2.

A expectativa futura de obras, segundo Teixeira, é muito grande, principalmente depois que o marco da geração distribuída (Lei 14.300/2022) passou a permitir que as usinas solares flutuantes centralizadas sejam divididas e enquadradas em porções menores nos limites da micro e minigeração. Com isso é possível faturar o empreendimento como GD, com valores de energia bem superiores ao conseguidos em contratos de longo prazo das grandes, no ACR ou ACL.  Além do mais, as minigeradores, pelo marco de GD, podem acessar os benefícios de isenção tributária do Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura).

A Apollo pretende atender o mercado com UFVs flutuantes, de forma inicial principalmente através das estruturas fixas, com sistemas padrões de 7 MWp (5 MWac), com 9 mil módulos, que seriam replicados para atender a potência total dos projetos. Várias cotações estão sendo feitas no momento, segundo Teixeira.



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