O BNDES vai considerar cada vez mais os aspectos socioambientais (ESG) dos projetos para precificar seus financiamentos para a transição energética, aí incluindo principalmente os de energia renovável. A revelação é da superintendente de transição energética do banco de fomento, Carla Primavera, que participou nesta terça-feira (29/8) de painel sobre ESG na Intersolar South America, em São Paulo.

Para ela, no caso específico da solar fotovoltaica, os pretendentes a acessar os recursos do banco precisarão ficar atentos aos impactos da geração centralizada nos territórios onde são instalados, que na sua análise são muitos e podem pesar contra o “preço” do financiamento. “Na Europa, por exemplo, isso ocorreu com a fonte eólica, que foi muito contestada por várias comunidades locais por conta de seus impactos”, disse.

“Vai ser preciso discutir isso em relação à geração solar centralizada no Brasil, para que se faça a sua corresponsabilidade e depois ela não seja questionada, como ocorreu na Europa. O bom convívio é fundamental para perenizar os investimentos no local e para que a comunidade também se beneficie dos projetos”, completa.

Esse cenário, segundo Primavera, terá ainda mais peso por conta do grande reforço de recursos que a superintendência de transição energética e clima teve, com o recente relançamento do Fundo Clima na semana passada (24/8), feita por meio da captação no mercado internacional de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões) com títulos sustentáveis, de dívida soberana verde.

Isso porque principalmente o novo Fundo Clima, captado em operação do Ministério da Fazenda, o Ministério do Meio Ambiente e o BNDES, tem também critérios de desembolso mais rigorosos. Para começar, prioriza em primeiro lugar projetos para reflorestamento, para combater a principal causa de emissões do País, ou seja, o uso do solo.

Gerido pelo BNDES, os novos recursos, que devem estar disponíveis a partir de 2024 em seis linhas, entre elas a de transição energética, voltada para as fontes renováveis e hidrogênio verde principalmente, também têm condições melhores para projetos inovadores e novas fronteiras energéticas. Esse detalhe, revela Primavera, favorece o financiamento a projetos de hidrogênio verde.

Outro ponto favorável aos projetos de hidrogênio verde, continua a superintendente, é a aprovação recebida pelo banco para remunerar 1% dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador, origem dos recursos do banco) a TR [taxa referencial, mais vantajosa] em projetos de inovação e digitalização. “No nosso entendimento, os primeiros projetos de hidrogênio contam com essa característica de inovação para o Brasil, então poderiam ter essa composição de funding mais vantajoso”, completa.

Além dos novos recursos do Fundo do Clima, a área de transição energética do BNDES também conta com as linhas tradicionais, com crédito em real, em longo prazo, para qualquer projeto de descarbonização, eólica, solar ou H2V.

Mais recentemente o banco também passou a realizar financiamento em dólar, com a mudança da lei do câmbio, o que permitiu viabilizar para a Atlas Renewable o complexo solar Boa Sorte, de 902 MWp, em Minas Gerais, com aporte de US$ 210 milhões e PPA assinado com exportador de alumínio. “Estamos estudando no pipeline outros financiamentos para energia fotovoltaica nesse formato”, revela Primavera.

A área de transição energética, além de captar no mercado internacional e doméstico, também usa recursos de bancos multilaterais, agentes de fomento internacionais, coloca no balanço os recursos em moeda forte e empresta em reais.



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