O navio francês Energy Observer, movido a energia solar, eólica e a hidrogênio, ficou atracado desde o dia 16 de novembro em Fortaleza, no Ceará, onde permaneceu até o dia 24 para visitação de estudantes e convidados. Esta foi a 83ª parada – a primeira na América Latina – de uma viagem ao redor do mundo iniciada em 2017 e que já ultrapassou a marca simbólica de 50 mil milhas náuticas (92.600 quilômetros).

A embarcação funciona como um laboratório para testar várias tecnologias de transição energética, a maior parte delas inovadoras e que tornam autônoma sua navegação. O projeto conta com a participação de empresas como a Qair, produtora independente de energias renováveis, e a Air Liquide, especializada em gases industriais, entre eles o hidrogênio, além da montadora japonesa Toyota e o grupo hoteleiro francês Accor.

A inovação central do navio é sua produção autônoma de hidrogênio verde a partir de um eletrolisador a bordo, que produz a partir da água do mar dessalinizada até 8 kg de H2V por dia (ou 4 Nm3/h). Em 2022, foram produzidos 330 kg do gás. Para preparar a água utilizada na eletrólise, há um sistema de membranas com três estágios que apenas em 2022 forneceu mais de 40 m3 de vazão.

Como o consumo de eletricidade para o processo de eletrólise é considerado elevado (7 kWh/Nm3), o navio preferencialmente produz o hidrogênio quando está ancorado, para evitar consumo simultâneo com o demandado para a navegação. O hidrogênio é empregado em uma célula de combustível da Toyota, que produz 26 kW de eletricidade. Este módulo foi projetado para trabalhar em barco, utilizando um trocador de calor e não sistema de radiador, como há em carros a hidrogênio. Por conta disso, foi desenvolvido um sistema de resfriamento especial que opera com alta umidade e salinidade.

Além do hidrogênio, que fica armazenado em tanques por meio de sistema de compressores especiais adaptados ao navio, há geração solar e eólica na embarcação. Os módulos fotovoltaicos são bifaciais e foram desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Energia Solar (Ines), da França, sendo instalados nas asas laterais e na seção traseira do navio. Em eólica, há duas turbinas OceanWings de 32 m2, projetadas pela empresa VPLP e monitoradas pela Ayro. Elas foram instaladas em 2019, cobrindo mais de 40 mil milhas náuticas. Durante esse período, o cálculo é que sua energia já tenha colaborado com 30% do necessário para a propulsão da embarcação.

Também é testada no navio uma tecnologia de hidrogeração de energia, com base no uso de hélices automáticas de passo variável. Estão em operação desde o início de 2022, mas ainda não puderam ser muito avaliadas por terem atravessado no período áreas não muito propícias a ventos. Já em 2023, por conta de o navio estar em áreas mais adequadas, há expectativa de maior geração.

Para o presidente, capitão e fundador do Energy Observer, Victorien Erussard, a decisão em atracar em Fortaleza não foi por acaso, já que o estado cearense pretende tornar o complexo portuário e industrial do Pecém um hub do hidrogênio verde. "Nossa presença aqui em Fortaleza é altamente simbólica. Graças ao compromisso e inovação de todos os nossos parceiros, especialmente a Qair na utilização de energia eólica e solar, as condições são ideais para gerar elétrons verdes de baixo custo. Isso possibilita a produção de hidrogênio verde a um preço competitivo, desafiando a predominância dos combustíveis fósseis. Juntos, estamos dando um passo crucial em nossa busca por um futuro energético sustentável e ecologicamente amigável", disse.

A Qair, uma das patrocinadoras do projeto e que também assinou memorando de entendimento com o governo cearense para participar do hub de H2V no Pecém, foi a responsável pela hospedagem da embarcação durante a parada, contando ainda com o apoio dos governos estadual e da prefeitura de Fortaleza, além da empresa nacional CSI. Durante a parada, aliás, a Qair montou exposição ao lado da embarcação, com um conteúdo imersivo sobre a odisseia do Energy Observer, a transição energética e o estudo dos ambientes marinhos. A exposição foi alimentada por dois geradores eletro-hidrogênio da EODev e hidrogênio de baixo carbono fornecido pela Air Liquide.



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