Embora ainda tenha um futuro de crescimento global, a fonte solar tende a entrar nos próximos anos em período de estabilização, com desaceleração em mercados-chave e possível excesso de oferta de módulos e demais equipamentos solares. As conclusões fazem parte de breve análise publicada pela consultoria WoodMackenzie, onde são feitas três “previsões” para o setor solar em 2024.
A primeira das previsões aponta que a fonte mudará seu status de indústria de alto crescimento, cuja média anual entre 2019 e 2023 foi de 28%, incluindo 56% no último ano, para o de indústria madura, com crescimento mais lento. A consultoria aposta em acréscimos médios estáveis entre 2024 e 2028, com alguns anos registrando até contrações. Com cerca de 1,5 TWcc instalados globalmente até 2023, são esperados mais 3 TWcc na próxima década.
O recuo no ritmo de crescimento se dará principalmente por conta dos principais mercados, com destaque a região da Ásia-Pacífico. Essa influência vem principalmente pelo desempenho da líder China, cujas instalações anuais se multiplicaram quase seis vezes desde 2019, chegando na previsão da consultoria a quase 200 GWcc em 2023, mas que a partir de 2024 devem encolher ligeiramente. Isso porque os investimentos em infraestrutura de rede do país asiático não estão acompanhando o crescimento dos projetos solares, o que aumenta a necessidade de mais armazenamento, e também em razão de recentes cortes de subsídios à geração distribuída.
O desempenho do mercado solar europeu será o segundo a influenciar no previsto amadurecimento da indústria. Apesar de os últimos dois anos terem sido de fortes crescimentos, com taxa anual de 38% em 2022 e de 26% em 2023, a crise energética, e o correspondente aumento nas tarifas do varejo, que caíram até 40% no ano passado, vão desacelerar o ritmo de projetos de geração solar distribuída em muitos mercados europeus. Por conta do cenário, a Wood Mackenzie prevê crescimento médio anual de apenas 4% na Europa nos próximos cinco anos.
A segunda previsão da análise envolve o desempenho dos Estados Unidos, que deve em 2024 sentir integralmente as consequências dos incentivos às renováveis da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês). De acordo com a consultoria, embora tenha sido lançada em agosto de 2022, apenas neste ano, por conta da demora em regulações, será possível ver os efeitos dos créditos tributários oferecidos para estimular a cadeia produtiva local da fonte solar. A previsão é que em 2024 os benefícios começarão a se materializar no país em mais instalações solares distribuídas e ainda a fabricação local de módulos solares deverá ser quase triplicada, com 40 GW de capacidade operacional até o fim do ano. Além disso, até 2026 há rastreados pela consultoria 120 GW em novas fábricas de módulos nos Estados Unidos.
Esse cenário positivo provocado pelo IRA, porém, apenas minimizará o padrão de desaceleração do crescimento anual da fonte. Depois de ter registrado acréscimo médio de 27% entre 2019 e 2023 em nova capacidade de geração solar, a previsão é que o ritmo anual entre 2024 e 2028 caia para 6%. “Embora existam vários desafios com os quais a indústria solar dos EUA está convivendo atualmente, o crescimento futuro da instalação seria muito menor se não fossem os inúmeros benefícios dentro do IRA”, afirma o texto da Wood Mackenzie.
Por fim, a terceira previsão tem a ver com o excesso de oferta, com prevista ociosidade global entre os fabricantes de módulos e equipamentos solares, o que de certa forma se relaciona com os novos investimentos que estão sendo incentivados na cadeia produtiva norte-americana. Com a demanda de projetos solares em alta em vários países, houve incentivo para expansão na capacidade principalmente de módulos, e em especial na China, líder no fornecimento, o que no cenário de longo prazo pode provocar desequilíbrio comercial para os fabricantes.
Para atender os projetos, destaca a análise, a capacidade de fabricação de módulos triplicou na China nos últimos dois anos, superando o 1 TW. Já no momento, porém, nem todas essas fábricas estão operando em plena capacidade, com taxas de utilização bem abaixo dos 100% em muitos casos. Globalmente, a consultoria estima que a ocupação das fábricas de módulos caíram de aproximadamente 70% em 2021 para menos de 40% em 2023.
Com expectativas de instalações solares globais anuais em torno de 350 GW para a próxima década, conclui o estudo, isso significa que apenas a China conseguiria atender a quase três vezes a demanda global. Como resultado, o excesso de oferta chinês, que já levou os preços dos módulos a mínimas recordes em 2023, pode impactar no médio prazo até mesmo nações com barreiras comerciais mais rígidas, caso da Índia e dos Estados Unidos, com seu IRA em implantação inicial. Isso pode inviabilizar novas fábricas de módulos pelo mundo e tornar mais difícil a sobrevivência comercial das já existentes, ainda mais ao se considerar que a maioria dos fabricantes depende de polissilício, wafers e células produzidas na China.
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