Por Denis Pineda
O ano novo de 2020 trazia perspectivas relativamente positivas para o mercado brasileiro. Tínhamos a frente um cenário de crescimento econômico e um aumento de demanda da produção industrial. Segundo o relatório Sondagem Industrial, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a perspectiva inicial era que o setor ultrapasse a barreira dos 70% de crescimento.
Este cenário, associado a um crescente índice de confiança dos industriais brasileiros, desenhavam um bom ano, como não víamos desde 2012/2013, para a indústria de automação. Esperávamos então, que os principais drivers para a mudança seriam a falta de mão-de-obra qualificada e uma pressão para aumento de eficiência produtiva.
E então, veio a pandemia e tivemos que nos adaptar a uma realidade totalmente nova. As profundas mudanças de hábitos que estamos vivendo e que, a meu ver - vieram para ficar total ou parcialmente - afetaram não apenas o consumo, mas também a maneira que a indústria enfrenta os desafios de flutuação. Em nosso caso específico, a alta cambial teve um efeito impactante: aumento de todos os equipamentos importados, o que além dos cobots inclui muitos outros itens utilizados na automação de ponta.
Além disso, pudemos notar o aumento na busca de soluções de outras dores de nossos clientes, como a flexibilidade e aplicações de distanciamento social dentro do chão de fábrica. Nessa gangorra, o custo da automação subiu, mas subiu também o interesse por tais soluções. Acredito que em um prazo de 6 a 12 meses, com dólar estabilizado entre R$ 5-R$ 5,50 segundo último relatório FOCUS o mercado terá valores consolidados no que tange equipamentos para automação, fomentando de maneira mais competitiva todo o mercado.
Vale ressaltar que agora o foco, mais do que nunca, é segurança e flexibilidade. Em primeiro lugar, temos a segurança das pessoas, o que tem sido o nosso ponto de partida para qualquer reunião de automação. Isso porque nossas soluções podem ajudar a aumentar a distância entre operadores para garantir distanciamento social dentro da operação.
Já a flexibilidade tem sido um ponto alto para a procura dos cobots, já que o mercado está muito mais propenso a enfrentar fortes variações, devido a problemas que tendem a ocorrer em toda a cadeia de suprimentos. Além disso, esse ponto se combina com a questão da segurança, isso porque será necessário repensar layouts para ter operadores mais distantes uns dos outros, o que exige linhas mais flexíveis para absorver variações bruscas de demanda e/ou pessoal disponível para rodar operações.
Quando automação é de ponta a ponta ou hard automation, em geral, as linhas são menos flexíveis. Ganha-se flexibilidade justamente combinando homens e robôs, estes executando as tarefas repetitivas e as pessoas executando as tarefas mais cognitivas e que exigem mais destreza.
Falando de mercado, ao olhar os relatórios de produtividade da indústria, divulgados mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há segmentos que vem ganhando força e indicando um aumento importante de demanda. Alguns alimentos (3,3%), medicamentos (4,7%), produtos de limpeza e higiene pessoal (6%) estão entre os principais players de aumento.
Para estas indústrias, além dos desafios acima, felizmente é necessário produzir ainda mais, e para isso, a automação é a resposta para melhorar eficiência dos processos. Suponhamos, então, que uma fábrica precise aumentar muito a produção rapidamente para suprir uma maior demanda. Nesse caso, é possível identificar as etapas que precisam ser otimizadas e então adaptar o uso dos robôs nelas.
Um cobot que antes era usado para paletização pode ser inserido no empacotamento com uma mudança de aplicação que é significativamente mais simples, mais rápida e com menor quando comparado a robótica convencional.
Com tudo isso, a lição que fica é que os cobots são comprovadamente a grande ferramenta para auxiliar as pessoas e executar tarefas perigosas, não ergonômicas ou que exponham as pessoas a riscos indesejados. Quem automatizar pelas razões certas, sofrerá menos as intempéries do mercado.
Foto: Shutterstock
Denis Pineda é gerente regional da Universal Robots na América Latina, empresa dinamarquesa líder na produção de braços robóticos industriais colaborativos.
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