Por Cris Ulbrich*


 

Quando o assunto é manufatura aditiva, o grande desafio dentro do ambiente industrial brasileiro prevalece: encontrar fornecedores, equipamentos e materiais adequados para aplicações cada vez mais específicas, dentro de um orçamento enxuto, numa tarefa que envolve convencer a gerência e principalmente, garantir o retorno assertivo deste investimento no curto prazo.

Nos últimos 25 anos, tenho atuado nesse mercado assumindo vários papéis: sou sócia e fundadora da empresa UP3D, fui pesquisadora em uma multinacional norte-americana, atuei como coordenadora de projetos, professora de pós-graduação e estudante de pós-doutorado. Por isso, convido o leitor interessado na questão a explorar os principais pontos que envolvem esse universo. Então, vamos lá!

Segundo estudo recente, o mercado global de impressão 3D foi avaliado em US$ 13,78 bilhões em 2020 e deve expandir-se a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 21,0% de 2021 a 2028 (grandviewresearch.com/industry-analysis/3d-printing-industry-analysis).

Já o mercado brasileiro mostra-se ainda pequeno diante desses números. O estudo da Univdatos “Global Market Insights on 3D Printing Technology 2019-2025” projetou para o Brasil o patamar de US$ 158,3 milhões para 2025, com uma taxa de crescimento CAGR de 10,7%.

Se você está envolvido ou é o responsável pela manufatura aditiva na sua empresa, vou deixar aqui algumas dicas sobre os principais insights que você deve manter no radar e que influenciarão as próximas demandas do mercado de manufatura aditiva no ambiente industrial:

Tecnologias como FDM prometem novidades para o próximo ano devido às atividades agressivas de pesquisa e desenvolvimento realizadas por especialistas da indústria e que devem abrir oportunidades para várias outras tecnologias eficientes e confiáveis.

As pequenas empresas estão, cada vez mais, ofertando ao mercado o conceito de fábricas de impressão 3D para diversificar suas operações comerciais. Apesar de a impressora industrial ser a grande responsável pelo faturamento do mercado, pequenas empresas devem continuar fazendo investimentos em seus parques de impressão.

O objetivo é atender a demanda crescente para a produção terceirizada de peças e componentes de acordo com os projetos e requisitos fornecidos pelos clientes. Ou seja, uma só impressora 3D não basta. Além de máquinas amigáveis, é preciso investir no gerenciamento dos trabalhos através dos conhecidos atributos da Indústria 4.0.

Além disso, o setor de educação, que compreende escolas, institutos de ensino e universidades, também está implantando impressoras e scanners desktop para treinamento técnico e fins de pesquisa. Aqui no Brasil, podemos citar o exemplo do Instituto Federal que fez um grande projeto de caráter nacional para implementar laboratórios makers em suas escolas.

Quando o assunto é software, sempre é bom ficar de olho nas demandas relacionadas à criação de desenho, inspeção, impressão e digitalização. Esse último continua com destaque especial, principalmente quando observamos a alta demanda atual por scanners 3D. Isso ocorre devido à tendência crescente de digitalização de objetos e armazenamento de documentos digitalizados.

O setor de aplicações é o que mais merece nosso envolvimento, já que é aqui que concentramos a maior parte dos esforços do ambiente industrial (automotivo, aeroespacial, saúde e peças funcionais). Já o segmento de prototipagem tem liderado o mercado devido à sua ampla adoção do processo de prototipagem em vários setores da indústria. Mas, o mercado de saúde também está em evidência no Brasil (fábricas estão aprimorando seus processos industriais, além do interesse crescente dos profissionais de ortopedia e odontologia pelo assunto).

Todas as aplicações da manufatura aditiva estão diretamente relacionadas ao mercado de materiais (metais e fibras reforçadas prometem!). O segmento de polímeros é responsável pela segunda maior participação do mercado, uma vez que o segmento de metais tem liderado o ranking e deve continuar cada vez mais em evidência. Já o segmento de fibras e materiais compósitos (que permitem a fabricação de peças funcionais com atributos relacionados à resistência mecânica, térmica e química) deve continuar entregando resultados muito interessantes no próximo ano.

Nosso radar tecnológico também precisa estar antenado no que acontece lá fora. A América do Norte tem dominado o mercado devido à ampla adoção da manufatura aditiva na sua região, pois eles foram os primeiros a adotá-la em vários processos de fabricação. Por outro lado, a Europa é o lar de várias indústrias participantes da indústria de manufatura aditiva devido ao seu forte conhecimento técnico. Já a região da Ásia-Pacífico também está emergindo como um centro de manufatura para as indústrias automotiva e de saúde.

Além disso, jamais deixe de lado, aspectos relacionados a direitos autorais, licenciamento e patenteamento de produtos e serviços. Existem oportunidades infinitas para todas as áreas de conhecimento. Contudo, tenha certeza, que todos os cuidados foram tomados para não infringir os direitos de ninguém.

Agora que você já sabe quais são os principais pontos para avaliar sobre a manufatura aditiva no ambiente industrial, considere a melhor maneira de apresentar a sua demanda na hora de convencer a diretoria sobre em qual tecnologia deve-se investir. Porque falar sobre tecnologia significa também falar sobre o profissional do amanhã que você quer ser, levando em conta suas demandas de capacitação técnica, atributos pessoais e expectativas para o futuro. Mas isso é conversa para outro dia.

Até a próxima!

 

Cristiane Brasil Lima Ulbrich, pós-doc, doutora e mestre em Engenharia Mecânica pela Unicamp, é sócia-fundadora da UP3D, empresa especializada em manufatura aditiva.

(cris.ulbrich@gmail.com)

 

foto: UP3D (protótipo pra validação de um bloco de motor)



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