O setor de reciclagem de PET enfrenta este ano um dos maiores desafios para a manutenção das suas atividades. A pandemia da Covid-19 trouxe consequências como a queda na coleta e as dificuldades decorrentes do necessário isolamento social, as quais são comuns a toda a indústria.
Não fosse a pandemia, o setor certamente estaria crescendo, a julgar pelos resultados do 11º Censo da Reciclagem de PET, elaborado pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). De acordo com o estudo, em 2019 o Brasil reciclou 55% das embalagens de PET descartadas pela população. O volume equivale a 311 mil toneladas do produto – 12% acima do registrado em 2018 –, que geraram um faturamento de mais de R$ 3,6 bilhões, valor correspondente a 36% do faturamento total do setor do PET no Brasil.
A pesquisa é feita com a participação de 160 empresas de todo o País. O grupo está dividido entre recicladores (22%); aplicadores (ou transformadores), que são as empresas que adquirem e utilizam o PET reciclado em seus produtos (70%); e integrados, que fazem a reciclagem e também utilizam o material na fabricação de itens que retornam ao mercado (8%).
“O crescimento verificado em 2019 é reflexo do fortalecimento da economia circular, composta por uma indústria diversificada, que utiliza o PET reciclado em seus produtos. A criação dessa cadeia, ao longo de 20 anos, resulta em uma demanda consistente, que cria valor para a reciclagem do PET”, afirmou Auri Marçon, diretor executivo da Abipet.
De acordo com o executivo, o desempenho brasileiro é superior ao de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo, que reciclam 29% de suas embalagens PET. Ou mesmo a União Europeia que, apesar de coletar 58,2% do PET pós-consumo, não recicla o material e envia boa parte dele para ser processado em países mais pobres. O Brasil é um líder mundial em diferentes aplicações para o PET reciclado, o que gera demanda pelo produto, revertida em faturamento e renda para diversos segmentos da sociedade.
Os principais consumidores/aplicadores de PET reciclado no Brasil são os fabricantes de pré-formas e garrafas, com 23% do total, no processo conhecido como bottle to bottle, principalmente em decorrência do aumento da produção de embalagens de grau alimentício (food grade), que nos últimos anos apresentou uma grande evolução tecnológica. Em seguida vem a indústria têxtil (22%), laminados e termoformados (bandejinhas) (17%), setor químico (15%) e fitas de arquear (10%). Outras aplicações respondem pelo uso dos 10% restantes do PET reciclado.
O Censo da Abipet também identificou que, devido às limitações no sistema de coleta, as empresas de reciclagem trabalham, em média, com ociosidade superior a 30%. Isso significa que, em razão de investimentos já realizados, a indústria está pronta para absorver um eventual crescimento da reciclagem nos próximos anos.
Para o Executivo da instituição, no entanto, esse aumento só virá a partir da construção de grandes centros de triagem para separar materiais recicláveis, do aumento da coleta seletiva e do número de cooperativas de catadores. “Somente essas iniciativas, associadas ao descarte correto feito pelos cidadãos, serão capazes de abastecer as linhas de reciclagem. Precisamos impedir que as embalagens continuem sendo enterradas em lixões e aterros, resultando em um desperdício de matéria-prima que poderia ser muito útil à sociedade, gerando emprego, renda e, obviamente, preservando o meio ambiente”, concluiu Auri.
2020, um desafio
A dificuldade que a pandemia de Covid-19 gera, tanto para a coleta de materiais como para a demanda por produto reciclado, representa o principal desafio para que o Brasil mantenha a curva de crescimento da reciclagem do PET verificada nos últimos anos. A atividade acelerou em 2019 e retornou ao patamar de 2014, antes da crise sanitária/econômica.
As precauções tomadas em relação ao risco de infecção pelo coronavírus, porém, têm como consequência a redução da coleta, a possível interrupção da atividade dos catadores, cooperativas e comerciantes de recicláveis (sucateiros). Isso tudo mesmo diante de um cenário de aumento do desemprego, que pode levar parte da população a essa atividade de subsistência.
A situação é menos crítica entre os recicladores. No caso do PET, devido a sazonalidades normais dentro da cadeia, as empresas formam estoque de matéria-prima suficiente para um ou dois meses de atividade. Além disso, alguns segmentos consumidores do PET reciclado vêm diminuindo a demanda pelo produto utilizado em seus produtos, como é o caso de setores como têxtil, químico, forrações e peças automotivas e para construção civil.
Por ser uma commodity internacional, o PET tem seu mercado orientado pelo preço do petróleo no mercado mundial, cuja oscilação recente tem levado à redução do valor da resina virgem perante o reciclado. Embora a atual taxa de câmbio compense boa parte dessa queda, isso pressiona para baixo o preço do material reciclado, que historicamente não tem tanta flexibilidade para redução, porque já trabalha com margens baixas, tanto na etapa da coleta como na atividade industrial.
Gráfico: Abipet
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