A reciclagem mecânica dos polímeros é uma técnica consolidada, mas frequentemente enfrenta desafios relacionados à composição dos materiais a serem reprocessados. Insumos como a borracha vulcanizada continuam a ser um desafio para a destinação correta de resíduos. Porém, as cientistas e pós-doutoras em Química Carla Fonseca e Silmara Neves (foto ao lado) conseguiram desenvolver aditivos que permitem a sua recuperação.
Ambas trocaram a carreira acadêmica para empreender no meio industrial com a criação da IQX, uma empresa de base tecnológica que desenvolve aditivos químicos para melhorar a reciclabilidade de plásticos e borrachas. A empresa atua em duas frentes: uma voltada para reciclagem e recuperação e outra dedicada a atribuir funcionalidades específicas aos materiais plásticos, tais como propriedades antivirais e bactericidas, ou condutividade, por exemplo.
Dentre os desenvolvimentos mais recentes está um agente que permite a regeneração de compostos termofixos de alto valor, a exemplo da borracha nitrílica. As pesquisadoras chegaram a um aditivo que enfraquece as ligações sulfídicas presentes nesses compostos e promove a recuperação da sua flexibilidade, além de eliminar odores desagradáveis. Isso permite que sobras de borracha da indústria calçadista, por exemplo, sejam reaproveitadas como insumo original, e não apenas como carga (imagem acima). “O material, inclusive, precisa de uma nova vulcanização”, esclareceu Silmara.
Questões de gênero
Um obstáculo que as pesquisadoras não enfrentaram na academia, mas perceberam no meio empreendedor industrial foi a questão de gênero, especialmente no setor de borracha. Silmara relatou ter enfrentado barreiras na efetivação de projetos e negócios devido ao fato de a IQX ser uma empresa criada e comandada por mulheres. Ela conta que o regionalismo também pesou em muitos casos, mas encontrou ambientes favoráveis em empresas como a Amazonas, do setor calçadista, para a qual prestou consultoria entre os anos de 2016 e 2017. “Já no setor do plástico há muitas mulheres em posição de liderança; o setor é bem menos sensível à questão de gênero”, avaliou.
Sucesso no desenvolvimento de aditivos
A experiência na área de Materiais, especialmente os poliméricos, permitiu que as empreendedoras desenvolvessem em tempo recorde, menos de três meses, um aditivo capaz de inativar o coronavírus, no período mais intenso de pandemia. Outro destaque foi a criação do IQX Flex, para a compatibilização de resinas termoplásticas destinadas à reciclagem, que permite a recuperação de filmes com estruturas multicamadas, a exemplo do PA/EVOH/PE e mesmo os metalizados (PE/metal/PE). “Sem dúvida um dos principais desafios enfrentados na reciclagem de plásticos é a mistura de materiais. Nosso objetivo é melhorar a qualidade do reciclado utilizando tecnologias, no caso aditivos, que agreguem valor ao produto reciclado”.
Em 2022/23, a empresa desenvolveu uma solução de reciclagem para embalagens flexíveis multicamadas validada pela Boomera Ambipar, que possibilitou uma melhor compatibilidade entre materiais destinados à reciclagem mecânica. “Criamos um produto de alta performance, oferecendo aos nossos clientes uma solução tecnicamente muito interessante e talvez até inédita” - explicou o CEO da Boomera Ambipar, Guilherme Brammer.
A IQX integra hoje a Rede pela Circularidade do Plástico e foi pioneira em iniciativas em favor da Economia Circular do Plástico.
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Imagens: IQX
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