Mariana Landim Silveira Lima, José Renato Santos do Amaral Cardoso, Rosemar Batista da Silva, Luciano José Arantes, Antonio Vitor de Mello, Fabio Martinho Cezar de Freitas
Data: 01/09/2017
Edição: FS Setembro 2017 - Ano 27 - No 295
Compartilhe:Em geral, o processo de retificação é a última etapa da produção de uma peça, de modo que qualquer desconformidade pode significar a perda do produto e gerar grandes prejuízos.
No entanto, ainda há poucos estudos que avaliam de maneira estatística as relações entre os parâmetros de corte e os resultados desejados, pois são muitas as variáveis envolvidas neste ciclo e os ensaios experimentais demandam tempo. Ademais, na maioria das vezes eles são mais onerosos que os processos convencionais de usinagem, com a ferramenta de geometria definida.
Dessa forma, torna-se necessário identificar as variáveis do processo que mais afetam a integridade da superfície e os desvios dimensionais das peças. Assim, um trabalho investigativo nesta área é de grande importância.
As principais grandezas físicas envolvidas nas operações de retificação plana tangencial são apresentadas a seguir e ilustradas na figura 1:
vs = velocidade periférica do rebolo (m/s)
vw = velocidade periférica da peça (mm/s ou m/min)
ap = profundidade de usinagem (mm)
ae = penetração de trabalho (mm)
lc = comprimento de contato rebolo/peça (mm)
Heq = espessura de corte equivalente ou espessura da camada de material arrancado pelo rebolo (mm)
No que se refere à penetração de trabalho, quando ela aumenta, provoca um acréscimo no número de grãos ativos e no tempo de contato. Isso faz com que cada grão abrasivo remova uma quantidade menor de material, resultando em cavacos mais alongados e finos.
Ressalta-se que há uma maior parcela de atrito e riscamento, desde o início da formação do cavaco até a sua expulsão, o que eleva a temperatura na região de corte e, consequentemente, deteriora o acabamento.
Embora a maioria dos trabalhos aborde a retificação de aços, ainda são poucos os estudos que tratam dos ferros fundidos. Estes são os principais materiais utilizados na fabricação de componentes de motores de combustão interna, como blocos, cabeçotes, eixos de comando de válvula e virabrequins.
Suas propriedades mecânicas são definidas pela microestrutura, mais precisamente pela forma em que o carbono encontra-se combinado.
O ferro fundido é definido como uma liga terciária de ferrocarbonosilício, com teores de carbono geralmente acima de 2%, em quantidade superior ao que pode ser retido em solução sólida na austenita.
Além disso, o carbono resultante pode se apresentar parcialmente livre, na forma de veios ou então em lamelas de grafita.
A maioria dos ferros fundidos contém silício, entre 1% e 3%, e enxofre, podendo ou não apresentar outros elementos de liga.
Até a década de 1990, os ferros fundidos eram divididos em quatro classes: cinzento, maleável, gosidade e as imagens da superfície de amostras de ferro fundido verbranco e nodular.
A partir de 1999, uma nova classe começou a ser produzida: o ferro fundido vermicular.
Ele vem ganhando cada vez mais espaço na indústria automobilística, sendo atualmente utilizado na produção de blocos de motores, discos de freio, cabeçotes de cilindros e coletores de escapamento (figura 2).
Nos ferros fundidos vermiculares, a grafita apresenta-se predominantemente na forma de vermes, sendo interconectada com as extremidades arredondadas na forma de nódulos. Isso confere ao material uma boa resistência mecânica, tenacidade, resistência à fadiga, amortecimento e condutividade térmica.
O ferro fundido vermicular reúne propriedades intermediárias em relação ao ferro fundido cinzento e nodular (tabela 1), tendo mais vantagem em relação ao primeiro, com destaque para o aumento de 75% no limite de resistência, 40% no módulo de elasticidade e 80% na resistência à fadiga.
Nesse sentido, este trabalho apresenta os resultados da rugosidade e as imagens da superfície de amostras de ferro fundido vermicular, que foram retificadas com rebolo de carbeto de silício em várias condições de corte.
Ressalta-se que o acabamento superficial exerce um papel importante no comportamento dos componentes mecânicos, estando relacionado com a precisão de ajuste da máquina, condições de usinagem e tolerâncias de fabricação, que são especificadas de acordo com a aplicação da peça usinada.
Neste trabalho, foi usada uma retífica plana modelo P36, com 2.400 rpm, 3 HP e resolução no eixo Z de 5 μm (figura 3).
A ferramenta de corte utilizada foi um rebolo convencional de carbeto de silício (SiC), com especificação 39C46KVK (da Saint-Gobain Abrasivos) e as seguintes dimensões: 254 x 25 x 76 mm.
Foi selecionado o fluido de corte sintético de base vegetal ME-3, em solução aquosa na proporção de 1:20.
O bocal foi posicionado de forma tangente ao rebolo, a uma vazão de 545 L/h (figura 4).
A peça foi fabricada no ferro fundido vermicular FV450, em formato de barra retangular, com base quadrada e dimensões de 49 x 18 x 19 mm.
Na tabela 2, são apresentadas algumas das principais propriedades do ferro fundido vermicular.
Foram empregados os seguintes parâmetros de corte: velocidade periférica do rebolo (vs) de 32 m/s, svelocidade longitudinal da peça (vw) de 10 m/min, profundidade de wdressagem (ad) de 10 μm, e dois dvalores de penetração de trabalho (ae): 15 e 30 μm.
Foram realizados quatro ensaios, incluindo a réplica.
O critério para o fim de cada ensaio foi um volume de material removido de 55,86 mm3. As variáveis de saída utilizadas foram os parâmetros de rugosidade (Ra e Rz) e as imagens das superfícizes usinadas.
A medição dos parâmetros da rugosidade foi realizada com o auxílio de um rugosímetro portátil, modelo SJ201P (da Mitutoyo), com resolução de 0,01 μm.
Os resultados médios para os parâmetros de amplitude, rugosidade aritmética (Ra) e rugosidade total (Rz), são apresentados nas figuras 6 e 7, respectivamente.
Estes valores foram obtidos após quatro passes, com penetração de 15 μm, ou dois passes, com 30 μm, totalizando 60 mm ao final de cada ensaio.
Na figura 9, são apresentadas as superfícies do ferro fundido vermicular retificadas para as diferentes condições de corte. Essas imagens se referem ao ensaio principal e réplica, para a menor penetração de trabalho.
Observa-se que as marcas de avanço dos grãos são semelhantes.
Nota-se também a presença de algumas áreas com deformações plásticas e de fluxo lateral de material, causado pelos abrasivos, mas que ainda assim não elevaram a rugosidade para valores acima de 1,6 mm.
Além disso, é importante ressaltar que não foram observadas trincas perpendiculares à superfície nas amostras, nem a presença de queimas de aspecto visual.
A figura 9 mostra ainda o ensaio principal e a réplica, para a maior penetração de trabalho.
De forma análoga para a menor penetração, as marcas de avanço nos dois ensaios são bem parecidas, com riscos visíveis ao longo da direção de avanço da ferramenta.
Ao comparar as duas imagens da figura 9 (cujas escalas são as mesmas) é possível observar que as marcas longitudinais nas superfícies das primeiras são mais largas e não apresentam a mesma continuidade, como aquelas após a usinagem com a menor penetração de trabalho.
Esta diferença já era esperada, pois à medida que se aumenta a penetração de trabalho na máquina-ferramenta, os grãos também penetram mais na peça, refletindo na rugosidade.
O parâmetro R foi mais sensível a zesta alteração, que detecta os vales mais profundos em todo o comprimento de amostragem selecionado.
As seguintes conclusões podem ser tiradas deste trabalho: