H. Polzin
Data: 20/03/2003
Edição: FS Março 2003
Compartilhe:
A combinação das propriedades do ferro fundido nodular, cujos valores da resistência à tração e alongamento à ruptura têm tendência oposta, é conhecida e pode ser ajustada por meio da microestrutura da matriz.
Altas resistências à tração implicam em um baixo alongamento à ruptura e requerem uma microestrutura com matriz perlítica. Quando é necessário um valor alto de alongamento à ruptura, além da resistência, deve-se assegurar a realização de uma microestrutura com matriz ferrítica e, conseqüentemente, com menores valores de resistência.
Estas propriedades são obtidas por meio de medidas metalúrgicas, assim como por condições apropriadas de resfriamento.
Caso exista a necessidade de produzir a classe de ferro fundido nodular ferrítico EN-GJS-40018U-LT, as propriedades mecânicas solicitadas devem ser comprovadas com o alcance do valor mínimo de resiliência.
Eventualmente, a fabricação do ferro fundido nodular pode apresentar dificuldades quando destinado à produção de peças com espessura de parede grossa, em razão do desvanecimento do agente do tratamento de modificação, o que ocorre com o tempo.
Os motivos para isso são os longos tempos de solidificação necessários nas áreas mais grossas da peça fundida, nas quais podem ocorrer falhas na microestrutura, como a formação de nódulos de grafita. Isto pode acontecer em razão do desvanecimento do efeito do tratamento com magnésio e por causa do efeito de elementos residuais perturbadores.
O tratamento de inoculação inadequado e os problemas de alimentação também podem gerar falhas.
Os subtítulos a seguir apresentarão algumas informações relativas a este assunto e presentes na literatura. Neste caso, serão destacadas as publicações que dão maior importância à fabricação de peças em ferro fundido nodular ferrítico com espessura de parede grossa.
A garantia da qualidade metalúrgica requerida começa com a escolha correta dos materiais da carga para a fusão do ferro.
Os elementos que compõem o ferro-gusa, a sucata de aço e o material do circuito de retorno devem ser conhecidos, ao passo que os teores máximos dos elementos residuais precisam ser controlados, de modo a não influenciar negativamente a formação da matriz da microestrutura e/ou a morfologia dos nódulos de grafita.
No caso do ferro-gusa, deve-se garantir o mínimo enxofre e fósforo[1]. A sucata de aço, por sua vez, deve conter o menor teor possível de elementos perturbadores.
Neste contexto, pode-se indicar, entre outros, o chumbo, o antimônio, o bismuto, o boro, o telúrio, o arsênio e o titânio[1, 2]. A utilização de sucata coletiva ou sucata mista deve ser absolutamente evitada.
Com relação aos elementos que acompanham o ferro na fabricação do ferro fundido nodular ferrítico, é importante que os teores dos elementos formadores de perlita, como o manganês, sejam os mais baixos possíveis. Alguns autores[1] indicam um valor limite de 0,25%, enquanto outros indicam valores ainda menores.
Com relação à carga do material do circuito de retorno, é possível evitar problemas de qualidade utilizando um material do mesmo tipo do que será fundido.
Com relação à análise de orientação, a literatura somente dispõe de valores relativamente grosseiros, pois eles dependem fortemente do peso e da geometria da peça fundida, assim como das condições de resfriamento. A tabela 1 apresenta um resumo com algumas sugestões a respeito deste assunto.
O grau de saturação deve ficar um pouco abaixo de 1 em peças com espessura de parede grossa, enquanto as peças com menor espessura de parede são fabricadas com SC > 1.
Como o teor de silício deve ser reduzido à medida que a espessura de parede aumenta, em razão dos seus efeitos nocivos de segregação e degeneração da grafita, o teor de carbono do ferro também precisa ser alterado, para atender a um grau predeterminado de saturação.
A inoculação é um dos passos mais importantes da fabricação do ferro fundido nodular.
Um grande número de publicações comprova a grande relevância do ajuste dos núcleos de germinação no banho fundido e, portanto, da preservação de uma conformação específica da grafita e da matriz da microestrutura.
As dificuldades da fabricação de peças fundidas com espessura de parede grossa decorrem do fato de que o tratamento de inoculação depende da temperatura e é limitado principalmente pelo tempo.
No caso da fabricação de ferro fundido nodular, a escolha correta do processo de tratamento com magnésio é decisiva para o nível de qualidade, a viabilidade econômica e o decorrer da produção.
Normalmente, devem ser seguidos três passos para se alcançar tanto a conformação esférica da grafita, quanto a microestrutura desejada da matriz:
O efeito dos elementos secundários e dos residuais é uma questão muito complicada, que já preocupou vários autores pela sua importância.
R. Deike[10], por exemplo, analisa de modo abrangente o princípio do efeito de elementos residuais sobre a solidificação do ferro fundido.
As segregações são falhas de fundição provocadas pelo efeito de elementos secundários. De acordo com S. Hasse[14], o molibdênio, o titânio, o vanádio, o cromo, o manganês e o fósforo, em especial, tendem a formar segregações no metal fundido residual.
A flotação da grafita é um sintoma conhecido de falha de fundição em peças manufaturadas em ferro fundido nodular com espessura de parede grossa que, conseqüentemente, solidificam de forma lenta, caracterizando-se por uma acumulação de nódulos de grafita nas zonas do material que solidificam por último.
Estes fenômenos de separação da mistura são causados por teores demasiadamente altos de carbono e silício, sendo o motivo dos baixos valores da resistência à tração e do alongamento à ruptura.
Em um de seus trabalhos[2], S. Hasse apresenta os valores que orientam as porcentagens de carbono e silício. No caso de paredes com espessura inferior a 25 mm, aconselha-se os teores de 3,7% de carbono e 2,8% de silício, recomendando-se 3,6% de carbono e 2,1% de silício para espessuras de parede acima de 50 mm. No entanto, quando se trabalha com espessuras de parede maiores (em torno de 300 mm), deve-se reduzir ainda mais estes números.
Com a finalidade de evitar a flotação da grafita, recomenda-se controlar o silício introduzido no banho fundido com o uso do agente de inoculação[16].
Para alcançar uma morfologia favorável de precipitação, os autores recomendam a adição de 0,1% de metais de terras raras no banho fundido. Além disso, a utilização de um agente de inoculação que garanta uma quantidade suficientemente grande de germes de nucleação da grafita, pode evitar a formação de nódulos primários grandes.
O último ponto muito importante na prática é o vazamento em baixas temperaturas e a realização de uma alta velocidade de resfriamento.
A degeneração da grafita é entendida como uma divergência da precipitação da grafita esférica ideal, havendo a formação de lamelas de grafita em casos extremos.
As causas da degeneração da grafita podem ser de natureza diferente, destacando-se os elementos secundários (como o bismuto) na peça fundida ou na zona marginal, em virtude do sistema do material de moldagem com resina furânica, por exemplo.
As adições de agentes de inoculação com bismuto e metais de terras raras provocam falhas superficiais em forma de silicato e a degeneração da grafita abaixo da superfície da peça fabricada em ferro fundido nodular ferrítico[17]. Neste caso, utilizou-se um material de moldagem aglomerado com bentonita
O termo grafita do tipo chunky se refere a uma grafita modificada com granulação fina, fortemente clivada, que ocorre em peças fundidas com espessura de parede grossa[4].
A sua formação ocorre com a integração entre cério, cálcio, silício e níquel, entre outros. Assim, pode não ser indicado acrescentar mischmetal de cério, que normalmente é apropriado para compensar o efeito de elementos perturbadores sobre a formação da grafita nodular.
Segundo M. Gagne[21], a grafita tipo chunky é constituída de nódulos de grafita destruídos nas áreas dos centros térmicos de peças feitas em ferro fundido nodular com espessura de parede espessa.
O autor dessa matéria atribuiu as causas da degeneração da grafita ao carbono equivalente demasiadamente alto e às temperaturas de vazamento muito baixas.
Além disso, também confirmou-se o efeito inibidor de elementos como o antimônio, o estanho e o cobre sobre a formação da grafita tipo chunky, assim como a possibilidade de compensação por meio da adição controlada de cério.
Na referência bibliográfica 15, recomenda-se um carbono equivalente entre 4,2 e 4,4, com o objetivo de evitar a formação da grafita tipo chunky com teores de silício entre 2,0% e 2,2%. Assim, a origem deste tipo de grafita pode ser suprimida com o acréscimo de elementos como o antimônio, o chumbo, o cobre e o estanho.
Esta adição pode ser realizada por meio da inoculação retardada ou durante a solidificação controlada, empregando-se coquilhas de resfriamento, por exemplo.
As altas concentrações de cério, cálcio, silício e níquel também causam a formação de grafita tipo chunky, embora o papel mais nocivo seja atribuído ao cério[22].
As experiências práticas aqui apresentadas e discutidas se referem à fabricação de peças em ferro fundido nodular ferrítico classe ENGJS-400-18U-LT, com peso em torno de 10.000 kg e espessuras de parede de 300 mm a 400 mm.
Ao determinar a carga, é necessário verificar se a fundição em pauta já produziu peças de tipos puramente ferríticos (especialmente da classe EN-GJS-400-18U-LT), isto é, se existe material do circuito de retorno da mesma classe.
Considerando-se que é bem possível que o material do circuito de retorno de outros tipos de ferro fundido contenha elementos perturbadores e formadores de perlita, é imprescindível evitá-lo.
Para reduzir o enriquecimento de elementos residuais e perturbadores, é recomendável utilizar uma carga inicial de 70% a 80% de ferrogusa Sorel do tipo RTF 10 e de 20% a 30% de sucata de chapas para repuxo profundo.
O ferro-gusa Sorel destaca-se por ter baixos teores de manganês, fósforo e enxofre. Além disto, o fabricante garante teores muito baixos de elementos secundários.
O emprego da sucata de retalhos de repuxo profundo, por sua vez, garante uma qualidade constante do material sem teores de liga, o que é especialmente importante, pois na produção de peças de ferro fundido nodular da classe EN-GJS400-18U-LT, os teores de elementos residuais devem ser mantidos os mais baixos possível.
Apesar de uma carga deste tipo ser naturalmente muito dispendiosa, não se deve ter receio de empregála no início da produção deste material de fundição. Com isto, é produzida uma base sólida de partida para a produção de um ferro puro que satisfaz as exigências solicitadas.
Adicionalmente, pode-se obter com o tempo um volume de material do circuito de retorno do mesmo tipo, cuja utilização em lotes usuais de 30% a 40% no material da carga possibilita uma economia considerável de custos.
No decorrer da produção, é necessário observar detalhadamente os teores crescentes de elementos secundários, residuais e perturbadores, para poder reagir imediatamente em caso de enriquecimentos inadmissíveis. Isto vale especialmente para empresas que também produzem materiais ligados junto com materiais sem liga.
Os elementos de liga que normalmente produzem propriedades positivas, como por exemplo o cromo, o níquel e o molibdênio, exercem mais influências negativas sobre o ferro fundido nodular ferrítico. A formação da grafita tipo chunky nas áreas de maior espessura de parede é um possível efeito dos elementos perturbadores acumulados.
Entre os muitos processos de tratamento de banhos de ferro fundido com magnésio, o processo sanduíche é, provavelmente, um dos mais praticados pelo fabricante de peças fundidas moldadas manualmente, pois garante um bom resultado com recursos relativamente pequenos. Isto ocorre apenas quando este processo, aparentemente à prova de erros, é manobrado de modo apropriado.
Os cuidados devem começar na preparação, manutenção e no tratamento da panela. Além disso, o bolso no fundo da panela deve ser controlado e conservado. Adicionalmente, deve-se verificar até que ponto a câmara de reação fechou em razão do acúmulo de escória.
Durante a reação da liga mestre, é necessário manter a selagem apropriada da câmara. A cobertura da liga nodulizante com placas de ferro fundido (produzidas em ferro residual da mesma classe) e a vedação adicional com cavaco possibilitam um melhor adiamento da reação do magnésio. Por causa da fusão lenta da placa de cobertura, pode-se registrar uma reação calma durante e após o seu início.
Ao escolher o agente nodulizante, deve-ser observar se o produto não tem cério, para evitar as desvantagens já mencionadas sobre a formação da microestrutura. Teores de magnésio de 10% ou mais também devem ser evitados quando possível, pois a reação torna-se mais violenta e o resultado é pior.
A liga mestre VL 63 (O) é utilizada com bons resultados (tabela 6). O produto indicado é isento de cério, sendo uma possibilidade para o tratamento de nodulização do ferro fundido nodular classe EN-GJS-400-18U-LT.
O rendimento do magnésio depende das condições locais e deve ser controlado com medições executadas após a nodulização, antes do vazamento e na análise final. O tratamento com magnésio desvanece com o tempo, sendo, por este motivo, recomendada a determinação de um tempo máximo, após o qual o ferro não deve mais ser vazado.
Como as peças com espessura de parede grossa solidificam em um intervalo de tempo mais longo – parcialmente, no decorrer de várias horas a tecnologia de inoculação também deve ser melhor adaptada a estas condições.
Conforme mencionado, a inoculação deve ocorrer no tempo mais próximo possível do vazamento do molde, para prolongar a vida útil de seu efeito.
A fabricação de peças manufaturadas em ferro fundido nodular ferrítico com paredes grossas coloca exigências especiais para a técnica utilizada.
Uma possível maneira de produzi-las com sucesso é empregar materiais de carga puros, sem elementos secundários nocivos. Isto também deve ser garantido no ferro-gusa, na sucata de aço e no material do circuito de retorno, assim como nas ligas mestres de magnésio e nos agentes de inoculação.
Não se recomenda a neutralização dos elementos perturbadores, realizada com a utilização de antídotos (por exemplo, a supressão de efeitos nocivos de bismuto com a adição de cério). Eventualmente, deve-se tolerar apenas teores absolutamente necessários de elementos residuais nos agentes de inoculação.
Os passos dos processos de preparação da carga, fusão, modificação e inoculação devem ser acompanhados com muita atenção e as tecnologias devem ser controladas regularmente. Com a medição da resistência à tração, do limite de elasticidade, do alongamento à ruptura e da microestrutura metalográfica, a tecnologia de fundição aplicada pode ser controlada com eficácia.
Além do mais, ao determinar o valor da resiliência, o fundidor dispõe de um instrumento por meio do qual os efeitos nocivos dos elementos secundários podem ser reconhecidos e eliminados.