Rochelle Sanchez, da redação
Data: 28/10/2016
Edição: MM Outubro 2016 - Ano - 52 No 609
Compartilhe:Nos últimos dez anos, o Brasil deu um salto no que diz respeito ao emprego de robôs dentro da indústria. De acordo com o parecer de especialistas da área, o País avançou e um dos motivos seria a instalação de algumas indústrias de microeletrônica por aqui, o que levou ao barateamento dos componentes robóticos, tornando-os mais acessíveis aos pesquisadores e também para o cliente final. Entretanto, a caminhada ainda é longa.
Segundo informações do Núcleo de Robótica do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), de São Paulo, o cenário brasileiro atual tem a área industrial como foco de uma das principais linhas de desenvolvimento em robótica. Esta inclui essencialmente os chamados robôs autômatos que trabalham com pintura, soldagem, usinagem, fundição, montagem de carros e aviões, entre outras atividades, com alguma aplicação também na indústria alimentícia.
Neste caso, o conhecimento mais consolidado leva pesquisadores a direcionarem seus estudos para a ampliação da precisão desses robôs e para a maior facilidade em sua programação. O Brasil vem lutando para ter um custo favorável em relação ao que é feito lá fora. Especialistas têm sinalizado que a tendência é de aumento de investimentos na área de robótica, com o intuito de que a economia brasileira se torne mais competitiva pelo baixo custo alinhado à eficiência.
Ao que tudo indica, o avanço desse tipo de tecnologia deve criar um ambiente razoavelmente automatizado no chão de fábrica brasileiro nos próximos anos, contribuindo com a produtividade dos parques fabris. A expectativa aponta para uma nova revolução industrial. Com algumas medidas, este cenário pode até não estar tão distante assim.
De acordo com a Federação Internacional de Robótica (IFR), cerca de 265 mil unidades de robôs industriais foram vendidas em todo o mundo só em 2015. A estimativa é de que, até 2018, sejam instalados em torno de 1,3 milhão de robôs a nível mundial. Em seu balanço, a IFR (sigla em inglês) calcula que existem cerca de 10 mil robôs industriais em operação no Brasil. Este número deve dobrar, ultrapassando a marca de 18 mil, até o final de 2017.
Porém, no que diz respeito à utilização de robôs, ainda há uma relativa distância entre o Brasil e países como China, Estados Unidos, Alemanha e Japão. O País ainda não figura entre os primeiros lugares neste ranking (está na 12a posição, conforme figura 1, pág. 26) – um fator que, por outro lado, pode representar oportunidades de inserção no mercado nacional. No entanto, se comparado a outras nações com nível de desenvolvimento semelhante, é possível verificar uma evolução neste indicador.
Apesar dos avanços atuais, alguns gargalos impedem o País de crescer mais na fabricação e adoção da robótica. A infraestrutura é apontada pelo IMT como o principal limitador dos desenvolvimentos e, por consequência, da utilização. Além disso, há vários setores da cadeia produtiva que precisariam receber mais investimentos, tais como as áreas de circuitos, mecânica fina e mecânica de componentes de alta precisão. Estes facilitariam a fabricação em solo nacional.
Outros oito pilares são classificados como incrementadores de eficiência e fatores de inovação e sofisticação do negócio. Dentre eles, o destaque negativo vai para aqueles que reúnem os fatores ligados às eficiências dos mercados de bens e de trabalho, tais como a carga tributária, burocracia para abertura de negócios, as dificuldades impostas a exportadores e importadores, bem como os altos custos e a inflexibilidade.
O resultado dessas limitações é que muitos componentes precisam ser importados, o que encarece a pesquisa e o desenvolvimento e, em consequência, prejudica a competitividade da tecnologia criada no País. À medida que a economia cresce, o Brasil ganha condições para, a médio e longo prazo, alcançar o patamar essencial para o setor em benefício às indústrias interessadas na robótica.
Para os usuários, a importação também é um dos principais gargalos. A falta de peças fabricadas no Brasil dificulta a manutenção e a reposição de peças, por exemplo. De acordo com o IMT, ainda há trâmites legais de importação, o que significa que, mesmo quando há verbas disponíveis para a compra do material necessário para a manutenção, é preciso esperar de dois a três meses.
Uma das estratégias para tentar superar as difi culdades é o investimento em capital humano. As empresas estão buscando talentos e trabalhando em parceria com universidades. O IMT levanta que, pelo menos, a qualidade técnico-científica do Brasil já está, em alguns setores, à altura de outros países que iniciaram os investimentos em robótica antes. Conforme mencionado anteriormente, o instituto ressalta que o problema para o desenvolvimento e apoio aos usuários é financeiro ou de disponibilidade dos componentes aqui.
Além disso, a mão de obra qualificada também é um fator que viabiliza a utilização em larga escala de robôs justamente por baratear a manutenção, mesmo que as máquinas sejam importadas.
Para responder a essa pergunta, Máquinas e Metais fez – pela primeira vez – um levantamento sobre o uso de robôs nos parques fabris brasileiros de diferentes segmentos. O objetivo é apresentar ao leitor informações sobre quem mais está utilizando essa tecnologia e as razões que levaram a isso.
Vale destacar que o escopo desta pesquisa foi abrangente, ou seja, desde indústrias de usinagem, passando pelo segmento de soldagem até o de fundição e plástico. Com base na quantidade, nos tipos e na idade dos robôs, é possível ter uma noção de como está a aplicação desses equipamentos no chão de fábrica nacional, mesmo com condições tão variáveis, e ainda avaliar quais segmentos precisam de mais atenção por parte dos fabricantes e quais já estão consolidados como clientes.
Os dados que serão apresentados foram coletados por meio de um questionário com questões fechadas para possibilitar a tabulação e resultado percentual das respostas. Esse tipo de pesquisa é útil para análises mercadológicas e de opinião, além de destacar previsões e tendências. Vale salientar que é o método mais utilizado por Máquinas e Metais, que adotou o mesmo critério das outras pesquisas que fez anteriormente. A partir de um banco de dados, foram selecionadas empresas que apresentam a possibilidade de uso de robôs em seus processos de produção.
As empresas constantes da pesquisa informaram as razões pelas quais adquiriram robôs em seus processos industriais. Todas elas tinham a possibilidade de indicar um ou mais itens. De todas, a principal motivação apontada foi o aumento da produtividade (30%), seguida pela melhoria da qualidade do produto final (26,4%). Depois, por ordem de classificação, estão a redução da mão de obra (16%), a contenção de acidentes (13,5%), melhoria nas condições de trabalho (12,9%) e o aumento do turno (1,2%).
O mais curioso é que, embora algumas empresas tenham revelado que estão com o parque de máquinas e equipamentos completo e em contenção de gastos, 51% das 55 participantes pretendem adquirir mais robôs nos próximos 12 meses. A maior parte quer comprar de um a quatro equipamentos.
A principal etapa da pesquisa indica quais atividades estão recebendo auxílio de robôs. Conforme esperado, dos segmentos destacados no questionário, os de soldagem (por células robotizadas e a arco) são os principais usuários. As indústrias deste setor entraram de cabeça no uso da tecnologia e passaram a investir na aquisição destes produtos, e revelaram aumento da produtividade em 75%, além da melhoria na qualidade.
Quem injeta peças de plástico ou metal também adotou a robótica, respectivamente, na manipulação de peças e na alimentação de moldes em injetoras. Essas tarefas ficaram em segundo e terceiro lugar da pesquisa. As vantagens apontadas por algumas das pesquisadas são: econômica, eliminando o uso das esteiras transportadoras; na qualidade e na agilidade da produção.
As tarefas de estampagem (carga e descarga de prensas) e soldagem por resistência aparecem na quarta colocação, ao passo que o processo de carga e descarga de máquinas de usinagem ganhou o quinto lugar. Em seguida, destacam-se os deslocamentos de peças entre estações, montagem, movimentação de peças pesadas em fundição, usinagem 3D, rebarbação, corte a laser e a plasma, inspeção e medição, aplicação de colas e vedantes, rebarbação em peças fundidas, pintura, dobramento de chapas e polimento. Os processos que não receberam nenhuma menção foram: corte por jato d’água, transferência de peças entre moldes, embalagem e paletização (vide tabela 1).
A última questão da pesquisa remete a um breve inventário sobre o parque de robôs das participantes. A saber, elas foram indagadas sobre a idade média e o tipo de robô que mais usam. Resultado: os articulados são os preferidos entre as empresas: com idade entre 0 e 4 anos (171 robôs), 5 e 9 anos (61 robôs) e 10 e 19 anos (18 robôs). Os lineares também ocupam espaço nessas indústrias: com 0 a 4 anos foram destacados 11 robôs, 5 a 9 anos, cinco robôs e, surpreendentemente, acima de 20 anos, há 3 robôs na pesquisa. Também há equipamentos cilíndricos, polares, do tipo portal, entre outros, conforme tabela 2.
Não é novidade que os robôs tenham pouca idade. Até recentemente, a aplicação de um robô industrial exigia um ambiente estruturado, no qual suas operações fossem repetitivas, sua área de atuação protegida e os produtos e componentes fossem posicionados com precisão a fim de serem manipulados.
Atualmente, melhorias foram feitas e tecnologias aplicadas, de modo que os robôs mais usados são projetados para trabalhar de forma segura ao lado dos seus usuários (chamados de colaborativos), sem a necessidade de mudanças no chão de fábrica. Além disso, sensores ativados estão permitindo que eles interajam com o ambiente, podendo ser inseridos facilmente em qualquer processo de manufatura em que não era considerada a aplicação de robôs quando foram concebidos. Conclui-se que o uso de robôs no Brasil é recente e ainda engatinha. Bem-sucedida, a experiência com a tecnologia robótica pode confirmar o potencial do País na competitividade industrial mundo afora. Esse é o foco.