S. H. Euzébio Júnior e R. M. C. Santana
Data: 30/07/2017
Edição: PI Junho 2017 Ano - 19 - No 226
Compartilhe:Extremamente versátil, de baixo custo e com boas propriedades físicas e químicas, o polietileno pode ser encontrado em diversas aplicações no nosso dia a dia. Apesar de quimicamente inerte, o polie- tileno pode apresentar diferenças nas suas propriedades devido à polimerização, densidade e reticu- lação, entre outros. As formas mais conhecidas são: polietileno de baixa densidade, polietileno de alta densidade, polietileno linear de baixa densidade, polietileno de ultra alta massa molar(1). O polie- tileno de baixa densidade possui boa tenacidade e flexibilidade num amplo intervalo de temperatura. Tem uma boa barreira ao vapor de água, mas muitos vapores orgânicos e óleos essenciais o permeiam rapidamente. É quimicamente inerte e insolúvel em quase todo solvente sob condições ambientais, mas suscetível à fragilização sob tensão quando exposto a surfactan- tes como detergentes concentrados. É pobre quanto à barreira ao oxigênio e ao dióxido de carbono, não sendo apropriado onde é pro- vável a oxidação do produto ali- mentício. Sua massa específica diminui rapidamente se exposto a temperatura superior à ambien- te, ocasionando grandes mudanças dimensionais e dificultando al- guns processos de fabricação ou conformação(2,3).
A evolução da tecnologia per- mitiu aplicar este plástico de várias formas. Esta evolução ajuda na transformação dos polímeros em aplicações das mais diversas. O principal método de transformação de polímeros é o de extrusão, larga- mente usado para a fabricação de filmes tubulares de polietileno de baixa densidade. Segundo a consul- toria Chemical Market Associates Inc (CMAI), a quantidade fabricada deste material no Brasil em 2013 foi de 1.192.000 t/ano, sendo 82% dessa quantidade usados na fabri- cação de filmes tubulares(3).
Durante o processo de fabricação de embalagens plásticas flexíveis torna-se necessário melhorar as propriedades dos polímeros adi- cionando aditivos, sem que tal ação altere de maneira significativa sua estrutura química. Existe uma variedade de aditivos com as mais diferentes funções, que são incor- porados para a modificação de ca- racterísticas de termoplásticos, tais como corantes, auxiliares de fluxo, deslizantes, antiestáticos etc(4). Os lubrificantes são uma classe de aditivos usados na composição de blendas de PEBD para a produção de filmes tubulares. São compostos que afetam as propriedades reo- lógicas dos polímeros e reduzem a tendência desses materiais a aderir às superfícies. Lubrificantes co- muns são ésteres e aminas de ácidos graxos, e ceras de polietileno. Este último é usado em larga escala em filme flexível de PVC (5). Neste sentido, o objetivo deste trabalho é estudar a influência do uso de ceras de polietileno oxidadas na estrutura e propriedades de blen- das de PEBD produzidas pelo processo de extrusão tubular e avaliar as propriedades térmicas e de processabilidade das amostras.
O polímero usado neste estudo foi o polietileno de baixa densidade (PEBD) fornecido pela Braskem (Triunfo, RS). Foi usada cera de polietileno oxidado (OPW, tipo Meghwax CPB 110) fornecida em forma de flocos pela MEGH Indús- tria e Comércio Ltda. (SP, Brasil). As especificações das amostras são apresentadas na tabela 1.
A composição das amostras sem e com a incorporação de cera sintética, assim como as condições de processa- mento (os perfis de temperatura de processamento, velocidade do ali- mentador, velocidade do puxador e bobinador e pressão da massa), são apresentados na tabela 2.
Os filmes foram produzidos pelo processo de extrusão tubular em uma extrusora dupla rosca modelo AX Plásticos, co-rotante e com L/D 30:1, com diâmetro de matriz de 31,5 mm, abertura do lábio de 1 mm e oito zonas de aquecimento.
A produtividade, pressão de massa e altura de linha de névoa dos filmes de cada formulação foram monitoradas durante o proces- samento. Foram geradas imagens termográficas com uma câmera térmica da marca Flir com resolução de 80x60 pixels e faixa (range) de temperatura de -25 a 380°C. A medição foi tomada a partir da saída da resina fundida do cabeçote a cada 50 mm até o máximo de 250 mm. Os controles de espessuras dos filmes foram realizados com o uso de medidor de espessura da marca Mitutoyo e a medição do diâmetro do balão com um paquímetro digital.
Na tabela 3 são apresentados os resultados da produtividade e pressão de massa dos filmes das diferentes formulações testadas, assim como as características físicas da solidificação do filme (linha de névoa), da espessura e diâmetro do balão. Pôde ser observado que as espessuras estiveram entre 90 e 100 μm e o diâmetro do balão apresentou valores de ~80 mm.
Em relação à altura da linha de névoa, pressão de massa e pro- dutividade foi verificado que os valores máximos foram os teores de 1% de cera, os quais podem ser mais bem visualizados na figura 1.
Na figura 2 são mostradas 5 imagens termográficas do filme tubular durante o seu processa- mento, em diferentes pontos (marcas em quadro) do filme, desde a saída da matriz ainda na massa fundida até o filme sólido estável. Essas imagens termo- gráficas mostram por meio das mudanças de cores as tempe- raturas pontuais da região do filme, passando do branco (tem- peraturas mais altas) até rosa- azulado (temperaturas inferiores).
Na figura 3 são apresentados os resultados do monitoramento das temperaturas dos filmes das dife- rentes formulações, desde uma distância a 5 cm da saída da matriz até uma altura de 25 cm (filme sólido), obtidos das imagens ter- mográficas. É possível observar que as amostras de PEBD com 1 e 2% em massa de cera apre- sentaram temperatura mais alta quando comparadas com as outras formulações, até uma altura de 10 cm. Após essa distância as diferenças são menores, porém a amostra de PE com 1% ainda se destaca na maior temperatura até uns 20 cm; e já nos 25 cm de altura, todas amostras com cera apre- sentaram tempe- raturas mais pró- ximas (46-50°C). Por outro lado, a amostra de PEBD sem cera foi a que apresentou menor tempe- ratura ao longo dos pontos mo- nitorados. Estes resultados po- deriam indicar que a presença da cera melhora a processabilidade, aumentando a temperatura na saída da matriz e permitindo maior produtividade, sendo o teor de cera mais ade- quado de 1%.
Os resultados deste estudo mos- traram que a incorporação de cera sintética favoreceu o aumento de produtividade de filmes de PEBD quando comparados aos da amostra sem cera, sendo que o teor ótimo de máxima produção de filmes foi de 1% de cera. A presença e aumento do teor de cera ocasionou um aumento da linha de névoa de 60 mm (sem cera) para 125 cm (4% de cera).
Por outro lado, as amostras com cera apresentaram tempe- raturas de resfriamento maiores do que a amostra sem cera. Por fim, a presença de ceras não teve influên- cia significativa na espessura e no diâmetro do balão.
Os autores agradecem ao La- boratório de Materiais Poliméri- cos (LAPOL) da UFRGS pela infraestrutura e pela parceria na realização deste trabalho.