Reciclagem cooperativa, um novo modelo de negócio


A viabilidade econômica da reciclagem de rejeitos provenientes da fabricação de peças em plásticos de engenharia constitui um problema para os transformadores devido às pequenas quantidades envolvidas, bem como às poucas possibilidades de aplicação. Já a reciclagem cooperativa constitui uma abordagem promissora, cuja implementação é tratada neste estudo.


J. Werner, M. Weisenburger e O. Stübs

Data: 07/02/2019

Edição: PI Janeiro 2019 - Ano 21 - No 245

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A reciclagem de plásticos é um dos requisitos do manejo adequado de recursos finitos e da denominada “economia circular”(1);. Há duas tendências que têm influência sobre ela: estão ocorrendo mudanças tanto na oferta quanto na demanda, uma vez que, devido à quantidade crescente de material reciclado que tem sido usada, está aumentando a concorrência pelo limitado fluxo de rejeitos de alta qualidade; e os requisitos da qualidade cada vez mais restritos, que vêm sendo impostos à indústria de transformação de resinas, fazem com que os transformadores e reci cladores requeiram um melhor e constante nível da qualidade de suas matérias-primas.

Existem atualmente processos tecnicamente aperfeiçoados que permitem transformar a maioria dos rejeitos plásticos como, por exemplo, os provenientes de processos tradicionais de produção, bem como de rejeitos oriundos da fabricação de embalagens pós-consumo. Particularmente, os rejeitos provenientes de produção atendem aos requisitos de uma reciclagem econômica: em princípio a composição química e as propriedades do material são conhecidas, a ocorrência de impurezas é rara e é relativamente simples garantir a pureza varietal dos rejeitos.

Ainda assim, em muitos casos, os rejeitos dos relativamente caros plásticos de engenharia não são reciclados, uma vez que as quantidades resultantes frequentemente são pequenas, tornando o trabalho antieconômico. Uma dificuldade adicional é a falta de informações sobre as possibilidades de aplicação desse material reciclado. Por isso, esses rejeitos não são separados para a coleta, mas sim frequentemente destinados ao descarte remunerado em instalações de incineração. Esses materiais têm potencial para “sobreciclagem” (ou seja, reciclagem com melhoria do material), podendo ser indicados a aplicações sofisticadas e à substituição de material virgem. Entretanto, tal potencial não tem sido aproveitado em larga escala.

Uma alternativa ao reaproveitamento econômico desses rejeitos, bem como à sua aplicação em produtos de alta qualidade, é a denominada reciclagem cooperativa, a qual consiste em empresas trabalhando em parceria, unindo seus fluxos de rejeitos compatíveis, visando obter uma quantidade suficiente que possa ser aproveitada como matéria-prima.

Fig. 1 – O projeto “RecyclingNet” (Rede de reciclagem) deverá viabilizar a reciclagem cooperativa de rejeitos de produção que até então eram destruídos (SKZ)

Reciclagem cooperativa

O Centro de Plásticos da Alemanha Meridional (SKZ) e o Instituto de Pesquisa em Desempenho Internacional (IPRI) investigaram conjuntamente o processo de pesquisa denominado “RecyclingNet” (Rede de reciclagem) – desenvolvido entre março de 2016 e maio de 2018 – e a reciclagem cooperativa de rejeitos de plásticos de engenharia (figura 1), além de desenvolverem maneiras de implementá-la. Mais de 20 empresas de transformação e de reciclagem de plásticos participaram do projeto cooperativo.

Foi adotado como ponto de partida o conceito de “Planejamento, previsão e reabastecimento colaborativos” (Collaborative planning, forecasting and replenishment – CPFR) (2, 3). O método básico e estabelecido para o planejamento, a implementação e o controle das cooperações entre fornecedores e clientes foi instaurado na indústria automobilística e no varejo. Dentro do âmbito deste projeto, este conceito foi adaptado às particularidades da reciclagem cooperativa de rejeitos de produção. Um fundamento importante neste caso é o desenvolvimento e a organização dos objetivos e estratégias de cooperação.

Fig. 2 – Objetivos concebíveis da reciclagem cooperativa e o investimento necessário à sua implementação. Uma utilização externa do material reciclado é compatível com os objetivos 1-3, enquanto a utilização interna é compatível com os demais, exceto o número 3 (SKZ)

Objetivos e estratégias

Há muitas opções disponíveis para a eliminação de rejeitos de produção. De acordo com a legislação relativa à reciclagem, o aproveitamento dos rejeitos em forma de material (reciclagem) é preferível à sua eliminação pela queima (4). Portanto, a reciclagem cooperativa viabiliza a ação conjunta de múltiplos parceiros. Pode haver uma motivação econômica como, por exemplo, a redução de custos e/ou a obtenção de faturamento maior, ou ainda ecológica, como a supressão da queima de resíduos e a substituição de resina virgem. Consequentemente, a viabilização da reciclagem pode ser desdobrada em definições de metas (figura 2).

Uma delas é utilizar externamente o material reciclado, quando o rejeito de produção é adquirido por um reciclador que o processará e o venderá, por exemplo. E é óbvio que os objetivos mais ambicionados (“sobreciclagem” e “novos produtos”), relacionados a altos investimentos, precisam estar alinhados à utilização do material reciclado proveniente da produção própria (aplicação interna do reciclado).

Dentro do conceito “CPFR”, a implementação de uma reciclagem cooperativa requer, em primeiro lugar, a definição de uma estratégia compatível com as metas definidas. Foram desenvolvidos três modelos de cooperação dentro do projeto “RecyclingNet”, totalizando cinco alternativas (tabela 1). Neles os diversos atores assumem diferentes papéis, os quais requerem diversas atividades e necessitam de competências e capacidades, requisitos que devem ser elaborados e discutidos por especialistas das entidades participantes.

As estratégias de cooperação serão detalhadas a seguir.

Tab. 1 – Modelos de cooperação desenvolvidos conforme o projeto “Rede de reciclagem” e os respectivos papéis relevantes na cooperação (SKZ)

Empreendimentos conjuntos

Uma joint venture constitui um modelo bastante disseminado para a cooperação entre empresas. Há duas formas desse conceito usadas na reciclagem cooperativa: o empreendimento conjunto com investimento direto (equity joint venture) e o empreendimento conjunto contratual (contractual joint venture). No primeiro caso, múltiplos processadores fundam uma empresa comum, tendo participação em seu capital e assumindo a sua direção conjuntamente. Essa empresa coordena todos os processos operativos, particularmente as etapas posteriores dentro do âmbito do processo de CPFR. A joint venture representa a forma mais intensiva de cooperação dentro dos modelos aqui considerados. Portanto, normalmente é implantada a longo prazo.

No segundo caso, não é formada uma empresa conjunta, mas são estabelecidas relações contratuais entre os cooperados, as quais regulam custos, riscos e distribuição de lucros. Assim, os envolvidos podem ser de outras empresas como, por exemplo, transformadores ou recicladores, os quais podem direcionar os seus rejeitos ou material reciclado para aplicações com maior valor.

Plataforma digital

As múltiplas e inovadoras possibilidades proporcionadas pela digitalização permitem que a reciclagem cooperativa seja realizada por meio de uma plataforma digital (figura 3b). Isso requer um sistema digital de negócios que propicie o contato entre participantes independentes, permitindo que eles trabalhem conjuntamente em um ambiente virtual.

A viabilização de uma plataforma digital requer uma infraestrutura que permita a reunião de oferta e demanda de rejeitos compatíveis. Ela deve ser a interface entre transformadores e clientes.

Fig. 3 – Estratégias de cooperação: a) “empreendimento conjunto” (joint venture); b) “plataforma digital”; c1) “coordenador neutro”; e c2) “transformador = coordenador” (IPRI)

Cooperação coordenada

A cooperação coordenada, assim como as atividades e processos a ela associados, deve ser compatibilizada por um coordenador, o que pode ser feito por um profissional neutro ou pelo modelo “transformador = coordenador”.

O coordenador é responsável pela busca de clientes e por todos os processos operativos associados à transação. De certa forma, este modelo é a contraparte analógica à plataforma digital, uma vez que há muitos paralelos entre os dois modelos.

No segundo caso (figura 3 c2), uma empresa assume a coordenação da cooperação. Portanto, há frequentemente um sócio-cooperado que assume implicitamente responsabilidades especiais e coordena todos os processos operativos.

Conclusões e perspectivas

As metas referentes à reciclagem cooperativa podem ser concluídas por meio da aplicação dos modelos aqui discutidos (tabela 2). Entretanto, é necessário definir objetivos e/ou, tanto quanto possível, antecipar os desenvolvimentos necessários.

Estão sendo desenvolvidas dentro deste projeto tanto ferramentas para dar suporte às empresas durante a implementação e gestão da reciclagem cooperativa como métodos para o planejamento conjunto de oferta e demanda. Informações adicionais podem ser obtidas pela consulta às unidades de pesquisa do SKZ e IPRI.

Tab. 2 – Adequação dos modelos de cooperação (conforme a tabela 1) para diversos objetivos definidos (conforme figura 2) (SKZ)

Agradecimentos

O projeto “Rede de reciclagem: Cooperação entre transformadores de resinas de médio porte para a reciclagem bem-sucedida de plásticos de engenharia”, da Associação Patrocinadora do Centro do Plástico da Alemanha Meridional (Fördergemeinschaft für das Süddeutsche Kunststoff-Zentrum e.V.), foi patrocinado pelo programa de apoio da Associação de Pesquisa Industrial (Industriellen Gemeinschaftsforchung – IGF) do Ministério Federal Alemão para Economia e Energia (Bundesministerium für Wirtschaft und Energie), e pela Associação dos Grupos de Trabalho em Pesquisa Industrial (Arbeitsgemeinschaft industrieller Forschungsvereinigungen – AiF), com base em uma resolução do parlamento alemão. Os autores agradecem ao Ministério Federal Alemão para Economia e Energia pelo financiamento deste projeto de pesquisa.

Os autores também agradecem aos colaboradores que participaram do comitê de acompanhamento deste projeto, tanto pelo apoio como pelo incentivo.

Referências Bibliográficas

As referências bibliográficas relativas a este trabalho podem ser encontradas no seguinte endereço da Internet: www.kunststoffe.de/4938452