Por Flávio Silva*


 

Seria possível às empresas do setor de plásticos vislumbrarem como as medidas relacionadas ao comércio exterior nos Estados Unidos podem impactar seus negócios aqui no Brasil? Nesta análise procuro sintetizar o que foi divulgado até o momento em termos de tarifas de importação pelos Estados Unidos, quais segmentos e quais os países que já responderam e de que forma. Ao final, uma projeção dos possíveis impactos no mercado local de produtos plásticos transformados e resinas termoplásticas.

Um resumo do que foi promulgado nos EUA nas últimas semanas e quais países foram afetados:

 

As tarifas

 

Tarifas gerais:


Tarifas recíprocas mais elevadas:

Estas são apenas alguns exemplos do impacto nos países mais representativos.


Os produtos


A gama de produtos afetados é vasta devido à tarifa base de 10% sobre quase todas as importações. As tarifas recíprocas mais elevadas incidem sobre uma ampla variedade de bens, incluindo:

É importante ressaltar que a situação comercial é dinâmica e pode haver novas alterações nas tarifas e nos produtos afetados.

 

Retaliação

 

Após as medidas dos Estados Unidos serem anunciadas, uma série de países e blocos comerciais começaram a avaliar com responder a esta ação.

Com isso, vários países já implementaram ou anunciaram medidas retaliatórias, aumentando as tarifas sobre produtos americanos.

A China, em particular, elevou suas tarifas sobre bens dos EUA para 84% inicialmente, e em seguida passou para 125%. A União Europeia também está planejando tarifas de até 25% sobre produtos americanos, incluindo soja, motocicletas e outros bens.

Na contramão da Europa e China, nações do Sudeste Asiático como Vietnã, Malásia, Tailândia e Indonésia sinalizaram disposição de aprofundar os laços econômicos com os Estados Unidos. A Índia também adotou uma postura cooperativa, abstendo-se de tarifas retaliatórias e até mesmo buscando laços comerciais mais profundos.

 

Impactos e estratégias para os países e setores

 

Até aqui foi reportado apenas o que tem sido divulgado sobre novas tarifas e ações de retaliação entre os países. Porém, como isso afeta o mercado global e, particularmente, o nosso mercado nacional e mais especificamente o de plásticos? Este é um ponto fundamental, porém de difícil resposta imediata.

As tarifas foram aplicadas em diferentes intensidades. Mais pesadas para a Ásia e União Europeia, enquanto Brasil e Austrália, entre outros países, receberam uma taxa de 10% ou menor.

Este cenário coloca a indústria brasileira em uma posição intermediária e difusa. Se, por um lado, os produtos brasileiros podem ganhar competitividade frente a itens europeus e asiáticos no mercado norte-americano, por outro, produtos da asiáticos (e de outras regiões) podem procurar um novo mercado para diversificar os destinos da sua produção. Neste caso, com certeza o mercado brasileiro será um alvo. Em um terceiro cenário,produtos brasileiros que eram competitivos frente a produtos fabricados nos EUA, não serão mais e serão forçados a buscar novos mercados.

Segundo a consultoria Capital Economics, caso não haja um recuo dos EUA, as exportações da China para aquele país podem cair em mais da metade nos próximos anos, reduzindo o crescimento econômico do país asiático em até 1,5%. Pesa contra a China o fato de o país ter grande proporção da produção voltada para as especificidades do mercado americano, o que dificulta o redirecionamento para outros mercados consumidores.

Impactos destas ações já são vistos no diálogo entre entre países que há muito não se sentavam para discutir relações comerciais, como a China em relação ao Japão e à Coreia do Sul. Independente de ter maior ou menor relação com os Estados Unidos, diversas nações irão procurar opções de diversificação das suas vendas, como forma de mitigar potenciais prejuízos derivados das ações americanas.

Mesmo com a suspensão de parte das tarifas por 90 dias, o que trouxe um certo alívio ao mercado, principalmente, o de derivativos e bolsa, é crucial que países e blocos, tais como a União Europeia, procurem formas de contornar tal impacto no futuro. Porém, não será fácil encontrar compradores que ocupem o lugar dos americanos, o que deverá fomentar uma nova guerra comercial.

Tudo isso culmina em uma só conclusão: a de que haverá em breve uma sobre oferta de produtos no mundo todo, causando, quedas nos preços e fechamentos de produtores menos competitivos. E um provável aumento de custo interno nos EUA.

Em um primeiro momento, o que é esperado é que a China inunde o mundo com seus produtos, mudando o destino para países da União Europeia, o que colocará pressões adicionais sobre os produtores daquele continente e provavelmente aumentará os pedidos de uma resposta protecionista da região.

A Ásia e, principalmente, a China têm há muito tempo despertado preocupação na Europa e no Ocidente de forma geral, pelos grandes subsídios estatais concedidos aos produtores chineses, mão de obra barata e enormes ganhos de escala de produção. Isso tudo irá se intensificar agora, com o estopim desta crise tarifária.

Pode acontecer de regiões que forem ameaçadas por produtos asiáticos também elevarem as suas tarifas de importação de forma a proteger sua indústria local. É o caso da indústria automobilística europeia, em se tratando dos carros elétricos. Com a invasão de carros chineses (BYD, principalmente) os concorrentes locais são obrigados a baixar seus preços, o que já era uma condição pré tarifaço. Espera-se agora um volume ainda maior de importação de carros, com a pressão da indústria local por eventuais imposições de tarifas.

Apesar disto tudo, acreditamos que o objetivo final dos EUA é melhorar seus acordos bilaterais com diversos países, sobretudo os que exportam para os EUA itens indispensáveis. Após renegociar as condições, provavelmente, grande parte das tarifas serão normalizadas. A dúvida que , porém, é quanto à China, principal, competidor atual dos EUA no mercado global.

 

Como o mercado local de plásticos deverá ser afetado

 

Da mesma forma que a oferta de produtos asiáticos aumentará em outras regiões, deve ocorrer no Brasil, com impactos no mercado nacional que podem ser vislumbramos:

- Maior oferta de transformados plásticos;

- Maior concorrência local para os produtos manufaturados epara resinas termoplásticas;

- Dificuldades em setores importantes para o segmento de plásticos, a exemplo da indúustria automobilística;

- Alguns setores podem se beneficiar de oportunidades de exportação para os EUA, em substituição aos fornecedores asiáticos;

- Possibilidade de práticas de dumping no mercado nacional em relação aprodutos originários da Ásia;


 

Na verdade, a análise é bem complexa e cada setor/empresa deve avaliar internamente com pode ser afetado por essas questões. Existem muitas variáveis a se analisar, desde potenciais países (ou empresas) que podem começar a atuar no mercado nacional, produtos e insumos oriundos do comércio internacional e que têm impacto na competitividade local, alémd e possíveis oportunidades de atuação em novos mercados,

entre outras análises.


 

Como exemplo, no setor de construção civil, a elevação das tarifas sobre resinas termoplásticas e produtos acabados da China (chegando a 145% em alguns casos) pode impactar indiretamente este setor aqui no Brasil. Produtos como tubulações de poli(cloreto de vinila) (PVC), revestimentos, isolamentos e outros materiais plásticos utilizados na construção podem ter seus custos influenciados pela disponibilidade e preço das resinas no mercado global e até mesmo maior disponibilidade destes produtos no mercado nacional.

Obviamente, com a maior dificuldade de produtores chineses a terem acesso ao mercado americano, isso pode gerar um aumento da oferta e, consequentemente, mudanças nos preços praticados em outros mercados, incluindo o brasileiro.

Outro setor que pode ter impacto é o setor de eletrodomésticos e eletrônicos, que pode sofrer com maior oferta de produtos asiáticos no Brasil, provocando redução da produção local em razão da menor demanda. Com isso, resinas como poliestirenos de alto impacto (PSAI), ABS e polipropileno (PP) podem ter sua demanda reduzida.

O setor automotivo já está de sobreaviso. Segundo a Anfavea, as exportações de veículos para os EUA podem ser prejudicadas, o que pode provocar a redução da produção nacional e, consequentemente, a contração da demanda por resinas termoplásticas, que hoje gira em torno de 150 a 200 quilos por veículos, sendo a principal delas o polipropileno.

O nosso entendimento é que o impacto maior, no primeiro momento, seria a concorrência nos produtos finais, que usam as resinas termoplásticas. Isso, obviamente, pode resultar, em um segundo momento na possível,queda de demanda.

Com isso, é necessário que cada empresa e associação faça sua própria análise estratégica considerando mercados, competitividade, potenciais entrantes para que se possa simular impactos destas alterações tarifárias.

E o cenário é bem dinâmico, com mudanças de informações a cada momento. Inclusive é possível. que ao final desta análise, alguma informação já esteja desatualizada.


 

Qualquer dúvida ou sugestão sobre este artigo pode ser enviada para o e-mail ohxide@ohxide.com.br.


 

A Ohxide publica também um relatório mensal de preços e mercado, uma publicação que cobre mais de 8 (oito) famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, EVA, SBR, plásticos de engenharia – ABS, SAN, PC, PA6 e 6.6, POM) e agora resinas recicladas (PCR e PIR) em quatro regiões (SP, Sul, NE e Manaus). Entre em contato (via site ou e-mail) e saiba mais.


 

*Flávio Silva é sócio-diretor da OHXIDE Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)


 

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Imagem: Freepik


 

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