Por Daniel Huamani*
Há poucos temas que avançaram tanto em tão pouco tempo quanto a manufatura aditiva. Em sua história de quase 40 anos, os sistemas de impressão 3D viram em cinco anos um crescimento e uma maturidade não vistos anteriormente. É verdade que estamos ainda a alguns anos da grande mudança relacionada a como os produtos são fabricado. Afinal, é necessária uma mudança muito profunda no design de produto para levar em consideração toda a flexibilidade e customização infinita que a manufatura aditiva pode fornecer.
Por outro lado, a assistência à fabricação está mais presente do que nunca e oferece ganhos reais e imediatos – desde um simples gabarito de montagem até melhorias em máquinas e processos existentes. Não é incomum que se encontrem ganhos de até 95% em reduções de custos e de prazos, além de benefícios intangíveis como segurança do trabalho e ergonomia.
A razão deste boom tecnológico e de aplicações tem grande relação com a ascensão de uma categoria particular de impressoras 3D, chamadas de desktop professional. Após a queda das principais patentes de máquinas e processos de impressão 3D, tais como a Fabricação por Filamento Fundido e a Estereolitografia, a miniaturização de sistemas por parte do movimento maker no começo dos anos 2010 deu início a uma era de inovações impossíveis anteriormente com poucos players de mercado. Nos últimos cinco anos, vimos o resultado deste movimento inicial, originalmente voltado para o mercado de hobby, evoluir para equipamentos sofisticados com tecnologia e capacidade suficiente para rivalizar com tradicionais fabricantes.
É claro que a race to the bottom (termo em inglês para uma corrida pelo baixo custo) continuará a todo o vapor e estes produtos serão sempre bem-vindos no segmento hobbysta e até mesmo educacional. Neste momento, porém, estamos diante de uma oportunidade de usar a manufatura aditiva para resolver problemas reais com investimentos da ordem de 15% do que era necessário cinco anos atrás. E hoje o retorno de investimentos é medido em dias, ou meses nos piores caso, e não em anos.
Em um outro pilar, polímeros para impressão 3D deixaram de ser extremos também. Existe o que é tradicional, antiquado e caro e existe o baixo custo. Porém, grandes indústrias de todo o mundo já enxergaram o potencial de mercado dos polímeros para manufatura aditiva e já têm seus portfólios em desenvolvimento ou em comercialização a custos muito mais interessantes do que materiais exclusivamente proprietários. É o caso de BASF, Clariant, DSM, DuPont, Lehvoss, Igus e, mais recentemente a Braskem, inclusive com desenvolvimento de polipropileno para impressão 3D no Brasil. Hoje, a impressão 3D desktop não se limita a PLA, ABS e PET, mas há uma gama de materiais avançados e consistentes com boas expectativas industriais, tais como poliamidas reforçadas com fibra de carbono, ligas anti-chamas, anti-descargas eletrostáticas, PP, TPU, PC, ASA e tantas outras ligas proprietárias adicionais.
O último ponto diz respeito ao capital humano. É comum que não haja formação interna adequada para detectar oportunidades e medir retornos. Com isso, nem sempre é fácil identificar aplicações que trazem alto valor agregado para serem impressas enquanto possuem uma complexidade relativamente baixa – característica campeã para os primeiros passos com manufatura aditiva. Neste ponto, gestores podem trabalhar com duas alternativas para inserir a impressão 3D no contexto de assistência à manufatura: dedicação a estudos de casos de sucesso em seus pares (amplamente disponíveis em formato de white papers e vídeos, geralmente pelos fabricantes de impressoras 3D) ou no investimento direto com uma empresa que preste a consultoria para detectar oportunidades de aplicações.
Para simplificar e dar um primeiro passo, a equipe pode começar a pensar em peças que necessitem ser repostas com frequência, que sejam difíceis de se obter, que não estejam apresentando bom desempenho, adaptações rudimentares de melhorias (frequentemente usando fitas, abraçadeiras e papelão) ou mesmo uma lista de gabaritos e fixadores que são usinados em nylon, ou similar.
O ponto é que hoje, qualquer indústria tem condições de se envolver com manufatura aditiva. As máquinas estão maduras, potentes e precisas, os materiais existem em ampla disponibilidade e o conhecimento é aberto a quem quiser procurar. Vivemos em uma era dourada onde quem investe, colhe os frutos muito rapidamente e se prepara melhor para a realidade da indústria 4.0. É tempo e oportunidade da indústria brasileira se preparar para o futuro, sendo mais competitiva e rentável hoje mesmo.
*Daniel Huamani é diretor de tecnologia da 3D Criar
https://www.linkedin.com/in/danielhuamani/
Foto: 3DCriar
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