Enquanto as autoridades do País se desentendem em torno do lock down (isolamento) total ou vertical, o setor produtivo não tem muita escolha. Antes mesmo de essa discussão chegar aos gabinetes, a indústria já vinha se organizando para que não ocorra o desabastecimento de muitos gêneros de primeira necessidade.
Visando manter o andamento de suas atividades e o abastecimento de clientes ligados a setores essenciais como alimentação e saúde, fornecedores de resinas, aditivos e de materiais reciclados, entre outros, passaram a orientar as suas equipes a executar os procedimentos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como, por exemplo, higienização das mãos e uso de equipamentos de proteção, dentro e fora das unidades fabris em que atuam. As precauções incluem ainda a formação de equipes voltadas ao trabalho remoto, reuniões via videoconferência e visitas técnicas planejadas.
De acordo com Paulo Giammattei, diretor executivo de negócios da filial brasileira da Freedom, fornecedora de agentes de purga que tem matriz na Espanha, a agenda de testes de produtos in loco foi cancelada por tempo indeterminado. Segundo ele, além do estabelecimento de times de trabalho em home office, fornecimento de produtos para higienização e proteção contra o coronavírus aos funcionários que permanecerão nas linhas de produção e antecipação de férias e/ou deferimento de licença remunerada para casos específicos, os clientes poderão contar com atendimento diferenciado. “Neste período, colocaremos duplicatas em carteira e negociaremos depois a forma de pagamento, até que durem nossos estoques. Isso é válido até o final do mês de abril, em que tomaremos outras medidas caso a pandemia persista”, disse.
Na cidade de Colombo (PR) a desenvolvedora de masterbatches para formulações de resinas termoplásticas Colorfix está mantendo sua rotina por meio de programas de orientação e conscientização acerca dos cuidados sugeridos pela OMS. Judi Fardo de Lucena e Francielo Fardo, gerente de marketing e diretor superintendente da empresa, respectivamente, afirmaram que todos os seus departamentos estão munidos com álcool em gel e equipamentos de segurança, assim como estão sendo fornecidas máscaras e luvas aos prestadores de serviços de entrega e visitantes em geral. No entanto, eles também direcionaram funcionárias ao trabalho remoto como, por exemplo, grávidas, e estão convertendo reuniões presenciais para videoconferências. “Qualquer colaborador que apresentar sintomas de resfriado será encaminhado à quarentena e poderá contar com banco de horas. Se for necessário viajar a trabalho, ao retornarem as pessoas ficarão de 5 a 10 dias em quarentena”, afirmou Judi. Francielo contou sobre outras medidas. “Se for preciso fazer visita técnica, os nossos profissionais usarão máscaras e luvas, além de outros equipamentos necessários. Estamos incentivando uma mudança de comportamento dos colaboradores como oferecer horário de almoço flexível”.
Outra empresa que elaborou estratégias para manter a normalidade do atendimento à sua clientela é a fornecedora de resinas e aditivos Advanced Polymers. Everton Mellado, diretor-presidente da companhia, disse que proteger seus colaboradores está entre suas prioridades, o que fez com que profissionais do chamado “grupo de risco”, conforme considerações da OMS, fossem escalados para operar em regime home office. Segundo ele, essa e outras medidas, como estabelecer uma equipe na unidade fabril e provê-la com produtos para higienização e equipamentos de proteção, e também a implementação de uma programação de compras para os próximos três meses, estão possibilitando que suas encomendas sejam entregues dentro dos prazos negociados. “Quase todos os produtos distribuídos por nós são importados da Ásia, Europa e Estados Unidos, e precisamos respeitar os trâmites de comercialização. Até o momento, nossos fornecedores internacionais estão mantendo a programação dentro do planejado e esperamos que esse cenário esteja mais estável por volta do final do mês de abril”, comentou.
A desenvolvedora de polímeros obtidos a partir de materiais descartados Reciclar Resíduos também deu continuidade aos seus trabalhos rotineiros adotando métodos de prevenção contra a pandemia de Covid-19. Conforme informações fornecidas por Eduardo M. Yagui, diretor industrial da empresa, todas as medidas necessárias ao combate ao surto da doença foram implementadas nos departamentos da planta e seguirão em andamento em conformidade com as orientações providas pela Organização Mundial da Saúde. Entre as ações estão orientações a respeito de higienização com álcool em gel e outros produtos recomendados, além de instruções sobre a utilização correta de EPIs.
Cláudio Balbino, diretor da Polibalbino, distribuidora de resinas, informou estar mantendo o ritmo normal de trabalho, com o uso de protocolos de higiene e a recomendação aos funcionários de que se apresentarem sintomas de gripe, não compareçam ao trabalho. A maior preocupação, no entanto, está relacionada à crise econômica que deverá se seguir. “É muito preocupante, pois o comércio está parando e isso atingirá a indústria nos meses de abril e maio, provocando inadimplência, com um provável efeito cascata de empresas quebrando, a iniciar pelas pequenas, até atingir as grandes”, declarou.
Felizmente, março foi um mês atípico para a empresa, registrando um ótimo desempenho de vendas, a ponto de constituir um recorde histórico. “É muito provável que as empresas tenham feito estoques devido à alta do dólar, para escapar da subida de preços”, concluiu.
Impacto nas atividades comerciais
O programa de internacionalização de empresas Think Plastic Brazil prevê aumento da procura por transformados plásticos nos próximos meses, voltados a itens de saúde e embalagens para alimentos, devido à quarentena adotada pela maioria da população brasileira como medida para conter a disseminação da Covid-19.
Em entrevista exclusiva a Plástico Industrial, o membro do comitê gestor do Think Plastic Brazil, Carlos Moreira, mencionou que há uma maior procura por produtos transformados plásticos para a área de saúde, que são essenciais à manutenção da esterilidade de procedimentos. “As indústrias brasileiras estão preparadas para a alta de solicitações, especialmente devido ao atendimento já realizado por muitos compradores que exigem altos volumes, tanto nacional quanto internacionalmente, e não apenas para a área da saúde, como também para as áreas de embalagens de alimentos e para a agricultura”, disse.
Para o programa, que é uma iniciativa do Instituto Nacional do Plástico (INP) junto com a Apex-Brasil, é necessário buscar estratégias conjuntas de atendimento às demandas, garantindo a continuidade das ações essenciais à economia brasileira, e mostrar que o setor é parte da solução, tanto dentro dos hospitais, postos de atendimento e em embalagens para alimentos, quanto na garantia de continuidade da produção agrícola (para que possam acompanhar a necessidade de reposição de produtos nas gôndolas) e na construção civil.
Os colaboradores do Think Plastic Brazil continuarão os atendimentos por home office e darão continuidade aos cursos promovidos pela instituição, buscando adaptá-los ao novo momento por meio do EAD (ensino a distância). Como forma de manter negociações em andamento, a principal mudança está na adaptação de ferramentas e mecanismos que possibilitem a continuidade dos negócios (seguindo as orientações dos órgãos competentes de saúde). Companhias de utilidades domésticas e construção civil, por exemplo, que possuíam reuniões agendadas com a norte-americana de variedades Menards, já haviam encaminhado amostras e, a partir do interesse da cadeia de lojas, foram agendados encontros virtuais com os compradores internacionais.
De acordo com Moreira, quanto à oscilação cambial, “a alta do dólar frente ao real traz um momento favorável para a exportação, o que promove uma maior procura pelo portfólio de soluções do programa. Tivemos, sim, solicitações de novos associados e inclusive fechamos parcerias neste período para uma empresa ministrar uma palestra sobre o tema hedge cambial em momentos de gestão de crise”.
A expectativa do Think Plastic Brazil é que as empresas comecem a trabalhar os contatos que já estavam em análise e busquem mecanismos para as altas demandas, pois há o sentimento de uma retomada forte após este momento turbulento.
Setor de tubos em ritmo normal
A Associação Brasileira de Tubos Poliolefínicos e Sistemas (ABPE) que congrega os principais integrantes da cadeia produtiva de sistemas em polietileno e polipropileno (fabricantes de matérias-primas, fabricantes de tubos e conexões, projetistas, prestadores de serviços, instaladores e laboratórios de testes e ensaios), divulgou nota informando que seus associados reafirmam a disposição de manter as atividades em ritmo normal, sob todas as regras de cuidado que o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais de saúde recomendam para seus colaboradores, visando atender às determinações do Decreto Federal nº 10.282/2020, que trata da operação das atividades consideradas essenciais. Isso se justifica pelo fato de essas empresas serem responsáveis pelo fornecimento de produtos e serviços essenciais à manutenção/ampliação dos sistemas de distribuição de água potável, coleta e tratamento de esgoto e distribuição de gás encanado, essenciais para o bem-estar da população.
A instituição divulgou ainda estar aberta ao diálogo para auxiliar no encontro de soluções que visem à redução dos impactos da pandemia junto aos serviços essenciais, bem como para a proteção da vida e pela manutenção do emprego de milhares de profissionais qualificados.
(Fotos: Shutterstock e Advanced Polymers)
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