Por Tamas Istvan Vero*
Todos os plásticos poliolefínicos produzidos são biodegradáveis por natureza, pois são compostos de cadeias de várias moléculas de carbono e duas moléculas de hidrogênio. Como o carbono é um alimento microbiano natural, deduz-se que todos os plásticos são, sim, biodegradáveis. a questão é o tempo necessário para esta atividade de biodegradação ocorra, já que as cadeias poliméricas do plástico são muito herméticas e longas, não permitindo fácil acesso aos micróbios para penetrarem na cadeia e iniciarem a digestão do carbono.
Com a premissa acima definida podemos dizer que um plástico descartado num ambiente de descarte urbano como um aterro sanitário ( 90% do descarte urbano no Brasil é anaeróbico como um aterro sanitário ) é necessário apenas haver alguma forma de melhorar o acesso aos micróbios presentes nesses ambientes para que a biodegradação do produto plástico ocorra mais rapidamente.
Existem várias tecnologias de aditivação que cumprem exatamente esta função de acelerar o processo de biodegradação dos plásticos quando descartados em ambiente urbano.
Algumas tecnologias, como os aditivos oxo-degradáveis, funcionam bem quando o descarte urbano ocorre em ambientes aeróbicos, como os destinados à compostagem. Porém, não funcionam em ambientes anaeróbicos.
Outras tecnologias orgânicas/enzimáticas foram desenhadas para funcionar especialmente em ambientes anaeróbicos. Este tipo de aditivo acelera a atividade de biodegradação em aterro sanitário por meio de um mecanismo que permite à população microbiana presente nesse ambiente que inicie a digestão do carbono na cadeia polimérica.
A decisão de fomentar exclusivamente a reciclagem e a educação ambiental objetivando incentivar a economia circular é realmente uma das ações importantes na cadeia de soluções para o descarte de plásticos. No entanto, é preciso esclarecer que atualmente na Alemanha (o país mais avançado no tema reciclagem ), apenas 40% do plástico produzido é reciclado. Os outros 60% vão parar em ambientes de descarte urbano. No Brasil apenas 8% a 12% (dependendo do produto ) são reciclados.
Não existe uma solução exclusiva para evitar que o plástico seja uma fonte de poluição ambiental, e sim diversas medidas que precisam ser tomadas concomitantemente, ou seja :
- é necessário um programa de todos os governos mundiais no sentido de incentivar a coleta seletiva dos plásticos pós-consumo por meio de incentivos financeiros aos catadores para esta atividade.
- é necessário investimento de todos os governos mundiais em fornecer contêineres em cada esquina das ruas das cidades (especialmente nas periferias) e em todas as praias para que os consumidores tenham onde descartar as embalagens dos produtos que consomem, evitando assim o descarte inadequado.
- é necessário, depois das medidas acima instituídas, fazer uma grande campanha em todas as cidades orientando os cidadãos a descartarem seu lixo de forma adequada.
- é necessário incentivar as indústrias a reciclarem o máximo possível suas aparas de plástico produzidas.
- é necessário que os governos mais poluidores dos oceanos (asiáticos e europeus ) façam um esforço de limpeza dos oceanos Pacífico, Índico e Mediterrâneo, retirando todo lixo plástico que atualmente flutua em partes desses oceanos.
Com base nisso tudo podemos dizer que permitir a biodegradação dos plásticos nos ambientes de descarte urbano é uma alternativa complementar às ações referentes à economia circular, pois enquanto não se atingem os
almejados 100% de capacidade de reciclagem, é melhor que o plástico biodegrade nos aterros sanitários quando lá descartado, permitindo assim uma vida útil maior do aterro, além de incrementar a produção do biogás que pode ser utilizado como fonte de energia barata e limpa.
A atual corrida dos atores do mercado de embalagens (governos, indústria, mídia, etc) no sentido de incentivar a troca de todos os produtos plásticos (especialmente os descartáveis de uso único) por papel é uma falácia enorme pelos seguintes motivos:
a. Todo produto produzido com papel e que vai ter contato com alimentos precisa ser higienizado, pois todo papel (por ser de fonte de celulose da madeira ) contém em suas fibras esporos de diversos fungos que, dependendo da sua utilização na produção das embalagens, pode favorecer a proliferação desses microorganismos.
b. Todo produto feito com papel e que vai ter contato com alimentos, especialmente os líquidos, precisa ter uma proteção química (um plástico extrudado, uma resina acrílica ou uma parafina) para evitar que se desmanche ao contato com esses líquidos (por exemplo, canudinhos de papel, copos de papel, etc).
c. Caso todos os produtos que hoje são feitos com resinas plásticas fossem trocados por matéria-prima de papel, não haveria suficiente fornecimento em nível mundial desse material para essa demanda.
d. Como exemplo podemos dizer que hoje em dia se produzem 6.000.000.000 de toneladas de plástico por ano no mundo e para substituir essa quantidade de plástico seria necessário 10 vezes mais toneladas de papel, devido ao peso específico dos dois materiais ser substancialmente diferentes. (Exemplo: em uma estrutura de uma embalagem de BOPP monocamada 1 m2 de plástico pesa aproximadamente 18 gramas, enquanto esse mesmo 1 m2, se fosse de papel, pesaria no mínimo 80 gramas).
e. Em aplicações hospitalares onde hoje o plástico é a solução para se evitar contaminações, a substituição por papel seria totalmente impossível, pois não haveria como se manter esse tipo de condição extrema.
f. Finalmente, do ponto de vista financeiro, a troca do plástico por papel aumentaria consideravelmente o custo de todos os produtos que seriam fabricados com esse material, por todos os itens acima explicados.
g. Também ambientalmente essa substituição seria um desastre mundial, pois árvores seriam utilizadas como matéria-prima para a produção de papel com todas as consequências sobre o clima do planeta.
Foto: Shutterstock
(*)Tamas Istvan Vero é diretor da TIV Biodegradáveis
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