Os acontecimentos impactantes deste início de século fazem os analistas recorrerem com frequência à expressão “que você viva em tempos interessantes” para comentá-los. Sua origem costuma ser atribuída a uma antiga maldição chinesa segundo a qual desejar “tempos interessantes” a alguém seria o mesmo que antever grandes dificuldades em seu caminho. O fato é que os tempos atuais estão bastante interessantes e os últimos 20 anos, em especial, têm sido marcados por altos e baixos em nível global, que começaram com o atentado de 11 de setembro, prosseguiram com sucessivas crises econômicas até chegar a uma pandemia e agora uma guerra envolvendo o rico e influente continente europeu.
O cenário globalizado nos une para o bem e para o mal. Desta forma, estamos literalmente todos no mesmo barco, com mercados sofrendo reflexos em cascata de cada novo fato local, seja ele a falta de gás na Europa ou os lock downs na China, cada qual contribuindo a seu modo para uma quebra das cadeias de suprimento, especialmente no setor de plásticos. Profundas análises geopolíticas ficam para os especialistas no assunto, mas o impacto dessas questões se faz presente na rotina das empresas de manufatura, as quais têm sofrido com oscilações da oferta e dos preços de seus insumos.
Esta nova condição acelerou processos que já vinham ocorrendo, como o desenvolvimento de fontes alternativas de energia e demais insumos, potencializando a formalização de uma forte cadeia de reciclagem dos materiais plásticos. Uma nova rota está se estabelecendo com a chegada de tecnologia e investimentos ao setor, alguns dos quais podem ser conferidos na seção Reciclagem da edição de agosto, especialmente dedicada ao tema.
Antes, porém, o guia atualizado da oferta de resinas recicladas traz uma pesquisa que aponta o real aumento da procura por esse tipo de material para 77% das empresas listadas, como resultado do gargalo logístico típico do pós-pandemia e da guerra na Ucrânia. Diante disso, 58% delas informaram ter planos de adquirir em breve novos equipamentos para continuar a crescer, em um nítido sinal de que o mercado trata de se regular diante de novos desafios, apesar da ausência de iniciativas do poder público que, no cômputo geral, mal consegue levar a cabo um programa de coleta seletiva eficiente. Prova de que por mais “interessantes” que sejam os tempos, eles acabam resultando em novos caminhos e oportunidades.
Hellen C. O. Souza
Editora
hellen.souza@arandaeditora.com.br
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