Hellen Souza, da redação
“Colocar a solução perto do problema”. É assim que Samuel Martinez, diretor comercial da Greenback (Reino Unido) define a estratégia da empresa especializada na instalação de unidades de reciclagem química destinadas à recuperação de materiais plásticos de difícil separação, a exemplo dos filmes multicamadas. Os planos da empresa para a América Latina são ambiciosos, a começar pelo México (foto ao lado) e assumindo a sequência lógica de desembarcar no Brasil em breve.
A empresa inaugurou em maio deste ano uma unidade de reciclagem química em Cuautla, a uma hora da capital mexicana, em parceria com a Nestlé e com o apoio da Aliança pelo Fim do Lixo Plástico, organização que congrega empresas de vários pontos da cadeia produtiva dos plásticos em favor da gestão adequada dos resíduos.
A instalação vai empregar tecnologia própria de pirólise induzida por microondas no tratamento de 3 mil toneladas/ano de resíduos. Após triados, triturados e secados, os resíduos são inseridos em um reator livre de oxigênio e sob alta temperatura, onde são inicialmente convertidos em gás de pirólise e posteriormente em óleo de pirólise, comercializado como insumo para as empresas petroquímicas, que o utilizam na obtenção de novos materiais poliméricos. O processo conta com o eco2 Veritas™, um sistema próprio de monitoramento digital constante e sem interferência humana, procedimento que torna todo o sistema auditável e favorece a emissão de certificados para as marcas consumidoras das resinas que derivam dele.
Pacote completo
A Greenback é desenvolvedora da tecnologia, mas atua também na gestão, no rastreamento do processo e na emissão de certificados para as resinas e produtos finais oriundos das suas instalações, bem como na interface com as petroquímicas que são consumidoras potenciais do óleo de pirólise. A empresa implementa os projetos em colaboração com petroquímicas e com as grandes marcas que podem se beneficiar com o uso de materiais certificados nas embalagens de seus produtos, a exemplo do que foi feito com a Nestlé no México.
Equipe mexicana da Greenback
As instalações da Greenback podem ser de interesse de grandes processadores de materiais plásticos, empresas gestoras de resíduos, cooperativas e as próprias petroquímicas, tendo em vista o design modular que permite uma implementação escalável e distribuída no ponto em que há problemas de desperdício. Elas têm potencial para ser uma solução definitiva para a reciclagem de materiais de difícil separação, como os laminados flexíveis multimateriais, mas também processam plásticos rígidos.
Polietileno (PE) e polipropileno (PP) são os plásticos que permitem melhor desempenho da planta, mas todos os materiais podem ser processados, inclusive o alumínio das embalagens multimateriais, que ao final é transformado em lingotes e reinserido na cadeia produtiva deste material.
Os planos para o Brasil
As instalações da Greenback são concebidas de forma modular, podendo até mesmo ser montadas em contêineres que são movidos para perto de aterros ou centrais de triagem. Um módulo tem capacidade para processar 3 mil toneladas/ano, podendo ser operado por empresas co-proprietárias. Samuel Martinez comentou que este modelo é especialmente adequado para os países da América Latina, que ainda enfrentam problemas com a coleta seletiva e a triagem de resíduos sólidos. “Pelas suas dimensões, a cidade de São Paulo, por exemplo, comporta a instalação de, pelo menos, 20 módulos, levando-se em conta que cada um deles tem capacidade para processar o lixo gerado por cerca de 250 mil pessoas”, informou o executivo.
A Greenback já está trabalhando no seu primeiro projeto em solo brasileiro, cuja aprovação por órgãos competentes deverá ser anunciada até o final deste ano. Assim, ao final de 2024, apenas um ano após a decisão, deverá entrar em funcionamento o primeiro módulo, em local ainda não revelado. Também está prevista para esta data a entrada em operação do segundo módulo em território mexicano, de um total de 50 já planejados.
Fotos: Greenback
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