O mercado da mobilidade elétrica finalmente vai contar com um automóvel com projeto, desenvolvimento e fabricação feitos por brasileiros e para brasileiros, com boa parte de seus componentes fornecidos por parceiros locais. A Lecar, Indústria Brasileira de Automóveis Elétricos, com sede em Barueri (SP), anunciou para este ano o lançamento do seu primeiro modelo, o Lecar 459.

 

Seu protótipo está em desenvolvimento e já em fevereiro segue para uma série de homologações em Londres (Inglaterra), onde será submetido a avaliações de impacto, aerodinâmica e simuladores de segurança. Esse processo terá duração de até nove meses, ao final dos quais o produto entrará em linha de produção, devendo estar disponível ao mercado a partir de dezembro de 2024. O Lecar Model 459 terá um custo de R$ 279 mil e autonomia de 400 km por carga.

 

A empresa também planeja a criação do Lecar POP, uma versão popular e com o uso de baterias e motores elétricos produzidos no Brasil que, contando com os mesmos incentivos fiscais destinados aos elétricos existentes em diversos países, teria custo estimado de R$ 100 mil e autonomia de 200 km por carga.

 

Flávio Figueiredo Assis (foto), fundador da Lecar e advogado de formação, despertou para as oportunidades da mobilidade elétrica ao analisar a Lei 8.723, publicada em 1993, que regulamenta a redução de emissões de CO2 de veículos, com prazo final em 2027. Na sua interpretação, as diretrizes da regulamentação vão dificultar a permanência dos motores a combustão no mercado a partir de 2028.

 

Atento à oportunidade, o empresário deu início à Lecar, com sede em Alphaville (município de Barueri,SP) e planta Industrial em Caxias do Sul (RS), que conta com uma equipe de 30 profissionais de engenharia automobilística altamente qualificados e experientes, muitos deles com passagens por empresas como Gurgel, Troller, JPX, Ford, Toyota, Nissan e Marcopolo.

 

Assis identificou a cidade de Caxias do Sul como o melhor local para montar sua fábrica devido ao fato de vários fornecedores do ecossistema da mobilidade se encontrarem na região. Cerca de 35% das peças do Lecar Model 459, o primeiro veículo da companhia, serão importadas da China. Motores e baterias virão da fabricante chinesa Wiston, que fornece também para as gigantes do setor Volkswagen e Hyundai. O restante será produzido no Brasil.

 

O executivo comentou que o grande diferencial da Lecar é não apenas fabricar um carro elétrico no Brasil, mas desenvolver um produto totalmente pensado para o país: “Tenho um Tesla e, definitivamente, ele não foi estruturado para rodar pelas ruas e estradas brasileiras. Ele sofre a cada buraco. Nosso projeto é de um carro feito para os desafios das estradas do Brasil, com tecnologia de ponta, resistência associada ao prazer na direção e alinhado à necessidade de redução de emissões de CO2, que foi o grande motivador para embarcarmos nesse projeto”.

 

Empreendedorismo e IPO em 2025

 

Flávio iniciou sua carreira como bancário e logo fundou a Lecard, uma administradora de cartões do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) que chegou a uma movimentação anual de R$ 1 bilhão, fornecendo para mais de 600 prefeituras e órgãos públicos e mais de 3 mil empresas privadas. Em 2022, vendeu a Lecard com o intuito de criar a primeira montadora de carros elétricos do Brasil, cujo nome tem a mesma raiz. O capital da Lecar é 100% próprio, mas a expectativa é fazer uma oferta pública inicial (IPO) em bolsa de valores em 2025.

 

Os contratos fechados com vários fornecedores preveem transferência de tecnologia e cooperação técnica, científica e operacional, o que viabiliza ainda uma fábrica de células de baterias e motores elétricos no Brasil, permitindo a autossuficiência na produção dos automóveis elétricos. “Temos em nosso país, 97% dos minerais que compõem as células de baterias. Além de sermos autossuficientes, podemos ainda nos tornar uma grande referência no mercado global de veículos elétricos, fornecendo automóveis para outros países”, afirmou Assis.

 

A estimativa do executivo é produzir 300 veículos por mês já no primeiro ano de fabricação, gerando 600 empregos diretos e R$ 1 bilhão de faturamento. O foco das vendas será a Grande São Paulo, especialmente entre a capital, Campinas e São José dos Campos, onde a empresa deve investir em uma rede de infraestrutura para recarregamento de baterias. Também está prevista para 2025 a criação de uma rede de carregamento próprio ao longo da rodovia BR 101, com carregadores rápidos disponíveis a cada 150 km da rodovia.

 

A internacionalização também está nos planos de Assis, que já está estabelecendo parcerias em países como Estados Unidos, França, Itália e Mônaco. A empresa pretende também criar um plano de assinaturas, mudando a cultura da posse para a de acesso aos automóveis elétricos. “As pessoas não precisam ter um carro, o que elas precisam é de mobilidade”, argumenta. A assinatura base para o plano de locação de 36 meses será oferecida por, aproximadamente, 3% do valor de venda para uma quilometragem mensal de 1 mil km.

 

 

 

Imagens: Lecar (Divulgação)

 

 

 

 

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