Hellen Souza, da redação
O anúncio do Nova Indústria Brasil (NIB), programa criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) e chancelado pelo Governo Federal no último dia 22 de janeiro, promete aquecer as atividades de muitos segmentos industriais, com destaque para o metalmecânico, presente em todos os pilares da nova política.
O NIB, com orçamento de R$ 300 bilhões até 2026, quantia a ser gerida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), traça objetivos para o desenvolvimento da indústria com impacto em seis pilares: cadeias agroindustriais, saúde, cidades, transformação digital da indústria, bioeconomia/transição energética e defesa. A perspectiva de juros e spread bancário mais baixos provocou reações positivas de diversos setores.
Em todos eles é possível identificar a necessária contribuição do setor metalmecânico, que poderá se beneficiar da política de fomento às atividades produtivas. De acordo com informações da Agência Brasil, foram estabelecidas para o período de 2024 a 2033 as seguintes missões, que são comentadas para contextualizar a participação do setor metalmecânico:
Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais
– aumentar para 50% participação da agroindústria no PIB agropecuário;
– alcançar 70% de mecanização na agricultura familiar;
– fornecer pelo menos 95% de máquinas e equipamentos nacionais para agricultura familiar.
Neste caso, o fomento às atividades industriais associadas ao agronegócio deverá resultar em maior demanda por equipamentos para beneficiamento de alimentos e fabricação de produtos alimentícios industrializados, onde a cadeia do aço inoxidável é protagonista em aplicações em razão da sua contribuição para um ambiente livre de impurezas.
2. Forte complexo econômico e industrial da saúde:
– atingir 70% das necessidades nacionais na produção de medicamentos, vacinas, equipamentos e dispositivos médicos, materiais e outros insumos e tecnologias em saúde.
Nas tecnologias voltadas para a saúde também é possível haver participação no que se refere à fabricação de diversos equipamentos para laboratório baseados nos materiais metálicos.
3. Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis:
– diminuir em 20% o tempo de deslocamento de casa para trabalho;
– aumentar em 25 pontos percentuais o adensamento produtivo (diminuição da dependência de produtos importados) na cadeia de transporte público sustentável.
No setor de transporte público é facilmente identificável o impacto em atividades como de estampagem de chapas, indispensáveis à construção de ônibus, trens e demais veículos.
4. Transformação digital da indústria:
– digitalizar 90% das indústrias brasileiras;
– triplicar participação da produção nacional no segmento de novas tecnologias.
Embora um tanto genérica, a proposta abarca todos os processos produtivos, incluindo os metalmecânicos, para os quais já estão disponíveis muitas tecnologias digitais capazes de aumentar a produtividade e a competitividade das empresas.
5. Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas:
– cortar em 30% emissão de gás carbônico por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria;
– elevar em 50% participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes;
– aumentar uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano.
O segmento de biocombustíveis também é usuário intensivo de chaparia e produtos caldeirados, usados no armazenamento de fluidos, a exemplodo que ocorre na indústria do hidrogênio verde e do biodiesel. Este último, por sinal, é objeto de um planejamento que prevê a antecipação do calendário de aumento de mistura do biodiesel ao diesel, passando dos 12% em abril de 2023 para 14% em março de 2024 e para 15% a partir de 2025;
6. Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais:
– autonomia de 50% na produção de tecnologias críticas para a defesa. Este último pilar reserva um grande potencial para a atuação da indústria metalmecânica, na construção de equipamentos a serem usados pelas Forças Armadas.
A reação do mercado
Nos dias que se seguiram ao anúncio do NIB, muitas instituições se pronunciaram oficialmente a respeito das medidas. Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) declarou apoiar a aprovação pelo Congresso Nacional dos projetos que fazem parte da nova Política Industrial, dentre eles a Depreciação Acelerada e a criação da LCD - Letra de Crédito do Desenvolvimento, que tendem a favorecer os investimentos. “Também apoiamos a política de financiamentos para o programa “Indústria Exportadora” – BNDES Exim Bank, com linhas de financiamento voltadas ao apoio à exportação, incluindo a exportação de serviços”, anunciou a entidade.
Já o Sindicato da Micro e Pequena Indústria (SIMPI), destacou entre as metas específicas a proposta de aumentar a participação do setor agroindustrial no PIB agropecuário de 23% para 50%. “Esse crescimento não apenas fortalecerá a economia, mas também contribuirá para a segurança alimentar da população. Da mesma forma, a ampliação da mecanização dos estabelecimentos de agricultura familiar e a garantia de 95% do mercado de máquinas com produção nacional evidenciam o compromisso com a valorização do setor agrícola”, declarou Joseph Couri (foto ao lado), presidente da instituição, destacando ainda a importância das demais missões em áreas como saúde, infraestrutura, saneamento, mobilidade e moradia. “Estas medidas representam um impulso significativo para fortalecer a micro e pequena indústria. O Nova Indústria Brasil emerge como uma trajetória promissora. Com o financiamento de 4% ao ano e spread bancário de no máximo 2% ao ano, espera-se não apenas viabilizar um ritmo semelhante ao do agronegócio, mas também aumentar consideravelmente a competitividade internacional”, comentou Couri.
Para João Visetti, CEO da Trumpf Brasil (foto à esquerda), fabricante de máquinas para o processamento de chapas metálicas, o programa tem potencial para solucionar um grande entrave para as empresas brasileiras, que é o custo do capital, tendo em vista que fontes de financiamentos mais abundantes e mais baratas tendem a facilitar o acesso a equipamentos mais novos e produtivos. Para ele, a ênfase na industrialização do agronegócio, assim como a meta de mecanização de 70% das atividades da agricultura familiar, são fortes impulsos para o setor de máquinas. “Tudo pode ser feito, a questão é a que custo e com qual tecnologia”, comentou.
Outro ponto importante, de acordo com Visetti, é a qualidade dos investimentos que serão feitos. “O sucesso vai depender da consistência na implementação das medidas. Fala-se muito em transformação digital, por exemplo, mas o mais importante é saber transformar as informações a que se tem acesso em ferramentas para a produtividade, o que esbarra no nosso sistema educacional deficiente “, ponderou.
O executivo destacou um item crucial constante do detalhamento das medidas, que é a destinação de R$ 3,4 bilhões do orçamento para o Programa de Depreciação Acelerada, que permite o abatimento mais rápido no Imposto de Renda dos investimentos feitos na produção. Normalmente este abatimento ocorre no prazo de 25 anos, mas de acordo com o novo programa, o valor das máquinas adquiridas a partir de 2024 poderá ser abatido em apenas dois anos (50% no primeiro e 50% no segundo). João destaca que este mecanismo fiscal é bastante usado em países europeus, fomentando a aquisição de bens industriais.
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Imagens: SIMPI e Trumpf
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