por Flávio Silva*

 

Deixando as análises para o nosso mercado interno um pouco em stand by, vamos voltar um pouco as atenções para o cenário mais macro do setor petroquímico. Isso é importante para projetarmos para onde o nosso mercado irá, ou o que poderá sofrer. Este artigo foi baseado em uma análise recente que fizemos a pedido de um banco de investimentos para nortear sua estratégia com clientes que atuam no setor. Dividimos em duas partes para simplificar a leitura, sendo esta a Parte I. 

 

Com base nas premissas existentes hoje no mercado global, podemos listar quatro pontos principais que irão direcionar a discussão estratégica das empresas do setor petroquímico, de transformação de plásticos e de reciclagem, sendo eles: demanda global, sustentabilidade, aplicações e cadeia de fornecimento.

 

Iniciando pelo item mais importante de qualquer atividade, ou seja, a demanda, o gráfico abaixo traz uma visão do balanço oferta/demanda global de eteno. Mas, por que o eteno? Bem, o eteno é o principal monômero do setor e gera grande parte dos derivados plásticos que hoje existem no segmento, a exemplo do polietileno (PE). Além disso, todo cracker petroquímico é projetado para produção de eteno, logo sua importância no setor petroquímico é notória.

 

 

Fonte: ICIS | SPGI e elaboração da Ohxide Consultoria

 

 

Pelo gráfico acima, que contempla projeções até 2030, verifica-se que o cenário sugerido por algumas das mais conceituadas consultorias internacionais é, no mínimo, complicado, sob o ponto de vista de estruturação de demanda e preço. Isso devido a um menor crescimento da demanda do que da oferta estimada. A linha azul representa a taxa de ocupação média das unidades de eteno ao longo dos anos. Este dado deveria estar, minimamente, acima dos 87-88% para um retorno econômico saudável para o setor. Pelas projeções, não é o que se espera, o que sinaliza anos difíceis até a próxima década.

 

Em outras palavras, o gráfico acima diz que a demanda futura do setor petroquímico não será suficiente para consumir todo o eteno produzido. Com isso, acontecerá uma briga por preços, com reflexos nas margens do setor.

 

É claro que esta é a visão que se tem hoje e que, muito provavelmente, pode se alterar com o tempo. Isso porque muitos dos projetos previstos para 2026 em diante podem ser postergados, justamente para equilibrar a demanda, evitando assim uma piora nas margens.

 

Metas de uso de reciclados

 

O segundo ponto é a questão da sustentabilidade, ou circularidade dos materiais plásticos. Atualmente, o plástico é o material mais criticado por toda mídia, de forma indevida, mas não iremos entrar nesta discussão aqui. Vamos analisar metas de grandes marcas (brand owners) que preveem em seus planos estratégicos o aumento do uso de plásticos reciclados em suas embalagens. A figura abaixo é um apanhado resumido do que algumas das maiores empresas vêm divulgando.

 

 

 Fonte: dados das empresas e elaboração de Ohxide Consultoria 

 

A figura acima mostra o volume de plástico utilizado nas embalagens ou produtos de seis grandes empresas (base 2020), bem como o percentual deste plástico que, em 2020, era oriundo de reciclagem e as metas para uso de plástico reciclado até 2025.

 

Fica claro que são metas bastante desafiadoras, com aumentos significativos de volumes de material reciclado. Uma conta bem simplista estima que, somente estas empresas, se conseguirem atingir as metas, será necessário um volume adicional de plásticos reciclados de mais de 1,7 milhões de toneladas. Isso considerando como constante o volume de plástico utilizado por elas. Ou seja, algo que parece um pouco além do alcance.

 

É pouco provável que estas metas sejam alcançadas, ao menos não no período que se propõe, mas o recado que fica é que se trata de uma tendência sem volta. O ponto crucial, no entanto, é: a que custo? Atualmente, com os valores de resinas virgens muito próximos aos das recicladas, não parece economicamente favorável ou atrativo aumentar a quantidade de material reciclado. A dinâmica de custos da resina reciclada é diferente da virgem, porém os preços acabam tendo comportamentos conectados. O fato é que este viés sustentável lançou no mercado de reciclagem as grandes empresas petroquímicas tradicionais, tais como, Exxon, Sabic, Total, Eastman, Ineos, Petronas, Braskem, entre outras, e isso vai gerar uma outra dinâmica de mercado. É preciso esperar mais algum tempo para saber qual será ela, mas a certeza é que, aqui no Brasil, as empresas de reciclagem vêm sofrendo com a queda de preços desde o pós-pandemia e este ano ainda deve ser um ano de desafios, ainda com a em recuperação e com a pressão de preços dos materiais virgens.

 

Fonte: dados das empresas e elaboração de Ohxide Consultoria

 

No próximo artigo daremos continuidade ao debate sobre as tendências do setor para os próximos anos, abordando os temas “aplicações” e “cadeia de fornecimento”.

 

Informações sobre este mercado e o de outras resinas e suas aplicações podem ser solicitados à Ohxide, que tem ainda o relatório mensal de preços e mercado, uma publicação que cobre sete famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, ABS e SAN) em três regiões (SP, Sul e NE). Entre em contato (via site ou e-mail) e saiba mais.

 

 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria

 

Leia mais análises de Flávio Silva na seção Petroquímicos do portal da Plástico Industrial.

 

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Imagem de abertura: Shutterstock



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