Por Roberta Duarte*
Após meses de fortes quedas provocadas pela pandemia, as importações brasileiras de resinas termoplásticas sinalizam uma retomada. Embora ainda haja incertezas para os próximos meses e para o longo prazo, o cenário atual para o segundo semestre é de recuperação. No mês de agosto, o número de navios que chegaram à costa brasileira com contêineres voltou ao nível normal. A capacidade total dos navios que chegaram ao Brasil foi praticamente igual à observada no mesmo mesmo período de 2019.
Há uma forte e sólida demanda doméstica nos Estados Unidos e estamos enfrentando vários problemas com o funcionamento de plantas petroquímicas.
A maioria das petroquímicas americanas estão com suas plantas paradas por motivo de força maior, devido à falta de mão de obra por causa da Covid-19 e os impactos ocasionados pelo furacão Laura, que passou perto da cidade de Cameron, no estado da Louisiana, como uma tempestade categoria 4 na escala Saffir-Simpson, que vai até 5. Pouco antes de tocar a terra (landfall), o furação Laura estava com ventos com intensidade próxima da categoria 5, ou seja, o máximo da escala. O vento informado no momento em que o centro do furacão começou a ingressar o continente era próximo de 250 km/h.
A Louisiana e o sudeste do Texas, que foram as áreas mais atingidas, abrigam cerca de 80% da capacidade de produção de etileno dos EUA, juntamente com cerca de 60% da capacidade de polietileno (PE), de acordo com o ICIS, que também informou que do total da capacidade de eteno nos EUA, 16% foram desativados.
Quanto ao propeno, a área abriga 90% da capacidade dos Estados Unidos, e para polipropileno (PP), 65%. Do total da capacidade de propeno nos Estados Unidos, 11% foram fechados, causando grande restrição de fornecimento de PE e PP, o que está justificando e consolidando com força os seguidos aumentos de preços que estão sendo praticados.
Há muita incerteza sobre a retomada das plantas, mais há quem se arrisque a prever que o país volte à produção plena em novembro, com utilização da capacidade acima de 92%, quando então será necessário que os Estados Unidos retomem as suas exportações aos mercados da Ásia, Europa, Oriente Médio e África, para que seus patamares voltem ao normal. Esta demanda atualmente está sendo suprida por fornecedores asiáticos.
Embora grande parte do Texas e muitas fábricas felizmente tenham escapado do furacão, o número significativo de paralisações está ocasionando redução da disponibilidade de resinas nas próximas semanas, em grau que ainda não é conhecido, pois dependerá da velocidade de retorno às atividades normais.
As petroquímicas norte-americanas estarão restringindo a disponibilidade do PE e do PP produzido para exportação nos próximos 30 a 45 dias, e os impactos pós-furacão Laura começam a ficar mais claros.
O primeiro deles está relacionado a uma questão: se o aumento a partir de hoje ainda era algo duvidoso, há também dúvida quanto ao mercado absorver ou não mais um reajuste. Porém, a passagem do furacão fortificou e consolidou o aumento de U$ 110 MT anunciado no decorer do mês de agosto.
Ainda há vários locais que permanecem com cortes de energia elétrica, como resultado do furacão, o que está impedindo algumas empresas de reiniciar suas fábricas.
A Sasol informou que seu complexo em Lake Charles, Louisiana, permanece inativo, pois os corredores das linhas de transmissão de alta tensão que vão para a cidade sofreram muitos danos.
O início das atividades dependerá da disponibilidade de eletricidade, gases industriais, outras matérias-primas e do processo de restauração.
Os pequenos volumes reservados para a América Latina pelos exportadores para os próximos 45 dias, estão com preços e disponibilidade ainda muito incertos, o que deverá ficar mais claro no decorrer desta semana, mas é certo que os transformadores da América Latina serão forçados a pagar os mesmos preços do mercado doméstico dos EUA para obterem resina.
O fornecimento e a competitividade de preços da Ásia foram severamente impactados nesta semana, devido à alta nos preços de fretes naquela região, para embarques aos mercados estrangeiros.
As ferrovias e os processos logísticos também foram muito afetados. Essa realidade afetará as entregas da maioria dos pedidos por um período ainda desconhecido.
O atual momento de pandemia, em que o mundo enfrenta também várias crises econômicas, seguido pela passagem de um furação está ocasionando uma situação não planejada e sem precedentes para todo o mercado nacional e internacional de resinas.
A demanda na Europa também caiu sazonalmente devido às férias de verão e à Covid-19, o que explica a queda nos preços da União Europeia.
Na América Latina, consequentemente, estamos sofrendo com vários aumentos seguidos e restrição da disponibilidade de resinas, pois a Braskem e a Dow Argentina não têm capacidade produtiva para atender toda a demanda deste mercado. Assim, avalio que teremos nos meses de setembro e outubro pouca disponibilidade de resinas, e que em novembro as capacidades produtivas retornarão a um nível próximo dos patamares normais.
Afirmar que eu estou certa em minhas análises ou que este cenário é o correto, seria o maior erro que eu poderia cometer em minha carreira profissional, pois em nosso mercado tudo muda a todo tempo. Estamos em uma montanha russa das mais radicais, porém, temos de observar diariamente e muito atentamente cada movimento do mercado para que possamos adotar as estratégias e tomar as decisões mais assertivas para cada negócio.
*Roberta Duarte
(Strategic Account Manager and New Business Development in Brazil at Montachem International)
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