O agravamento das questões climáticas afeta diretamente as operações logísticas da distribuição de resinas plásticas, e recentemente tem sido crucial na definição de estratégias operacionais para as empresas transformadoras de plásticos.
A seca na Região Norte, uma questão sazonal que prejudicou a navegação fluvial e atingiu em cheio o Pólo Industrial de Manaus no ano passado, praticamente já tem data para se repetir este ano, e está obrigando as empresas que operam na região a providenciar meios de evitar a escassez de matéria-prima. A maioria dos compradores já estão abastecidos com suprimentos de polietileno (PE), polipropileno (PP) e poli(cloreto de vinila (PVC), mas alguns ainda estão atuando para aumentar seus estoques antes da seca esperada. Uma medição recente apontou uma baixa de dois metros no nível do Rio Negro, em um período de 16 dias.
Para lidar com esta questão, muitas empresas anteciparam suas compras, procuraram canais de distribuição aérea e, sobretudo, pressionaram os governos locais para a criação de portos temporários em que são estabelecidos pontos de distribuição. A Receita Federal autorizou no dia 2 de agosto a operação no porto provisório em Itacoatiara, localizado a 170 quilômetros de Manaus. Esta autorização permitirá o embarque e desembarque de mercadorias, garantindo a continuidade das operações logísticas durante o período de vazante dos rios no Amazonas. O porto provisório servirá de apoio às balsas que transportam cargas até Manaus, assegurando que o fluxo de transporte de insumos e produtos não seja interrompido.
Frederico Fernandes, especialista no mercado de polímeros da consultoria Argus, explicou que a autorização abrange tanto o transbordo, que é a retirada de mercadorias para o porto flutuante, quanto a baldeação, que possibilita a troca de cargas até as balsas. “Com isso, empresas que operam portos privados na capital poderão continuar suas atividades normalmente”, acrescentou.
A ação, denominada "Operação Itacoatiara", contará com um píer provisório equipado com três guindastes, onde os navios cargueiros serão descarregados. As cargas seguirão para Manaus por balsas.
A ocorrência de secas no segundo semestre é comum na região, mas no ano passado atingiu extremos, com níveis críticos de baixa das águas do Rio Amazonas e seus afluentes, reduzindo a capacidade operacional do Porto de Manaus para 50% e comprometendo a competitividade das empresas da Zona Franca devido aos altos custos de fretes e matérias-primas.
As indústrias de bens de consumo, brinquedos, e bens duráveis, tais como motocicletas e eletroeletrônicos, que utilizam resinas plásticas em sua composição, são as mais afetadas, justamente em um período que antecede a produção de itens para suprir a demanda das compras de final de ano. Assim, esses fabricantes montaram planos de ação para encarar a situação já que a estiagem deste ano promete ser tão intensa quanto a anterior. A ausência de chuvas já é perceptível e deve continuar até novembro.
O Governo Federal está monitorando a situação e anunciou medidas de apoio, incluindo a contratação de serviços de dragagem dos rios Amazonas e Solimões, sob a coordenação do Ministério de Portos e Aeroportos.
Esforço de reconstrução aumenta a demanda de resina
Os números apurados pela Argus apontam que os abalos sofridos pela Braskem em Triunfo (RS) durante e no período imediatamente posterior às cheias ocorridas no Rio Grande do Sul já começam a ser superados.
Após uma forte queda de produção atribuída principalmente à paralisação das operações no Complexo Petroquímico de Triunfo , devido às fortes chuvas ocorridas na região no mês de maio, a empresa divulgou uma taxa de utilização de capacidade de 71% para seus crackers no segundo trimestre de 2024 em seu Relatório de Produção e Vendas, uma queda de 3% em comparação com o primeiro trimestre de 2024 e de 1% em relação ao segundo trimestre de 2023.
Os danos foram parcialmente compensados pelo aumento da taxa de utilização nos Complexos Petroquímicos da Bahia e de São Paulo. Em 7 de maio, a Braskem informou, por meio de um fato relevante, que concluiu com segurança a paralisação planejada de todas as suas unidades no Complexo Petroquímico de Triunfo, correspondente a 30% da capacidade de etileno e 25% da capacidade de propeno do Brasil. Porém, a empresa retomou com segurança as operações assim que as condições climáticas se normalizaram. A capacidade anual da Braskem em Triunfo é de 660.000 toneladas de propeno e 740.000 toneladas de polipropileno (PP).
A demanda de resinas no Rio Grande do Sul aumentou, devido às ações de reconstrução do Estado após as cheias. Embora as operações logísticas ainda estejam comprometidas, a expectativa é otimista, conforme comentou Fernandes: “Nota-se especialmente aumento de demanda por PVC, para o mercado de tubos e conexões e para fabricação de bolsas de sangue, assim como PP para tampas, destinadas ao envase de bebidas, e para a produção de não-tecido. Após o fim das chuvas, o povo gaúcho voltou com força total e o Estado está trabalhando muito para retomar a normalidade”.
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Imagem: manine99/Shutterstock
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