Os data centers estão se expandindo significativamente nas áreas de demanda mais concentradas da América Latina por computação em nuvem e redes 5G e, mais recentemente, por IA - Inteligência Artificial, incluindo Brasil, México, Chile e Colômbia. No entanto, a volatilidade econômica, em particular as flutuações cambiais, as incertezas políticas e o risco hídrico representam obstáculos ao retorno do investimento no longo prazo e reduzem parte da atratividade da região para o desenvolvimento de novos data centers, apesar da disponibilidade de energia renovável de baixo custo, segundo o relatório Data Centers – Latin America & Caribbean: Policy and water risks limit data center boom despite abundant renewable energy, publicado pela agência de classificação de risco Moody’s em 6 fevereiro de 2025.
De acordo com o Data Center Map, a América Latina abriga apenas 5,2% de todo o setor, mas os desenvolvedores globais estão investindo cada vez mais para expandir a presença geográfica a fim de alcançar essas regiões de crescimento elevado ou fortalecer suas posições existentes no mercado regional. Novos operadores e desenvolvedores estão entrando e construindo instalações na região, e os existentes continuam a expandir sua própria capacidade de data center. As expansões estão em andamento e iniciativas governamentais, como incentivos fiscais e de investimento para o setor, também estão aumentando a oferta na região.
O Chile atraiu gigantes da computação em nuvem (hyperscale) com seu ambiente político favorável aos negócios e moeda estável. O México é o segundo maior mercado de data centers da América Latina, e recentemente foram anunciados investimentos consideráveis em Querétaro. Os investidores também estão desenvolvendo rapidamente novos data centers na Colômbia, principalmente perto da capital, Bogotá.
Tendo em vista que a maior parte da capacidade de data center atual e de curto prazo na América Latina atenderia à demanda de 5G e computação em nuvem, em vez de serviços de IA, o lançamento da plataforma de IA DeepSeek, de código aberto e de baixo custo, em janeiro de 2025, não mudaria materialmente a expectativa de crescimento dos data centers na América Latina. Na verdade, segundo o relatório, isso pode apresentar oportunidades de crescimento de empresas menores de IA na região, o que era considerado menos prováveis antes desse anúncio.
O Brasil tem o maior mercado de data centers da América Latina, com investimentos concentrados perto de grandes centros populacionais no estado de São Paulo e do Rio de Janeiro. Somente São Paulo tem cerca de 500 megawatts (MW) em capacidade instalada, com outros 1400 MW em vários estágios de construção ou desenvolvimento, de acordo com o dataCenterHawk.
As condições favoráveis aos negócios e arcabouços regulatórios estáveis dão ao Chile e Uruguai vantagens sobre outros países da região, e eles já atraíram investimentos relativamente grandes para novos data centers de escala maior. Por outro lado, o ambiente de negócios do Brasil e a recente interferência política nas mídias sociais diminuíram o apetite de empresas de tecnologia desenvolverem data centers de IA em hiperescala, preferindo a infraestrutura 5G e de computação em nuvem.
Certas medidas governamentais e riscos cambiais representam obstáculos para o desenvolvimento de data centers de IA em hiperescala. O Brasil cobra impostos de até 60% sobre bens importados, o que torna a IA menos viável economicamente devido à necessidade de unidades de processamento gráfico (GPU, em inglês), que são importadas e caras. Um projeto de lei agora em análise no Congresso prevê uma compensação a artistas e autores pelo uso de seus trabalhos no treinamento de grandes modelos de linguagem (LLM, em inglês), o que encarece o pré-treinamento de IA. Enquanto isso, as flutuações cambiais tornam os serviços em nuvem menos atrativos para hiperescaladores, que cobram clientes em reais e acumulam custos principalmente em dólares dos EUA. O real caiu mais de 20% em relação ao dólar em 2024. Ainda assim, o interesse em investimentos em data centers relacionados à IA em hiperescala aumentou.
O mix de fornecimento de energia diversificada e renovável da América Latina oferece preços de eletricidade globalmente competitivos e, na sua maior parte, está prontamente disponível, mas a confiabilidade do abastecimento hídrico continua a representar um importante risco de crédito para a região. A energia renovável abundante da América Latina é particularmente atrativa para indústrias intensivas em eletricidade e inquilinos de data centers, que se comprometeram com metas de zerar as emissões de carbono. Mesmo assim, as condições climáticas variáveis e a infraestrutura limitada afetam a confiabilidade do serviço de abastecimento de água e as áreas mais atrativas para o desenvolvimento de data centers nem sempre têm o melhor acesso, mesmo em países com recursos hídricos abundantes, como Colômbia e Brasil. O Brasil detém cerca de 12% da água doce do mundo, mas o crescimento populacional, a demanda industrial e a variabilidade climática exacerbam o estresse hídrico periódico nas regiões Sul e Sudeste. Em 2024, o estado do Rio Grande do Sul enfrentou fortes inundações, que provocaram quedas de energia por 30 dias. O Nordeste semiárido, incluindo Fortaleza, CE, experimenta escassez crônica de água e infraestrutura limitada.
Figura: A confiabilidade de abastecimento de água é a principal preocupação de crédito na América Latina, mas a energia renovável continua. Fontes: Agências governamentais de estatísticas, coordenadores nacionais de eletricidade, Banco Mundial, Moody's Climate on Demand e Moody's Ratings
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