Para Eduardo Shuto, Diretor de Desenvolvimento Corporativo e Estratégia para a América Latina na Equinix, empresa com presença em 34 países e mais de 250 data centers interconectados, o Brasil apresenta uma oportunidade única para o treinamento de IA, graças à sua matriz energética robusta. Nos Estados Unidos, a principal preocupação é a disponibilidade de energia para novas construções, um desafio que o Brasil ainda não enfrenta. “Ns EUA, as áreas com energia disponível estão se esgotando rapidamente”, disse durante o painel “Inteligência artificial no data center edge e mini-edge”, realizado no Netcom em São Paulo.

A disponibilidade de energia é essencial para rodar a IA, em especial o treinamento. Com altas cargas de processamento, a densidade deve passar de 5 kVA para 30, 50, 70 kVA e até 120 kVA por rack, exigindo novas tecnologias de refrigeração e energia. “Estamos falando de retirar do ambiente 10 vezes mais calor do que o tradicional. Trabalhamos em estreita colaboração com fornecedores e desenvolvedores de servidores para enfrentar os desafios de consumo de energia e climatização, como a refrigeração em líquido”, detalhou Shuto.

Segundo o executivo, a Equinix atua em diversas frentes, desde o core data center, essencial para o treinamento de IA e machine learning, até o mercado emergente de edge data centers, que se concentra na inferência e está mais próximo do consumidor final. “Estamos investindo significativamente na região para desenvolver o mercado de edge data centers, uma área ainda nova globalmente”, afirmou Shuto.

A Equinix não entrega aplicações nem plataformas, mas oferece infraestrutura, energia, refrigeração e interconectividade para que as empresas possam operar eficientemente. Recentemente, a empresa anunciou uma parceria com a NVIDIA para oferecer GPUs como serviço para setores que lidam com propriedade intelectual e necessitam de IA privada, como financeiro, saúde e agricultura.

Apesar de estar no início da implementação de IA, na parte de inferência, com projetos-piloto em colaboração com universidades, Shuto acredita que o Brasil tem um caminho promissor pela frente. “A revolução da IA vai acontecer rapidamente, seguindo o exemplo dos Estados Unidos e Europa”, disse.

 

Obstáculos

Na avaliação de Rogério Mariano, chefe global de planejamento de rede e estratégia da Azion, empresa de edge computing presente em cerca de 80 países com 170 POPs, há três principais obstáculos para a implantação de data centers no Brasil, apesar da crescente demanda.

O primeiro obstáculo é a segurança jurídica. “Conheço dois grandes grupos de data center que desistiram de investir no Brasil devido à insegurança jurídica, que pode variar de estado para município. Decisões de hoje podem não valer amanhã, o que retém muito investimento”, explicou Mariano.

O segundo desafio é a questão dos impostos sobre serviços e produtos. “Comprar uma GPU e prestar serviços nos Estados Unidos é mais fácil devido à economia consolidada. No Brasil, a interconexão é centralizada em Fortaleza, Rio e São Paulo, e espalhar isso é um desafio devido aos impostos”, comentou.

O terceiro obstáculo é a infraestrutura de telecomunicações. “Existem bons projetos de fibra óptica e redes neutras no Brasil, além de redes satelitais de baixa órbita e o avanço do 5G. No entanto, das 5570 cidades brasileiras, mais ou menos 2000, 2200 ainda estão mal conectadas. “Tecnologias como fibra óptica e 5G FWA podem ajudar a sanar isso”, disse Mariano.

Para o executivo da Equinix, os custos de implementação (Capex) no Brasil são tão caros quanto nos países do Primeiro Mundo. “Só que a gente fatura em real. A nossa taxa de impostos é uma das maiores do mundo. Quando um estrangeiro compara os investimentos em São Paulo e em outros lugares do mundo, ele pensa duas vezes ou desiste”, disse. O Brasil tem uma grande oportunidade de captar investimentos, mas pode perder para o Paraguai ou países da África, onde o custo de implantação de data centers é menor. “Mesmo assim, o Brasil ainda é o principal mercado de data centers. Com incentivos, o país pode liderar o treinamento de IA”, disse Shuto.

Para os próximos cinco anos, Mariano, da Azion, acredita que a IA será implementada de qualquer forma, superando os obstáculos atuais. “Há uma grande vontade do mercado de TIC para que isso aconteça”, concluiu.

Na foto, da esquerda para a direita, Renan Lima Alves, da ABDC - Associação Brasileira de Data Center e coordenador do painel “Inteligência artificial no data center edge e mini-edge”; Rogério Mariano, da Azion; e Eduardo Shuto, da Equinix



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