Por Leonardo Calicchio*

 

 

Em algumas áreas como segurança pública, segurança privada e até na área de artes marciais é comum a seguinte citação: “o Brasil é um país que não investe em segurança. O Brasil investe em sensação de segurança”. No caso de proteção a pessoas ou ao patrimônio, os indivíduos querem se sentir seguros e pagam por isso, mas, via de regra, falta capacitação para analisar a efetividade das ações adotadas.

 

Na área de engenharia não é muito diferente quando o assunto é proteção de metais. Ou seja, quando o assunto é corrosão, é normal, no Brasil, primar-se por um baixo investimento inicial, o que, em muitos casos, implica em um alto custo de manutenção.

 

A corrosão de metais é o processo de deterioração de um metal devido a reações químicas ou eletroquímicas com o ambiente no qual ele se encontra, resultando na formação de óxidos, hidróxidos ou outros compostos indesejados que comprometem a integridade do metal.

 

Para se ter uma ideia da importância desse tema, de acordo com a National Association of Corrosion Engineers, nos Estados Unidos o custo anual com manutenção e reparos devido à corrosão gira em torno de R$ 1,5 trilhão. Isso representa cerca de 14% do PIB do Brasil, apenas com a corrosão de metais.

 

Uma das proteções anticorrosivas mais conhecidas é a pintura, que no Brasil é mais associada à estética do que à proteção. E neste sentido, no que se refere à pintura, entra a questão da cultura de proteção, pois é comum nos Estados Unidos e em outros países o uso do termo “coating” e não “painting” quando se fala em proteção de metais.

 

Desse modo, a própria terminologia em inglês reforça a cultura de proteção, que contribui para uma exigência natural de parâmetros protetivos. Afinal, pretende-se revestir e não apenas pintar. Perceba aqui o poder cultural atribuído à terminologia.

 

Existem inúmeras maneiras de proteger os metais da corrosão, como o uso de vernizes, revestimentos metálicos ou plásticos, assim como anodização, inibidores químicos, proteção catódica, controle de temperatura e/ou umidade. Até o design de componentes ou estruturas metálicas pode contribuir para redução da corrosão. 

 

Entretanto, causa certo espanto o fato de que no Brasil o consumo de materiais metálicos naturalmente resistentes à corrosão, como os aços inoxidáveis, seja tão baixo. E focamos nos aços (ligas ferrosas), pois dos quase 100 elementos metálicos da tabela periódica, as ligas com base no ferro são responsáveis por 94% de todas as ligas metálicas que se produz e se consome no mundo.

 

De acordo com a Abinox – Associação Brasileira de Aço Inoxidável –, o consumo per capta de aços inoxidáveis no Brasil jamais atingiu 3 kg. Nos Estados Unidos esse valor é de 15 kg. E em países como Itália, Taiwan e Coreia do Sul o consumo per capta passa dos 30 kg.

 

No Brasil existe o paradigma de que aços inoxidáveis são caros. E, normalmente, os aços inoxidáveis realmente têm valor maior se comparados aos aços carbono comuns, que são amplamente utilizados em todo tipo de indústria ou construção no Brasil.

 

Contudo, exemplos observados em outros países, e estudos realizados no Brasil, mostram que com um pouco de capacitação em engenharia de aplicação e seleção de materiais, a escolha pelo aço inoxidável pode reduzir drasticamente os gastos com corrosão e manutenção, retornando em pouco tempo o investimento em material de melhor qualidade e criando, em alguns casos, projetos com durabilidade secular, como é o caso do edifício Chrysler em Nova York, que foi inaugurado em 1930, e todo o aço inoxidável utilizado no projeto tem aparência de novo até os dias de hoje.

 

Em Tóquio, no Japão, o uso de tubulações de aço inoxidável foi adotado para reduzir significativamente as perdas de água devido a vazamentos. Graças à grande resistência à corrosão do aço inoxidável, estima-se que as tubulações subterrâneas irão durar ao menos 100 anos.

 

No projeto, ainda em andamento, em Londres, conhecido como Thames Tideway, para coleta e tratamento de esgoto, o aço inoxidável como material resistente à corrosão foi de fundamental importância para uma expectativa de vida também secular deste sistema.

 

A formação de uma cultura pragmática em relação ao uso de recursos é de fundamental importância para a construção de uma sociedade eficiente e sustentável. Dado o papel crucial dos metais em nossa sociedade, lembrando que metais como o cobre e o ferro foram adicionados ao nome de eras, a formação de uma cultura de proteção dos metais é inevitável para o que almejamos como sociedade do futuro.

 

*Leonardo Calicchio é docente dos cursos de engenharia de materiais e engenharia mecânica da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).



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