O cenário de desabastecimento de insumos plásticos que se tornou realidade para muitas empresas transformadoras no Brasil não é vento passageiro, acreditam os dirigentes da Adirplast - Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins. “Nunca tivemos tantos acontecimentos que impactaram a produção e o consumo ocorrendo ao mesmo tempo e em um curto período”, explica Laercio Gonçalves, presidente da entidade. Segundo ele, essa é uma crise que começou a ser desenhada no início da pandemia, com as dificuldades de produção e a insegurança de como manter trabalhadores em operação, tanto aqui no país, como no restante do mundo.
Se de um lado o coronavírus parou o mundo e a produção de insumos, do outro fez aumentar a demanda de produtos das áreas de saúde e higiene. Além disso, o setor de embalagens, que retomou rapidamente seus pedidos, fez com que o desequilíbrio entre oferta e demanda ficasse ainda mais latente.
E não foram só as falhas em se prever aumento nas demandas que propiciaram o cenário atual. Osvaldo Cruz, diretor da Entec Ravago, distribuidora internacional de resinas, explica que as questões climáticas também vêm atrapalhando a indústria. “No quarto trimestre de 2020, os EUA e o Golfo do México foram impactados por tempestades e furacões que contribuíram para retardar ainda mais o início das operações das plantas petroquímicas da região. Além disso, as companhias têm apresentado sucessivos problemas técnicos”, diz Cruz. E, como se não bastasse, lembra, o setor ainda foi surpreendido nas últimas semanas pelo congelamento e baixas temperaturas do Texas, que fizeram com que, mais uma vez, várias refinarias fossem fechadas: “Isso deve impactar certamente ainda mais na produção de plásticos”.
As incertezas externas têm afetado diretamente o Brasil, afirma Gonçalves. Segundo ele, o país importa historicamente 30% do consumo aparente de resinas termoplásticas e a demora na chegada desses produtos por aqui afeta o mercado nacional, mesmo que haja notados esforços de produção local.
Além disso, explica o presidente da Adirplast, é o resultante da relação entre oferta e demanda que sabidamente controla o preço dos produtos. E no setor de resinas não é diferente. Falta de produto no mercado e alta procura significam, certamente, preços mais altos. Assim, esse desequilíbrio vivido hoje pelo mercado fez com que o preço de algumas resinas saltasse em até 90%, tanto aqui no Brasil como no mundo. E, no caso específico do Brasil, parte desse aumento também se justifica pela alta do dólar, que impacta diretamente os insumos petroquímicos, entre outros custos do setor, como frete.
E a alta nos preços não é um fenômeno de curto prazo, diz Gonçalves. “Ao contrário. Essa é uma tendência que se explica por vários motivos, como, por exemplo, pelo preço do barril de petróleo que saltou de US$ 40 no final de 2020 para US$ 60 atualmente. A alta de mais de 20% da nafta e do etano são outros indicadores. Soma-se a isso um dólar de R$ 5,45, e paradas nas plantas nos EUA, além de manutenções no Brasil”, explica o presidente da Adirplast.
Os executivos acreditam que a crise do desabastecimento deve perdurar por todo o ano, chegando ao primeiro trimestre de 2022. Com ela, deve seguir também a alta de preços.
A Adirplast agrega empresas distribuidoras de insumos plásticos que, juntas, tiveram um faturamento bruto de cerca de R$ 4,5 bilhões em 2020. Elas responderam por cerca de 12% de todo o volume de polímeros e filmes biorientados comercializados no país. Credenciadas pelos fabricantes, essas empresas garantem ao cliente final a qualidade do produto e dos serviços de logística e crédito. Além disso, contam com uma carteira de 7000 clientes, atendendo cerca de 65% dos transformadores de plásticos.
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