A ArcelorMittal Tubarão, localizada na Grande Vitória, ES, inaugurou no dia 13 de setembro a maior planta de dessalinização de água do mar do Brasil. O sistema é resultado de investimentos de R$ 50 milhões e tem capacidade inicial de 500 m³/hora, o que permitirá reduzir em cerca de 30% o volume de água hoje captado no Rio Santa Maria da Vitória.
A inauguração da planta é fruto dos estudos e trabalhos realizados desde 2015, no âmbito do Plano Diretor de Águas. De acordo com o presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO ArcelorMittal Aços Planos América do Sul, Benjamin Baptista Filho, os primeiros sinais de escassez hídrica começaram a surgir em 2014. Nos dois anos seguintes a planta chegou a passar por alguns racionamentos por parte da concessionária local Cesan, que capta água do Rio Santa Maria da Vitória e a fornece em estado bruto para a siderúrgica, que realiza o tratamento em sua estação.
“A legislação determina que, no caso de qualquer evento hídrico, a prioridade de fornecimento é de uso humano e animal. O uso industrial fica no final da fila”, disse Baptista Filho. Para evitar riscos, durante esse período foram realizadas inúmeras alterações e melhorias nos processos de consumo de água doce, que corresponde a 4% do consumo total do complexo. Grande parte (96%) vem do mar e é utilizada para a refrigeração dos equipamentos de produção de aço.
Além dos baixos níveis do reservatório local, estudos nacionais e internacionais sobre mudanças climáticas alertavam para os riscos de estiagem nos próximos anos. O Plano Diretor de Águas incluiu diversas medidas de segurança hídrica, com envolvimento dos colaboradores, como redução de vazamentos e desperdícios, adoção de reúso e perfuração de poços, além da construção da planta de dessalinização. Somente com as ações de uso racional, foi possível reduzir a captação do rio em cerca de 40% no período, de 2850 para os atuais 1800 m3/h, com destaque para o índice de recirculação de água superior a 97%. “O programa foi premiado em 2018 por um órgão internacional do aço, World Steel Association, como um dos mais relevantes em gestão hídrica”, disse o presidente.
Construída em área de cerca de 6 mil m², a planta de dessalinização consumirá cerca de 3 MW de energia elétrica e representa menos de 1% do total gerado pela própria ArcelorMittal Tubarão, de 500 MW, que é autossuficiente. A água captada do mar (cerca de 1300 m3/h) passa por duas etapas de pré-filtração, com discos e membranas de ultrafiltração, antes de seguir para os skids de osmose reserva. A água dessalinizada (500 m3/h) será misturada com a água industrial já produzida em Tubarão e vai alimentar processos produtivos para a fabricação do aço. A salmoura resultante da dessalinização (os restantes 800 m3/h) volta para o oceano por um canal de retorno, com uma concentração salina segura para o ecossistema marinho e sem impactos ambientais. “Essa concentração é totalmente diluída depois de 500 metros”, disse Erick Torres, vice-presidente de Operações ArcelorMittal Aços Planos América do Sul. A usina de dessalinização aproveita o mesmo processo de captura e lançamento de água do mar já existente na empresa, o que facilitou a implantação da obra.
As equipes fizeram estudos durante cerca de dois anos, incluindo avaliação de várias alternativas tecnológicas, análises de qualidade da água do mar e influências físicas e biológicas da salmoura, discussões técnicas com fornecedores de todo o mundo, testes em laboratório e até visitas técnicas em plantas na Argentina e nos Estados Unidos. Pesquisadores do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da ArcelorMittal do Brasil e da Espanha (Astúrias) participaram das pesquisas. A planta foi construída pela Fluence Corporation e ganhou o prêmio “Projeto Inovador” durante o Congresso IDA – International Desalination Association, principal evento mundial de dessalinização e tratamento avançado do mundo, realizado em outubro de 2019 nos Emirados Árabes Unidos. As 294 membranas de ultrafiltração e 1085 de osmose reversa de 128 metros foram fornecidas pela empresa japonesa Toray Membrane, com subsidiária em São Paulo.
Mesmo com os desafios impostos pela pandemia, as obras foram realizadas dentro do cronograma previsto. “Sua construção demandou a criação de 220 novos postos de trabalho. Um grande volume de profissionais que, juntamente às nossas equipes, executou todo o processo dentro dos mais rígidos controles de segurança para garantir a saúde e a integridade de todos”, disse o presidente. Um dos diferenciais do projeto está na sua configuração por módulos, que permite fácil expansão futura. A capacidade do primeiro módulo (500 m³/h) é suficiente para abastecer cerca de 80 mil pessoas/dia.
Além disso, a empresa desenvolve várias outras ações em sua gestão hídrica. Neste mês de setembro, assinou Termo de Compromisso para utilização de água de reúso de Estação de Tratamento de Efluente da Cesan, a ser construída. O acordo prevê a compra mensal para fins industriais de 540 m3/h. A aquisição será feita por contrato de 25 anos, podendo ser renovado, e reduzirá ainda mais a demanda por água do Rio Santa Maria da Vitória.
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