Propriedades rurais, indústrias, comunidades e bairros isolados ou não atendidos pela rede pública de saneamento têm o desafio de tratar o esgoto de forma adequada antes de descartá-lo no meio ambiente. A Eisenia Tecnologia e Meio Ambiente, empresa fundada em 2017 por dois engenheiros brasileiros e um chileno, com sede em Itapira, SP, oferece uma alternativa econômica, natural e sustentável para o tratamento de efluentes, a ETE BioModular, capaz de garantir elevados índice de eficiência, conforme padrões do Conama 357, sem necessidade de produtos químicos e com baixo custo operacional.

A solução é um aprimoramento do sistema Toha, desenvolvido e popularizado no Chile, em meados dos anos 1990, atualmente com mais de 1000 plantas em operação em vários países, como Chile, Argentina, Peru, Portugal, Índia, EUA e Nova Zelândia. “Não é um sistema novo, apenas desconhecido no Brasil”, diz André Rinoldi, engenheiro ambiental e gerente executivo da Eisenia.

A ETE BioModular funciona da seguinte forma: depois passar por uma grade para retenção de sólidos grosseiros, o efluente líquido segue para uma elevatória e na sequência é aspergido de forma intermitente sobre um bioma constituído de uma seleção de materiais orgânicos e de materiais inertes. A parte sólida contida nos efluentes é digerida pela Eisenia Foetida (minhocas californianas) e bactérias, resultando em energia para sua sobrevivência e húmus da digestão. A parte líquida, além de filtrada mecanicamente, passa por um sistema opcional de desinfecção ao final do processo, como cloro ou raios UV. Os animais, em constante movimentação, mantêm a taxa de permeabilidade do filtro durante todo o tempo, evitando qualquer tipo de entupimento do sistema. Essas minhocas são comuns no mercado brasileiro, usadas para compostagem, e ficam sempre confinadas no tanque, sem risco de invadirem outros espaços. Através de autorregulação populacional, elas se reproduzem de acordo com a quantidade de alimentos que recebem, sem necessidade de acréscimo ou renovação ao longo dos anos.

Com capacidade de atender desde uma casa até cidades de 50 mil habitantes, a estação da Eisenia requer uma área média de 1 m² para atender entre três e seis habitantes, podendo ser verticalizada, caso existam restrições de espaço. “A área ocupada é muito inferior às lagoas de estabilização e similar às de lodos ativados”, diz o engenheiro. Como o efluente é tratado imediatamente após a geração, através de reações aeróbias, não gera gases e, portanto, não produz odores desagradáveis. O sistema pode ser aberto nas laterais ou completamente fechado, para integração à arquitetura ou paisagismo local.

Segundo o engenheiro, a ETE BioModular oferece diversas vantagens em relação às estações compactas geralmente usadas no tratamento descentralizado, como os custos de operação até 80% menores. “Nas ETEs convencionais, a proliferação das bactérias que tratam a matéria orgânica é acelerada por ação da oxigenação forçada e consequentemente há um alto consumo de energia elétrica. Por ter muitas partes rotativas, o custo de manutenção é elevado, muitas vezes não informado pelos fabricantes no momento da venda”, afirma Rinoldi. Além disso, o lodo gerado nas estações convencionais deve ser retirado semanalmente e enviado a um aterro licenciado. “Isso também é um problema, pois em áreas distantes dos grandes centros, a opção de descarte dos resíduos pode ser inviável”, diz.

Na ETE BioModular, o húmus de minhoca é retirado em um intervalo que varia de 18 a 24 meses, podendo ser vendido ou utilizado nas áreas verdes do empreendimento, pois o material é inerte, sem risco de contaminação. Essa operação não requer mão de obra especializada e nem parada do sistema. O efluente tratado pode se destinar a reúso (classe III) em rega de áreas verdes, torres de refrigeração e lavagem de ruas. Caso não tenha utilidade, pode ser infiltrado no solo ou descartado em corpos hídricos.

Os engenheiros da Eisenia realizam o projeto, o processo de licenciamento ambiental e a instalação da ETE completa, mas o cliente tem a opção de construir a parte civil, reduzindo os custos totais de implantação. “Há ainda a opção de BOT – build, operate and transfer ou prestação de serviço, em que a empresa é remunerada pelo m3 de efluente tratado”, diz.

Para instalações temporárias, como canteiros de obra, ou instalações definitivas que demandam uma instalação rápida e simples, a Eisenia oferece o modelo móvel, em contêiner de 20 ou 40 pés, pronto para uso, podendo atender até 100 pessoas, já composto de caixa de entrada de esgoto, sistema de gradeamento, duas bombas elevatórias e painel de controle. “O cliente só precisa conectar as tubulações hidráulicas de entrada de esgoto e saída de efluente tratado e ligar a energia ao painel elétrico”, diz.

Além de efluentes domésticos, a estação sustentável também pode ser adotada em indústrias com alta carga orgânica, como laticínios e frigoríficos. Outras aplicações com resultados comprovados são o tratamento de efluentes de caminhão limpa-fossa e lixiviado de aterros. Além disso existem estudos no exterior que mostram a eficiência do processo para efluentes têxteis e hidrocarbonetos.

De acordo com Rinoldi, muitos empreendedores evitam inovar, devido ao receio de enfrentarem dificuldades nos processos de licenciamento. “No entanto, as normas não focam na tecnologia utilizada e sim nos resultados de saída dos efluentes. Nosso sistema segue os padrões normais para licenciamento. Em caso de desconhecimento do órgão ambiental da localidade a ser feita a instalação, a Eisenia faz uma reunião prévia com os técnicos para esclarecer dúvidas e assegurar que não ocorrerão problemas nas autorizações solicitadas”, finaliza o gerente.



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