Produzido no recém-inaugurado CIS - Centro de Inovação em Sustentabilidade da ETE - Estação de Tratamento de Esgoto Uberabinha, em Uberlândia, MG, o biocarvão traz importantes características que o tornam atrativo para produtores rurais e tem potencial de gerar ganhos para a agricultura. Formado a partir do lodo resultante do tratamento do esgoto gerado pela cidade, por meio de um processo de degradação termoquímica na ausência de oxigênio chamado pirólise, o insumo também tem grande capacidade de promover o sequestro de carbono, o que o torna um relevante e valorizado redutor de poluente. Além disso, os resultados do projeto-piloto, idealizado pela Prefeitura de Uberlândia, apontam que o biocarvão é rico em fósforo, macronutriente essencial para o crescimento e desenvolvimento saudável de plantações e para aumentar a resistência das lavouras a pragas e doenças.

Podendo ser utilizado para aumentar a fertilidade do solo, o biocarvão resultante da pirólise efetuada no CIS apresenta em sua composição química tanto macro quanto micronutrientes. Entre os macros, o destaque é para o fósforo, que apresentou teor próximo a 11%; o nitrogênio e potássio, que apresentaram teores de 0,52% e 0,48%, respectivamente; cálcio, com 2,9%, e magnésio, com 0,45%. Já entre os micronutrientes, o zinco e o cobre apresentaram uma concentração em torno de 500 mg/kg e o manganês 205 mg/kg.

O biocarvão ainda pode ser misturado com o pó de basalto, uma rocha abundante em Uberlândia, transformando-o em um adubo organomineral mais completo nutricionalmente. O pó de rocha de Uberlândia apresenta na sua composição vários nutrientes: potássio (1,2%), cálcio e magnésio, que somados podem apresentar teores entre 10% e 14%. Também há presença de silício, podendo chegar até 48%, conferindo à planta resistência a pragas e doenças.

O engenheiro agrônomo Marcos de Matos Ramos, diretor da Campo, parceira do município no estudo em pirólise, destacou também que os resultados do projeto mostram que o biocarvão gerado traz uma série de benefícios na agricultura, entre eles: 1) melhoria e manutenção da fertilidade do solo e o fornecimento de nutrientes, resultando na redução da dependência de importações de fertilizantes; 2) aumento da biodiversidade e atividade microbiológica do solo; 3) aumento da retenção de água no solo; 4) aumento da eficiência do fertilizante mineral quando aplicado com o biocarvão, que poderá promover o aumento da absorção de nutrientes pelas plantas e consequentemente aumento da produtividade das culturas.

No meio ambiente, o biocarvão gerado também proporciona vantagens significativas. Estudos já realizados em diversos países apontam que o produto permite a reciclagem de nutrientes, destinação segura e ambientalmente correta de resíduos, estoque de carbono no solo, redução da emissão de gases de efeito estufa como o metano (CH4), promoção de uma agricultura mais sustentável e economia circular.

“Quando retiramos o lodo do aterro, temos uma economia de recursos, que hoje são empregados para deposição. É uma economia direta na ordem de R$ 3,5 milhões por ano, valor que a autarquia municipal responsável pela gestão da ETE deixaria de utilizar para depósito de rejeitos em aterro. Além dessa economia, temos a melhoria na condição e na vida útil do aterro, que tem um alto custo, pois, para o depósito do lodo é preciso misturá-lo a resíduos de construção civil, que poderiam ter outra destinação, como a aplicação em estradas vicinais”, explicou o consultor técnico da área de energia da Campo Edmar Gelinski.



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