Uma equipe da Uerj - Universidade do Estado do Rio de Janeiro desenvolveu o aplicativo Reusa, que promete facilitar a conexão entre produtores e consumidores de uma fonte alternativa ainda pouco conhecida pelo público em geral. A ferramenta, concebida por pesquisadores do Desma - Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Faculdade de Engenharia, está em fase de testes.

A ideia surgiu a partir do projeto “Regen: águas regeneradas para reúso na região metropolitana do Rio de Janeiro como alternativa de abastecimento em caso de escassez e crise hídrica”. O estudo, iniciado em 2019, conta com o apoio da Faperj - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Contribuindo para a geração de novos negócios, a ferramenta funcionará como um marketplace e permitirá o controle em tempo real das demandas e estoques das ETEs. Por meio de um sistema de georreferenciamento, os clientes poderão saber qual concessionária consegue atender às suas necessidades em relação ao tipo de água de reúso, preço, localização e quantidade disponível.

Segundo o professor Marcelo Obraczka, coordenador do projeto, a tecnologia é uma proposta inovadora na gestão de recursos hídricos no Brasil. “Ela reduzirá substancialmente os custos operacionais de indústrias e de outros grandes consumidores com o uso mais racional do sistema de água potável, sendo também uma alternativa de aumento de receita na cadeia de produção de água”, afirma.

A carência de uma cultura de reaproveitamento, assim como a escassez do registro de dados históricos, são algumas das dificuldades enfrentadas pelo grupo responsável pelo Reusa. Entre os próximos passos, está o de identificar a melhor forma de transporte das águas. “Para maiores vazões, a viabilidade do reúso está vinculada ao emprego de adutoras, ou seja, um sistema encanado que conduz as águas tratadas das ETEs aos reservatórios de distribuição”, explica Obraczka.

No Brasil, esse tipo de estrutura ainda é pontual, sendo comum o transporte por caminhões pipa. “Em países que já têm o sistema de reúso mais desenvolvido, a água reutilizada é distribuída pelas tubulações da rede de abastecimento pública convencional”, complementa.

O aplicativo também teve como referência a dissertação de mestrado de André Alcântara de Faria, defendida na Faculdade de Engenharia em 2020, que gerou um mapeamento da oferta e da demanda existente, identificando sobretudo as indústrias aptas a receber o produto. Esse levantamento de informações foi essencial para sua construção. “O app é uma ferramenta estratégica que potencializa a utilização da água de reúso, especialmente nos momentos de escassez, que têm sido recorrentes em nossa região, devido à poluição dos mananciais de captação na bacia do Rio Guandu”, aponta Faria.

No Brasil, há uma grande oferta de água com características favoráveis para serem reutilizadas. Segundo dados da ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, entre 2013 e 2019 foram criadas 900 novas ETEs no país. Contudo, boa parte dos efluentes tratados retorna aos rios, acarretando o uso desnecessário de água potável em diversas situações evitáveis.

Para a adequação da tecnologia, os pesquisadores trabalham com o intercâmbio de expertise e dados com instituições estratégicas do setor, como a Cedae - Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro, a Saes - Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade e o Inea - Instituto Estadual do Ambiente. A Cedae, por exemplo, participou da etapa de validação técnica da plataforma. O aplicativo permitirá a geração de relatórios gerenciais que poderão ser utilizados pelos órgãos para acompanhar a movimentação das águas de reúso e embasar decisões.

Desde 2022, a iniciativa conta com o financiamento do Sebrae e da Fundep - Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, por meio do Catalisa ICT. O programa busca incentivar a ciência aplicada a soluções inovadoras para os problemas da sociedade.

Com o objetivo de viabilizar o lançamento do Reusa, a equipe quer firmar novas parcerias e obter recursos via editais de fomento. A ferramenta poderá atender outras localidades, desde que haja disponibilidade dos dados necessários para sua operação. “Onde e quando for implementado, o aplicativo certamente promoverá uma gestão mais sustentável e o uso mais consciente desse recurso tão importante que é a água”, defende Faria.



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