O início de um novo ano é o momento de constatar o desempenho no ano anterior e traçar perspectivas para os meses que se seguem. E para reunir eses dados por setor, facilitando a nossa compreensão de como giram as engrenagens da atividade industrial, associações e entidades apresentam seus levantamentos e arriscam seus palpites para o próximo ano com base nos fundamentos da economia, uma ciência bem pouco exata, mas que ainda funciona como norte para o planejamento estratégico das empresas.

 

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), apurou dados que refletem o crescimento da indústria como um todo. Os indicadores industriais divulgados pela entidade no início de fevereiro apontam que o faturamento real da indústria de transformação cresceu 5,6% em 2024, em relação ao ano anterior, a maior alta do indicador desde 2010. O resultado ocorre mesmo com a queda de 1,3% registrada na passagem de novembro para dezembro, e oferece uma visão macro, pois congrega diferentes setores industriais que atuam na manufatura, ou transformação de matérias-primas em produtos, incluindo as do segmento de usinagem de peças.

 

Outro indicador que reflete o desempenho positivo da indústria no ano passado é o de número de horas trabalhadas na produção, que saltou 4,2% frente a 2023. Em dezembro, no entanto, o índice diminuiu 1,3%. Já a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) caiu 0,8 ponto percentual no último mês do ano e fechou 2024 em 78,2%, um patamar 0,6% inferior ao registrado em 2023.

 

Máquinas e equipamentos

 

Os dados colhidos pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) apontam que o consumo aparente de máquinas e equipamentos encolheu 0,2% em 2024 e a receita líquida interna caiu 11%, fazendo recuar para 54% a sua participação no consumo nacional desses itens, uma perda de 6% de mercado em relação ao ano de 2023. No mesmo período, as importações de máquinas e equipamentos cresceram 16,6%, atingindo o segundo maior nível da história. O maior resultado se deu em 2013, ano em que o País registrou uma alta taxa de investimento (cerca de 21% do PIB).

 

A receita total de máquinas e equipamentos – resultado das receitas de vendas no mercado interno acrescido das exportações – também encolheu e encerrou o ano com queda de 8,6% ante 2023, a terceira queda consecutiva.

 

Nas exportações também houve queda (-5,5%), mas, ainda assim, o setor registrou o segundo maior nível da história, abaixo apenas do resultado de 2023, quando exportou US$ 14 bilhões em máquinas e equipamentos.

 

As medidas protecionistas que vêm sendo adotadas por Donald Trump poderão interferir nas transações futuras com os Estados Unidos. Porém, de acordo com José Velloso, presidente executivo da Abimaq, ainda não é possível prever este impacto. Os Estados Unidos são o principal destino das nossas exportações, consumindo 26% do total, enquanto a Argentina fica em segundo lugar, com 9%, e o México em terceiro, com 6%”, comentou.

 

O executivo considera que uma guerra comercial entre México e Estados Unidos pode abrir espaço para o Brasil vender mais máquinas no México, visto que o país não é um tradicional fabricante de equipamentos. “Se houver aumento de tarifa das máquinas que vão do Brasil para os Estados Unidos, será ruim e veremos como encarar essa situação. Como o Brasil tem uma balança comercial zerada com os EUA, não acredito em uma política de tarifas para as máquinas brasileiras”, concluiu, comentando que a guerra comercial atualmente em pauta começou muitos anos atrás e tem relação com a invasão de produtos chineses no mercado norte-americano, assim como acontece no mercado brasileiro.

 

Mais investimentos em 2025

 

Os resultados modestos de 2024 não impedem a projeção de crescimento para 2025. Uma pesquisa realizada pela Abimaq entre os dias 1 de dezembro de 2024 e 20 de janeiro de 2025 sondou as intenções de investimento para o próximo ano por parte dos fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos, trazendo dados animadores. Após anos consecutivos de quedas nesse quesito, o setor anunciou que pretende fazer investimentos de R$ 8,35 bilhões, um crescimento de 4,04% em relação ao realizado em 2024 (R$ 8,03 bilhões).

 

A decisão de reposição de máquinas depreciadas, ampliação e modernização do parque industrial ocorreu após três anos seguidos de queda nas receitas líquidas de vendas. Quando consultados no início de 2024, os fabricantes tinham expectativa de um leve crescimento nos investimentos, que não se concretizou devido a alterações de conjuntura.

Para o ano de 2025, o cenário de desaceleração das atividades econômicas, reflexo da política monetária, poderia ser um fator de inibição dos investimentos do produtor de máquinas, mas não foi o que a pesquisa revelou. Anos seguidos de queda nos investimentos impuseram a necessidade de modernização tecnológica das empresas (38,2% da amostra).

A ascensão do mercado no longo prazo também contribui para a decisão de um maior nível de investimentos em 2025. Quase 32% das empresas consultadas informaram que pretendem investir para ter sua capacidade industrial ampliada, distribuindo os seus recursos  como mostrado no gráfico ao lado.

 

A preocupação com a reposição de máquinas depreciadas também apareceu entre os participantes da pesquisa. Dentre os fabricantes de máquinas e equipamentos consultados, 22% pretendem investir para substituir seu maquinário.

 

De acordo com informações da Abimaq, ainda que não tenha sido citado na pesquisa, o Programa Depreciação Acelerada anunciado pelo Governo Federal em 2024 é outro importante motivador dos investimentos. O programa reduz de dez anos (em média) para dois anos o prazo de depreciação dos ativos fixos, tornando, na prática, os investimentos mais baratos ao antecipar recursos que reduzirão a base de cálculo do imposto de renda.

 

O projeto permite que a empresa inclua no cálculo do Imposto de Renda e de Pessoa Jurídica e a Contribuição Social 50% do valor do equipamento adquirido no ano em que ele for comprado e instalado, e os demais 50% no ano seguinte. Em condições normais, os valores associados à depreciação eram distribuídos ao longo de sua vida útil do bem, em prazos superiores a dez anos.


 

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Imagem: Abimaq


 

 

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