Por Marcelo Souza*
Não há dúvidas de que o ano de 2020 marcará a humanidade. Em um futuro próximo, veremos os livros de histórias falando sobre o mundo antes e depois da Covid-19. Em meio à abundância de incertezas, é muito difícil prever o que seria o novo normal, mas com base nos fatos, podemos afirmar que em 2021, veremos um mundo diferente.
Sob os holofotes desse cenário, o Fórum Econômico Mundial, fundado pelo professor Klaus Schwab, possui como missão o compromisso com a melhoria do estado do mundo. Fundado em 1971 para discutir práticas de gestão global, o Fórum vem desempenhando um grande papel entre as lideranças mundiais.
O professor Schwab nos brindou, por exemplo, com a terminologia Indústria 4.0 em 2010, momento em que falou sobre as futuras transformações que o mundo viveria. Dessa vez, Schwab nos alerta que, apesar do alto preço pago com a pandemia que nos assola, pode ser a oportunidade que o mundo precisa para repensar e corrigir muitas coisas, uma espécie de segunda chance.
Nos últimos 200 anos, na chamada era das revoluções, o capitalismo produziu muita riqueza. Quase triplicou a expectativa de vida, erradicou muitas doenças que dizimaram milhares de pessoas, nos levou à lua, desenvolveu a medicina, engenharia, os meios digitais, psicologia, a ciência como um todo, mas não fomos capazes de equilibrar e dividir toda essa riqueza de forma a promover o bem comum. Assim, vemos que o capitalismo é ótimo para produzir e péssimo para dividir, gerando uma desigualdade imensa, dividindo o mundo entre "poucos com muito" e "muitos com pouco".
Além da geração mal distribuída de riqueza, quando observamos o dia de sobrecarga da Terra, fica bastante clara a exploração dos recursos naturais sem precedentes. Trata-se da data em que consumimos todos os recursos naturais disponíveis para o ano e, a cada ano que passa, batemos novos recordes.
Para exemplificar, se comparado com uma conta bancária, seria o dia que se entra no vermelho. Em 2019, a data Brasil foi 31 de julho e, nos EUA, 15 de março, ou seja, utilizamos os recursos naturais disponíveis para o ano de 2019 inteiro antes do meio do ano. Para que se possa ter parâmetro de comparação, o dia de sobrecarga da terra na década de 70 era 29 de dezembro (em 2020 este dia foi 22 de agosto, considerado atrasado em razão da pandemia).
Para Schwab a Covid-19 evidenciou muitas das vulnerabilidades da humanidade, mas mostrou que o mundo pode agir rápido e junto por um bem maior. Para o professor, a palavra reset é a primeira que vem em mente quando se fala do momento, pois agora temos de pensar como estruturar, como projetar e viver era pós Covid-19. Uma coisa é certa, não podemos voltar ao velho normal, temos de encarar o que vivemos em 2020 e aproveitar para fazer como nossos pais e avós fizeram após a Segunda Guerra Mundial para realmente refletir sobre o que deu errado e o que poderíamos fazer melhor.
Com a atual e impactante transformação ritmada pela quarta revolução industrial, uma renovação completa na economia, política e sociedade já vinha ocorrendo. A pandemia com certeza catalisou isso e veremos um mundo diferente, com novos valores e consecutivamente, mercados deixarão de existir e outros surgirão. Assim, essa reinicialização do mundo, segundo executivos do Fórum Econômico Mundial deverá ser pautada em três prioridades centrais.
Primeiro: Tornar o mundo mais resiliente para eventuais novas surpresas, cisnes negros, como são chamados, talvez diferentes tipos de vírus.
Segundo: Tornar o mundo mais inclusivo, mais justo e equilibrado. Atingimos níveis insustentáveis de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Terceiro: Tornar o mundo muito mais verde, colocando todas as energias na descarbonização e preservação de recursos para evitar uma catástrofe ainda maior.
Dessa maneira podemos esperar para os próximos anos uma agenda muito mais pautada em engenharia social e economia circular. As empresas precisam olhar atentamente para esses pontos, pois o pensamento não será mais de lucro como fator principal e sim do impacto que a organização terá na sociedade que está inserida.
*Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox, pioneira em indústrias de reciclagem, refurbishing de eletrônicos e plataformas digitais da economia circular.
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