Por Roberta Duarte*
Os mercados globais de polietileno (PE) e polipropileno (PP) vivenciaram uma transição muito rápida no comércio mundial em 2021. A oferta aumentou mas, em contrapartida, a escassez de frete marítimo e de contêineres continua a crescer e perturbar as cadeias de abastecimento, o que está ocasionando uma regionalização momentânea do comércio de resinas.
O início de operação de novas plantas petroquímicas levanta uma preocupação global referente ao excesso de capacidade entre as petroquímicas mundiais.
Apesar de a capacidade produtiva aumentar, delineia-se um mercado desigual, devido aos altos custos de matéria-prima e valores de fretes exorbitantes, o que gera incertezas de preços no futuro, e por isso, há uma expectativa de continuidade da regionalização do comércio de resinas por mais alguns meses.
O caos logístico global e a disparada de preços dos fretes marítimos provocados pela pandemia deverão se estender ao menos até 2022. Isso significa preços altos e prováveis atrasos na chegada de produtos pelos próximos meses.
A logística global vive um cenário que podemos caracterizar como uma “tempestade perfeita”.
Além do descompasso entre oferta e demanda no mercado, há atrasos na liberação das cargas, eventos extraordinários (como o bloqueio do canal de Suez, em março) e surtos de Covid-19, que provocam bloqueios na chegada de navios, afastamento de funcionários e fechamento de terminais, como por exemplo, o caso do porto chinês de Ningbo, o terceiro maior do mundo em movimentação de contêineres, que está parcialmente fechado há mais de uma semana.
Hoje, podemos afirmar que não é apenas a importação da China que está com fretes acima do normal. O custo do transporte vindo da Europa triplicou desde março deste ano. As rotas do Golfo Pérsico também estão pressionadas e os trajetos vindos dos EUA, que estavam sob controle, dispararam nas últimas semanas, em meio aos congestionamentos nos portos americanos.
Cenário América do Norte
As vendas internas de PE e PP durante janeiro a maio aumentaram 4% neste ano e as vendas para exportação de PE e PP caíram. Custos de frete mais altos, atrasos no transporte e congestionamento dos portos limitam as importações de PP para os EUA. Espera-se que a demanda doméstica de PE e PP permaneça forte pelo menos até o início do quarto trimestre.
A demanda de PE segue forte nos setores de embalagens. O consumo de PP é forte em setores produtores de bens de consumo, utilidades domésticas e automóveis. Há uma grande diferença entre os preços do PE nos Estaods Unidos e em outros mercados globais, o que restringiu ainda mais as exportações dos EUA, especialmente para a Ásia.
A Gulf Coast Growth Ventures, uma joint venture 50:50 entre a ExxonMobil e a Sabic, deve inaugurar uma nova planta de PE de 1,3 milhões de toneladas ao ano no Texas, até o final do último trimestre deste ano.
Cenário América Latina
O fornecimento de resinas de origem norte-americana para a América Latina se recuperou no segundo trimestre. Porém, a disponibilidade de grades de PEAD e PP dos EUA para alguns países da América Latina continuam limitadas. Novamente se repete o cenário de custos de frete mais altos causados pela escassez de contêineres, o que ocasiona atrasos nos embarques, limitando o PE e o PP, especialmente a matéria-prima asiática, que tem menor custo.
Espera-se que o consumo de resinas regionais seja mais forte no segundo semestre em relação ao primeiro, devido ao aumento da taxa de vacinação contra a Covid-19, devido a uma redução gradual das restrições de mobilidade e vários planos de reativação econômica por parte dos governos. Ofertas de PE da Europa, Turquia, Egito e Oriente Médio estão disponíveis, com preços em torno de US 200 a tonelada, abaixo do praticado nos Estados Unidos.
Os gargalos da cadeia de abastecimento e o congestionamento portuário estão causando disponibilidade limitada de transporte para a costa oeste da América do Sul, especialmente para o porto de Buenaventura, na Colômbia. Bloqueios de estradas que afetam o porto colombiano ocasionam perdas nas operações dos transformadores de plástico.
Cenário Europa
Os gargalos no transporte de contêineres continuam restringindo os embarques de longa distância para a Europa. Os compradores estão cautelosos em relação às importações e estão inclinados a comprar suprimentos domésticos. Espera-se que as margens de produção de PE e PP diminuam no segundo semestre, à medida que diminuem também os problemas de abastecimento.
A disponibilidade de suprimentos de PE e PP do Oriente Médio para a Europa pode aumentar com a demanda de importação mais fraca na China devido ao aumento da produção doméstica. As exportações dos EUA podem normalizar no quarto trimestre e aumentar rapidamente as exportações para a Europa devido aos prazos de entrega mais curtos e maior disponibilidade de frete para rotas transatlânticas.
O índice de produção de veículos motorizados da União Europeia mostrou quedas contínuas este ano, o que poderia diminuir a demanda por copolímeros de PP. Alguns outros setores da economia devem apresentar desaceleração sazonal da demanda no segundo semestre.
Cenário Turquia
Demanda mais firme, suprimentos limitados e gargalos contínuos de embarques mantiveram os preços das resinas da Turquia firmes no primeiro semestre. Os baixos estoques de PE e PP nos transformadores entre os meses de abril e maio geraram reabastecimento em junho, elevando os preços.
Espera-se que a demanda de PE e PP aumente a partir deste mês, após uma redução gradual da contaminação por Covid-19 e das restrições de mobilidade. Os preços dos polímeros caíram no segundo trimestre, à medida que a escassez de suprimentos e as restrições logísticas das importações diminuíram gradualmente. Alguns transformadores de plásticos continuaram a conter as compras de resinas na perspectiva de preços mais baixos. A alta inflação e as taxas de juros locais amorteceram a demanda por produtos acabados, enfraquecendo a demanda.
Cenário Rússia
As exportações russas de PE e PP foram baixas no primeiro semestre por causa da demanda mais firme e dos preços internos mais altos. As exportações de PE da Rússia para a China entre janeiro e maio caíram em relação ao ano anterior, mas as exportações para a Turquia e Bélgica fizeram subir os preços de PEBD da Rússia, que permaneceram altos em julho, apesar do enfraquecimento dos preços globais, já que a manutenção planejada manteve os suprimentos limitados.
As petroquímicas domésticas reduziram os preços de PE substancialmente no final do segundo trimestre devido ao aumento da disponibilidade na Ucrânia e Uzbequistão. Produtores domésticos reduziram os preços do PP no final do segundo trimestre devido à pressão competitiva das importações do Azerbaijão, Egito e Irã no mercado interno. Os preços do copolímero PP caíram junto com a demanda mais fraca desde o final de junho.
Cenário Oriente Médio
O fornecimento limitado de etano está impedindo os produtores do Oriente Médio de operar suas fábricas com capacidade total. Uma tempestade de inverno nas Américas e manutenções planejadas e não planejadas na Europa levaram a casos de força maior, permitindo ao Oriente Médio maximizar as vendas, aumentando as exportações para essas regiões. A flexibilização das restrições da Covid-19 e a retomada das viagens aéreas na Arábia Saudita devem estimular a demanda por produtos acabados.
Os gargalos de embarque do início de maio dificultaram as exportações dos produtores do Oriente Médio para as Américas.
As exportações emergentes de PP da China baixaram os preços em todos os mercados asiáticos, exercendo forte pressão sobre os exportadores do Oriente Médio. Espera-se que novas partidas de plantas e um cronograma de manutenção no terceiro trimestre levem a novos aumentos de fornecimento.
Cenário Sul da Ásia
O aumento das restrições da Covid-19 nos portos indianos no segundo trimestre levou as empresas de navegação a reduzirem os embarques para a Índia, diminuindo as importações de PE. O governo indiano aplicará os regulamentos do Bureau of Indian Standards (BIS) em todas as importações de PE a partir deste ano. Isso poderia levar alguns exportadores a suspender temporariamente as exportações para aquele país até que as licenças do BIS sejam obtidas.
O lançamento de investigações antidumping sobre as importações de PEBD em outubro de 2020 poderá reduzir as importações para a Índia no curto prazo. Já a demanda por resinas para embalagens continua forte no país, com vendas crescentes de comércio eletrônico.
A maior produção de PP da China está sendo direcionada para o sul da Ásia. As restrições de envio para as Américas levaram os produtores do Oriente Médio a aumentar as exportações para o sul da Ásia no final do segundo trimestre. Os suprimentos de PE e PP para a região também devem aumentar ainda este ano, após o início das novas fábricas da HPCL-Mittal Energy.
China
Os preços domésticos competitivos de PE e PP na China no primeiro semestre mantiveram baixo o interesse de importação dos chineses. Os preços mais baixos dos polímeros na China versus os praticados nos mercados globais também reduziram o interesse de exportação dos produtores para a China.
A escassez de oferta global de PP, no entanto, levou os produtores chineses a exportar agressivamente PP para outros mercados no primeiro semestre, abrindo novas oportunidades. Os preços mais firmes das matérias-primas podem elevar os preços domésticos do PE e do PP.
As preocupações com o excesso de capacidade continuam a pairar sobre os mercados de PE e PP e pressionam os preços. A China vai adicionar uma nova capacidade produtiva este ano de 5,8 milhões de toneladas/ano de PE e 5,2 milhões de toneladas/ano de PP. As taxas exorbitantes de frete estão restringindo as exportações do PP chinês para outros mercados desde o final do segundo trimestre, elevando o estoque doméstico.
A demanda chinesa de exportação de produtos acabados para as Américas e Europa pode cair este ano devido à escassez de contêineres.
Sudeste da Ásia
As exportações de PE dos Estados Unidos para o sudeste da Ásia são escassas por causa da demanda no mercado doméstico. A produção interna continua equilibrando a demanda, enquanto os atrasos para o início das operações das novas fábricas impediram quaisquer volumes excedentes.
Uma forte recuperação econômica nas Américas e na Europa poderá impulsionar a demanda de exportação de produtos acabados do sudeste asiático. Altas taxas de infecção de Covid-19, no entanto, enfraqueceram a demanda por produtos finais e as operações dos transformadores foram afetadas. Os casos de Covid-19 permanecem altos principalmente por causa da lentidão nas taxas de vacinação na região.
Produtores do sudeste asiático não conseguem exportar resinas além da Ásia por causa das taxas de fretes altas. Maiores taxas de frete e escassez de contêineres também desacelerou as exportações de produtos acabados entre os transformadores. Os gargalos e atrasos no embarque enfraqueceram as compras e desaceleraram a atividade de importação.
Cenário Brasil
A demanda brasileira de resinas termoplásticas subiu 24,8% no 1º semestre de 2021 e o uso da capacidade instalada na indústria petroquímica ficou em torno de 77%, o que nos faz concluir que há espaço para aumento da produção local.
Vivemos quatro meses (abril a julho) atípicos no Brasil, em um cenário contrário ao que estava ocorrendo no restante do mundo. Devido à redução da alíquota do imposto de importação do PP homopolímero, ao aumento nos volumes de importações de PP e PE e à queda acentuada da demanda devido à terceira onda da Covid-19, tivemos uma acentuada queda dos preços.
Os níveis de estoques ficaram muito altos e a demanda local fraca, o que levou as empresas a uma queda de faturamento entre 30% e 50%.
Para os próximos meses deste segundo semestre, eu visualizo uma demanda aquecida no Brasil, escassez de resinas e preços em elevação. O aquecimento do mercado e o aumento da demanda devem ser fortes o suficiente para compensar o recuo visto nestes últimos quatro meses. Este cenário favorece a alta dos preços das resinas, embora eu avalie que há pouco espaço para que os preços subam além dos níveis recordes que vivenciamos no primeiro trimestre.
Este é o momento ideal para os transformadores brasileiros planejarem, desenvolverem novos canais de fornecimento e investirem na homologação de grades contratipos e alternativos, para que, caso este provável cenário se concretize, as empresas tenham opções de abastecimento, sejam as protagonistas de seu processo de compras e não fiquem mais refém de um mercado protecionista e fechado, como aconteceu no final do ano passado e primeiro semestre de 2021.
Roberta Duarte é Gerente de Contas Estratégicas no Brasil da Montachem Internacional (EUA)
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