Por Maria Albuquerque*

 

As mudanças climáticas ganham, a cada ano, a atenção de mais setores da economia e, principalmente, da sociedade. Principalmente porque quando uma pauta dessa envergadura passa a fazer parte das demandas da sociedade civil é porque as empresas já estão no olho do furacão há mais tempo.

 

Com a realização da COP-26, em novembro de 2021, e sua grande articulação em termos de divulgação, o tema das mudanças climáticas imbricou-se às decisões que vão afetar muitos negócios, especialmente aqueles em que acordos direcionam para o fim da utilização de derivados de petróleo e, por consequência, do plástico.

 

Panorama do papel do ramo do plástico em ações de sustentabilidade e inovação

 

Por mais que, dia após dia, os materiais plásticos se mostrem indispensáveis à sociedade em que vivemos, é inegável que sua cadeia produtiva tenha de arcar hoje com décadas de descaso em relação aos impactos ambientais gerados pelo descarte irresponsável. A indústria do plástico recebeu o aviso de cobrança dessa conta há pelo menos uma década.

 

 

Nesses tempos, em que as ações voltadas à promoção da sustentabilidade são valorizadas, a indústria do plástico pode se favorecer de sua vocação natural, já que os conceitos de ESG (Environmental and Social Governance) estão intrinsecamente ligados à natureza de seu negócio.

 

Políticas de ESG direcionam as práticas de toda a cadeia de produção dessa que é uma das principais indústrias para a economia nacional. Iniciativas de minimização de impactos e de geração de valor socioambiental implantadas por empresas desse segmento visam garantir a sustentabilidade social e ambiental, cujos resultados devem ser mensuráveis e monitoráveis, em contextos abertos à aprendizagem e transparência.

 

Essa é a realidade da indústria do plástico que, como agente de impacto climático, sofre imensa pressão para a adoção de tecnologias de reparação ambiental e, por isso, deve estar atenta à necessidade de inovação e de disrupção.

 

Mais do que muitas outras indústrias de transformação, a indústria do plástico deve se voltar necessariamente ao tema de geração de resíduos, que gira em torno de seu negócio, destacando-se entre quaisquer outros. Sobre isso, considero de extrema relevância dois pontos de atenção que trarão diferencial competitivo para a indústria do plástico: a economia circular e a logística reversa.

 

A economia circular, que associa o desenvolvimento econômico ao melhor uso de recursos naturais, por meio da menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis, faz com que a indústria do plástico repense sua forma de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente de recursos naturais.

 

Já a logística reversa, instituída no Brasil em 2010 pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), mas ainda embrionária em sua implementação, depende de altos investimentos, porém não é mais uma questão de necessidade e sim de urgência. Só para citar um exemplo, a coleta de embalagens PET ainda é basicamente realizada e paga pelas administrações públicas.

 

A iniciativa privada precisa se envolver na logística reversa para que os resíduos plásticos passem de problema a solução. Afinal, um resíduo plástico que volta para a economia na forma de novos produtos torna-se o amálgama de uma verdadeira cadeia de valor.

 

Não podemos esquecer que de 6 bilhões de toneladas de plástico produzidas em todo o mundo, nem 10% foi reciclado. Esse dado nos dá o famoso copo meio cheio ou meio vazio: está meio vazio quando demonstra a falta de preparo da indústria e a falta de conhecimento do consumidor em relação aos conceitos da logística reversa, reúso e reciclagem. E está meio cheio quando olhamos para as inovações tecnológicas que surgem em todos os cantos do planeta visando solucionar esse problema.

 

A indústria do plástico não pode ter sua imagem colada à da vilã, tampouco da salvadora da economia. Ela pode e deve ser uma jogadora de valor estratégico, capaz de jogar em muitas posições e fazer a diferença no uso de recursos como água e energia, na descarbonização em seus processos de produção e transporte, sem esquecer, claro, de manter atenção especial em sua cadeia de suprimentos, educando fornecedores para a temática ESG, engajando seus públicos de interesse em questões de direitos humanos, de diversidade e equidade de gênero, entre tantas outras urgências da sociedade atual.

 

*Maria Albuquerque é fundadora e CEO da Synergia Socioambiental.

 

Imagem: Freepik

 



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