Por Fábio Bello*
A indústria petroquímica tem no setor de refino uma importante fonte de fornecimento de suas matérias-primas, sendo a nafta petroquímica responsável por metade da produção de petroquímicos no mundo. No Brasil essa participação é ainda mais relevante devido a três dos quatro polos petroquímicos nacionais terem sido construídos para consumir a nafta produzida pelas refinarias da Petrobras.
Além do uso no setor petroquímico, as refinarias podem consumir parte da nafta para aumentar a produção de gasolina até o limite de octanagem. No início da década passada as refinarias no Brasil direcionaram o máximo de nafta para atender ao mercado de gasolina, que cresceu em média mais de 10% ao ano entre 2010 e 2014. Como consequência, a oferta de nafta para as indústrias petroquímicas caiu de um patamar de 6 milhões de toneladas (MMta) ao ano para 2 MMta em 2016, seu menor valor histórico, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Fonte: Elaboração da Ohxide a partir dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).
As importações de nafta para o mercado brasileiro vêm, principalmente, dos Estados Unidos, Espanha e Rússia, que são a origem de mais de 70% do total importado no período de 2020 até 2022 (confira abaixo).
Fonte: Elaboração própria da Ohxide a partir de dados da ComexStat.
Os ativos de refino da Petrobras têm passado por um processo de desinvestimento. Até o momento de elaboração desta análise, foram fechadas as vendas da REMAN (Refinaria Isaac Sabbá) no Amazonas, da RLAM (Refinaria de Landulpho Alves) na Bahia, da SIX (Unidade de Industrialização do Xisto) no Paraná e da RPCC (Refinaria Potiguar Clara Camarão) no Rio Grande do Norte
Ainda seguem em processo de venda a REGAP (Refinaria Gabriel Passos) em Minas Gerais, a LUBNOR (Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste) no Ceará, a REPAR (Refinaria Presidente Getúlio Vargas) no Paraná, a REFAP (Refinaria Alberto Pasqualini) no Rio Grande do Sul, e a RNEST (Refinaria Abreu Lima) em Pernambuco. As demais refinarias, todas na Região Sudeste, a Petrobras pretende manter sob seu controle.
Considerando somente as refinarias do plano de desinvestimento, elas são responsáveis por cerca de 37% da oferta de nafta nacional, como mostra o gráfico abaixo.
Fonte: Elaboração da Ohxide a partir de dados da ANP.
Analisando sob a óptica do fator de utilização, nos últimos anos (2020 a 2022), estas refinarias operaram com um fator médio de ocupação de 73%. Isso representaria um gap de 53 mil m3/dia em relação à capacidade instalada de refino.
Com a entrada de novos players no setor refino, a dinâmica deste mercado se altera, tendo em vista que a Petrobras planeja suas atividades de refino com uma lógica de complementaridade e atendimento ao mercado nacional. Novos players quebrarão essa lógica e, provavelmente, irão maximizar sua produção e seu lucro, gerando maior competição nos mercados. Considerando apenas a variável taxa de ocupação, essa nova dinâmica poderá incrementar a produção de nafta em mais de 1 milhão de toneladas por ano, principalmente nas refinarias RLAM (atual Martaripe) e REFAP.
Fonte: Ohxide
*Fábio Bello é consultor sênior Associado na Ohxide Consultoria. Revisão: Flávio Silva, Diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)
Imagem do destaque: Jason Blackeye /Unsplash
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