por Luiz Carlos Assumpção *
Hoje vamos dar um tempo nos temas de mercado e negócios para falar de um outro tópico, tão importante quanto: a segurança operacional. Plantas petroquímicas apresentam uma série de perigos e riscos, associados não só aos produtos que são armazenados, transferidos e processados, mas também às condições operacionais (temperatura, pressão, vazão, entre outras).
Analisando o histórico da ocorrência de acidentes na indústria petroquímica nacional, segundo o Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho – AEAT, publicado pelo Ministério da Previdência Social, o indicador apresenta o seguinte comportamento:
CNAE |
Atividade |
|
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
2021 |
1921-7/00 |
Fabricação de produtos do refino de petróleo |
|
553 |
508 |
618 |
189 |
183 |
2021-5/00 |
Fabricação de produtos petroquímicos básicos |
|
82 |
72 |
117 |
67 |
63 |
2031-2/00 |
Fabricação de resinas termoplásticas |
|
132 |
177 |
171 |
159 |
178 |
Fontes: Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho – AEAT, 2019 e 2021 (Quantidade de acidentes do trabalho, por situação do registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE, no Brasil - 2017/2019 e 2019/2021).
Apesar de não haver registro de aumento dos acidentes de processo envolvendo a indústria petroquímica no Brasil nos últimos anos, isso não significa que as empresas apresentam um sistema de gestão em segurança operacional implementado.
Em muitos casos, ainda é algo incipiente, focado no atendimento de requisitos legais. A figura a seguir apresenta a cronologia de acidentes ampliados ocorridos no Brasil, no período de 2015 a 2019. É possível verificar que foram registradas oito ocorrências e foram consideradas como acidentes amplificados, tanto em termos de gravidade quanto de extensão, gerando impactos nas pessoas, no meio ambiente, nas instalações, nas comunidades do entorno e, principalmente, na imagem das organizações.
A segurança de processos há décadas tem papel central na indústria petroquímica. Vários acidentes ocorridos no mundo como, por exemplo, o acidente de Bhopal, na Índia, levaram ao aprendizado e à adoção de normas e padrões de engenharia (API, ASTM, CCPS, NFPA, ABNT, ASME, entre outros).
É possível verificar que as empresas petroquímicas evoluíram ao longo dos últimos anos no que diz respeito à segurança operacional. A Braskem, por exemplo, através do Projeto “Regras que Salvam Vidas”, prioriza a prevenção de acidentes e a identificação de situações inseguras. São 12 práticas que envolvem conceitos de segurança ocupacional e de segurança de processo.
No entanto, o segmento ainda precisa avançar em alguns aspectos. Há a necessidade de se estruturarem programas de segurança de processos, desde a concepção de um projeto, passando pelas etapas de construção e montagem, operação das instalações e descomissionamento de unidades. Esses programas envolvem uma série de atividades complementares e inter-relacionadas que, através de análises sistemáticas de riscos de processo, permitem a identificação de novos riscos potenciais. Esse é o conceito do RBPS (Risk based process safety, ou seja, segurança de processo baseada em risco) do CCPS (Center for Chemical Process Safety), maior entidade relacionada à segurança das pessoas e de instalações.
Esse deve ser um compromisso de toda organização, começando com o firme empenho da alta liderança, que deve manter o foco no tema, garantir a robustez dos processos e os recursos necessários, e com isso fomentar a cultura necessária para manter o engajamento e os resultados a curto, médio e longo prazo.
Segurança operacional não é uma entrega pontual de uma área da organização. Ao invés disso, é o resultado da aplicação de um programa abrangente, da disciplina na execução e do acompanhamento. Para que isso funcione de forma adequada, a cultura de segurança é fundamental. É essa cultura que direciona o foco e contribui para que as decisões que todos os funcionários tomam o tempo todo, todos os dias, estejam na direção de aumentar a segurança das pessoas e instalações. Criar essa cultura abrangente e resiliente é o maior desafio.
Embora pareça um tema estritamente operacional, ele impacta no resultado do negócio. Afinal, qualquer acidente de trabalho traz perdas econômicas, assim como uma empresa que tem muitos acidentes demonstra que não é segura e com isso, perde mercado.
*Luiz Carlos Fonte Nova de Assumpção é consultor parceiro da OHXIDE Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP) – ohxide@ohxide.com.br
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