por Flávio Silva*

 

Este artigo dá continuidade à análise anterior, publicada em 22/3 e disponível aqui. Nela foi explorada a visão sobre a demanda global de petroquímicos e plásticos, assim como questões de sustentabilidade no setor e impactos no mercado de reciclagem, sob a perspectiva de mercado para os próximos anos.

 

Serão abordados aqui os temas faltantes, que são aplicações e cadeia de fornecimento. Porém, incluímos mais um tema que é a tendência recente de novos projetos de refino voltados para maximizar a produção de químicos. E começaremos nossa análise por este tema.

 

Nos últimos anos, principalmente, na Ásia tem-se propagado projetos de novas refinarias que visam à maximização da produção de químicos ao invés de combustíveis. São os chamados COTC (Crude Oil to Chemicals – Do petróleo para os químicos). A ideia destes projetos foi baseada na premissa de uma eletrificação cada vez maior dos meios de transporte, e com isso, cada vez menos se utilizará petróleo para este fim. O gráfico abaixo mostra uma projeção da McKinsey sobre novos volumes incrementais de consumo de petróleo por segmento de mercado.

 

 Fonte: McKinsey & Company e elaboração da Ohxide Consultoria 

 

Pelo gráfico acima, que contempla projeções até 2035, verifica-se que o setor de transporte deverá perder sua relevância no uso do petróleo já no final desta década. Embora, nós da Ohxide Consultoria, acreditemos que esta projeção está muito pessimista (do ponto de vista do uso no setor de transportes), esta deve ser uma tendência de fato. Acreditamos que a redução maior será a partir de meados da próxima década.

 

E com esta redução do uso de óleo no setor de transportes, o setor que desponta como maior consumidor de petróleo será o de uso químico, seja para a produção de petroquímicos ou solventes, entre outros. Sob esta óptica, muitas empresas de refino começaram a desenvolver tecnologias que permitem gerar um conteúdo maior de químicos em uma refinaria, como mostra a figura abaixo.

 

Fonte: McKinsey & Company

 

 

Ou seja, o setor químico e petroquímico no futuro poderá ter uma sobreoferta de matéria-prima enorme. E será necessário desenvolver mercado para todo o volume gerado. Vale aqui a mesma ressalva que foi feita na parte I desta análise, sobre o balanço da oferta e demanda de eteno: a visão dos cenários hoje é esta, mas com a evolução dos negócios, empresas podem tomar decisões diferentes (como postergação de projetos, desistência, etc) com o propósito de evitar uma sobreoferta, modificando um pouco o cenário previsto.

 

Então, fica claro que a petroquímica e o setor de plásticos precisam desenvolver e buscar cada vez mais aplicações que tenham um maior valor agregado e um maior uso de resinas plásticas, mitigando tanto a questão de margens, como a de demanda. Este será um desafio nos próximos anos para as equipes técnicas e comerciais das empresas envolvidas no setor.

 

 

Fonte: McKinsey & Company e elaboração de Ohxide Consultoria

 

A figura acima ilustra alguns exemplos de segmentos e aplicações envolvendo novos usos do plástico nos próximos anos. São aplicações de maior valor agregado e com um consumo maior de resina, além de uma vida útil mais duradoura.

 

O último ponto é a questão da cadeia de suprimento. No cenário pós-pandemia da Covid-19 , reforçado pelo início da guerra da Ucrânia, muitas empresas do setor químico e petroquímico sofreram com a possibilidade de desabastecimento ou desabastecimento de fato. Isso gerou uma série de questionamentos sobre o modelo então vigente da cadeia de suprimentos, que é de fornecimento global, sem muita preocupação com a quebra dessa cadeia. Porém, esses eventos tiraram muitas empresas da zona conforto, já com a cadeia estruturada, funcionando há muitos anos e com seu custo controlado. Isto provocou reflexões e necessidade de mudanças estratégicas para a cadeia de suprimento (supply chain).

 

E este ano, mais um evento veio reforçar esta necessidade de mudança, que foi a série de ataques dos piratas do Iêmen (houthis) no Mar Vermelho, que ocasionou uma redução drástica do fluxo de navios, impactando, em um primeiro momento, o abastecimento na Europa, os preços de fretes internacionais e o lead time para as entregas. O gráfico abaixo, mostra o índice de fretes internacionais e seu comportamento ao longo dos últimos anos.

 

 

Fonte: Freigtohs.com e elaboração de Ohxide Consultoria

 

Pelo gráfico fica claro o impacto, tanto da Covid-19 quanto da guerra da Ucrânia e agora, mais recentemente, da questão do Mar Vermelho. O ponto mais crítico nesta análise da cadeia de suprimento não é nem o custo do frete, uma vez que isso sempre acaba sendo repassado ao elo seguinte da cadeia, mas o impacto sobre a competitividade de todos do setor. A quebra de fornecimento, diante de acontecimentos como este, impacta a continuidade operacional. Este sim, é um item crítico e muito custoso para grande parte das empresas químicas e petroquímicas, além de outros setores que não são o foco desta análise.

 

Consolidando de forma bem resumida, as tendências para o setor petroquímico nos próximos anos são:

 

- Demanda moderada, com boas chances de crescer menos que a oferta. Neste caso, muitos projetos podem ser postergados e algumas unidades mais antigas podem ser fechadas para equilibrar operações;

- Viés de sustentabilidade e circularidade continua, mas com ações em um nível menor de evolução;

- Muitas empresas repensando seu modelo de supply chain para evitar interrupções da cadeia;

 

Se quiser conhecer mais sobre este mercado ou de outras resinas e suas aplicações e ainda ter acesso a uma série de outras informações entre em contato com a Ohxide, que também publica um relatório mensal de preços e mercado, cobrindo sete famílias de produtos (PE, PP, PVC, PET, PS, ABS e SAN) em três regiões (SP, Sul e NE).

 

*Flávio Silva é sócio-diretor da Ohxide Consultoria (Rio de Janeiro, RJ e Paulínia, SP)

 

 

Leia mais análises de Flávio Silva na seção Petroquímicos do portal da Plástico Industrial.

 

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#Petroquímicos

 



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