Por Assunta Napolitano Camilo*.
A Anuga FoodTec, feira internacional trienal, cuja última edição aconteceu em março de 2024 na Alemanha, traz tecnologias e inovações para a indústria de alimentos e bebidas. Visitando a feira, notei que, devido à urgência no que se refere às mudanças climáticas e ao aquecimento global, bem como à guerra contra a poluição causada pelo descarte incorreto de plásticos, as empresas participantes focaram seus lançamentos na “inovabilidade”, ou seja, em inovações para a sustentabilidade.
A questão exige ações concretas e urgentes. Trata-se de pensar em sermos mais eficientes energeticamente, melhorar os processos produtivos para gerar menos calor, ter menor consumo de água e maior velocidade, e produzir embalagens com maior eficiência, com menor peso e maior shelf-life para reduzir as emissões de carbono.
Para atingir a sustentabilidade plena e garantir a vida neste planeta, é preciso combater a miopia ambiental, na qual muitas pessoas acreditam que a redução do impacto ambiental se resume, apenas, a ações como mudar o material principal da embalagem e pensar em questões de logística reversa, ou ainda em ecodesign.
Com certeza, o ecodesign é uma importante ferramenta para alcançar a economia circular, principalmente para conseguir reduzir 80% dos problemas relacionados à reciclagem. Rever materiais e conceitos também se faz necessário. Além disso, precisamos repensar todos os processos, olhar o todo, fazer uma análise completa do ciclo de vida de produtos e embalagens.
Temos que ampliar o olhar para as questões sociais e sobre como elas impactam o nosso dia a dia e, claro, pensar nos impactos econômicos de cada alternativa.
É tolice pensar que uma empresa vai adotar uma embalagem em detrimento de outra, considerando apenas os temas ambientais. Como disse um professor daqui, “se a opção ‘verde’ ficar ‘vermelho’, na última linha (no resultado), ela morre antes de nascer!”.
Analisar as diferentes fases do processo é uma oportunidade de encontrar gaps e ganhar produtividade. Manter o olhar cuidadoso sobre indicadores de performance, como perdas de início e final de produção, também. A geração de calor e o consumo de água devem ser monitorados.
Envase de bebidas
Embalagens assépticas têm forte apelo à produtividade e quando elas ampliam de fato o shelf-life, além de aumentar a competitividade, promovem ganhos sociais, pois podem chegar a mais pessoas e regiões. É o caso da Elecster, que fornece linhas completas para envase asséptico em pouches, além de material (embalagens flexíveis com alta barreira).
A KHS levou à Anuga FoodTec o novo bloco asséptico com esterilização de frascos. A sopradora por estiramento InnoPET Blomax Série V oferece eficiência energética integrada em linha com enchimento rotativo, com três vezes a capacidade da variante linear. A esterilização de garrafas pode ser combinada com sistema de revestimento FreshSafe PET da KHS.
A fabricante está focada na esterilização de garrafas que – ao contrário da esterilização de preformas – também pode ser combinada com o sistema de revestimento KHS FreshSafe PET, que fornece proteção para bebidas sensíveis. Neste procedimento todos os germes potenciais são removidos dos recipientes imediatamente antes do enchimento.
A nova enchedora rotativa Innofill PET ACF-R foi combinada com a sopradora de estiramento InnoPET Blomax Série V. O bloco asséptico InnoPET BloFill ACF-R opera com capacidade de até 36 mil garrafas de 1 litro por hora, em oposição aos envasadores lineares que operam a uma taxa máxima de 14 mil garrafas por hora. Em breve, o bloco estará disponível com produção de até 48 mil garrafas de 500 ml/hora e redução de germes de 99,9999%.
Chamou a atenção uma garrafa PET desenvolvida para a Índia. A preforma para a garrafa de 200 ml pesava 15 g e tinha shelf-life de seis meses. Com a tecnologia Plasmax, a embalagem chega a 9,6 g, mantendo o mesmo shelf-life. Foi necessário trabalhar também no neck (gargalo), que passou a ser de 22 mm – ASSP mais leve (apenas 2,13 g), um ganho de 33,6 %.
A SIG apresentou duas de suas principais inovações: SIG Terra, um novo material de embalagem cartonada asséptica de barreira total e sem camada de alumínio; e SIG Terra Alu-free + Full Barreira, para um número crescente de categorias de produtos/aplicações como, por exemplo, para uso com produtos sensíveis como sucos de frutas, leite aromatizado e bebidas vegetais. Isso ocorre porque, embora o alumínio represente cerca de 5% de uma embalagem cartonada asséptica padrão, ele é responsável por 25% da pegada de carbono da embalagem com barreira total. Tirar a camada de alumínio da equação reduziu a pegada de carbono.
A Poly-clip, fornecedora de soluções de fechamento, se apoiou neste aspecto do sistema das embalagens, que antes eram utilizadas apenas para embutidos para atender outros mercados como, por exemplo, pet food, sopas e carnes, entre outros. Uma proposta que entrega uma solução muito competitiva.
Ulma e Multivac apresentaram máquinas para embalagem flow-pack de carne moída, uma solução mais econômica e que muito se alinha ao gosto e ao hábito do consumidor brasileiro.
Igualmente importantes em qualquer sistema que envolva o acondicionamento de alimentos e bebidas são os controles e a rastreabilidade. A Optel expôs a solução de rastreabilidade RefPET, que foi, inclusive, introduzida com sucesso em 2023 na fábrica de engarrafamento de um grupo na América Latina pertencente ao sistema global de bebidas não alcoólicas. A solução melhora o desempenho operacional das fábricas de engarrafamento, permitindo gestão de frotas e entendimento completo dos ciclos, garantindo a obtenção de embalagens de qualidade para promover a circularidade.
Os códigos QR permanentes marcados nos ombros das garrafas são exclusivos para cada embalagem RefPET. De volta à fábrica, as embalagens são lidas pelo sistema de visão de 360° para iniciar um novo ciclo.
A francesa Ublo apresentou uma inovadora tecnologia para produção de garrafas por sopro, cujo princípio parte de um rolo de filme, cujo processo foi batizado de Roll to Bottle. A Andros, tradicional empresa do setor de laticínios francês, está utilizando a tecnologia.
A alemã Saier apresentou baldes com liner interno, com opção rígida. O S-Liner MultifilL é um sistema flexível de embalagem que oferece uma solução para uso múltiplo de baldes e que evita a contaminação. Com um forro removível e preenchível separado, o balde permanece limpo e pode ser reutilizado diversas vezes. O produto em si entra em contato com o S-Liner Multifill, que pode ser reciclado após o uso.
O revestimento se ajusta e contorna com precisão o balde transportador, que pode ser fechado com segurança, usando uma tampa padrão. Para proteção contra penetração interna e externa, o revestimento também está disponível com propriedades de barreira.
A Alpla expôs seus projetos para redução de impacto ambiental. O mais interessante e diferente é o PETCUP. O projeto foi desenvolvido em conjunto com a Engel e com a proposta de adoção de copos de rPET ou PET com PCR, em um passo de injeção, portanto, mais econômico. Os copos podem ser reutilizados e depois reciclados.
A Sanpack desenvolveu uma alternativa para unitização de carga ou agrupamento de caixas com uma cinta que chamou de Sanpack, ou “sem embalagem”, em tradução livre. Para algumas cargas, dependendo da distância, é uma solução interessante.
A próxima edição da Anuga FoodTec está marcada para 23 a 26 de fevereiro de 2027, em Colônia, na Alemanha.
*Assunta Napolitano Camilo é diretora do Instituto de Embalagens.
Imagens: Divulgação.
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