Moldes e matrizes são utilizados na fabricação de peças próximas à forma final, antes da usinagem de acabamento para adquirir as tolerâncias e rugosidades exigidas nos produtos. Alguns exemplos de processos de fabricação que utilizam moldes e matrizes são o forjamento; a fundição e o processo de injeção.

Analisando o processo de injeção, por exemplo, observa-se que a utilização de produtos de plástico cresceu exponencialmente nas últimas décadas. De acordo com Daré [3], essa utilização é responsável por cerca de 35% do consumo de polímeros produzidos no país. Boujelbene et al[1] investigou os custos dos produtos de plástico e concluiu que 30% do custo dos produtos está relacionado com a fabricação de moldes, 25% com o processo de injeção, 25% com o material plástico e 20% relacionado com design, simulação e outros custos. Portanto, a fabricação de moldes é o item mais representativo para o custo de um produto plástico.

O desenvolvimento tecnológico das ferramentas de corte permitiu a usinagem de materiais endurecidos, eliminando, assim, perdas relacionadas à interrupção dos processos de fabricação devido ao tratamento térmico. No entanto, alguns processos, tais como a furação, ainda apresentam um desafio ao se trabalhar com aços endurecidos [10].

Entre os processos de usinagem utilizados em moldes e matrizes, a furação está entre os mais importantes, e é um dos mais utilizados no setor metalmecânico brasileiro. Apesar de sua importância, este não progrediu com a mesma velocidade dos processos de torneamento e fresamento, por exemplo.

No entanto, alguns avanços tecnológicos foram notados nos últimos anos, principalmente no desenvolvimento de brocas de metal duro. Além disso, foram estabelecidos novos conceitos de geometria e desenvolvidos novos revestimentos de alta resistência ao desgaste e baixo coeficiente de atrito para a usinagem de materiais endurecidos e de baixa usinabilidade [5,10].

Na furação com brocas helicoidais, os esforços atuantes estão ligados à geometria da broca e às condições de corte do processo (avanço, velocidade de corte e rigidez do conjunto peça/máquina-ferramenta). De acordo com Ferraresi [6] e Diniz et al [5], a força de avanço (Ff) e o momento torçor (M t) são compostos pelos seguintes esforços parciais: resistência devido ao corte do material nas duas arestas principais de corte; resistência devido ao corte e ao esmagamento do material (deformação plástica do material) na aresta transversal; e atrito nas guias e entre a superfície de saída da broca e o cavaco.

As equações 1 e 2 representam, respectivamente, as expressões para a força de avanço (F f) e para o momento torçor (M t), assim como os índices a, b e c representam a resistência das arestas principais, a resistência da aresta transversal e os atritos nas guias e entre a superfície de saída da broca e o cavaco, respectivamente.

Observa-se que, no caso da furação com pré-furação, as parcelas Ffb, da força de avanço (Ff), e Mtb, do momento torçor (Mt), não existirão. Para Ferraresi [6] e Diniz et al [5], a participação percentual de cada parcela nos esforços totais é variável, dependendo do material furado, do avanço, da afiação da broca, da profundidade do furo, da refrigeração etc.

Esses valores variam dentro de alguns limites. A parcela relacionada às arestas principais corresponde de 39-59% (Ff) e de 77-90% (M t); a parcela da aresta transversal de 40-58% (F f) e de 3-10% (M t); e a parcela do atrito nas guias de 2-5% (F f) e de 3-13% (M t).

Camargo [2] realizou um trabalho visando comparar, por meio do processo de furação, a usinabilidade dos aços inoxidáveis ABNT 304 com o similar V304 UF. Neste trabalho, o autor observou que tanto a força de avanço como o momento torçor são influenciados pelo material furado, pelo avanço da ferramenta e pela velocidade de corte. Além disso, os menores valores de avanço da ferramenta corresponderam aos menores valores de força de avanço para ambos os materiais e, por fim, comprovou-se que o aço V304 UF apresentou melhor usinabilidade.

Hamade et al[7] utilizaram o alumínio 6061-T6 no processo de furação com pré-furo para desenvolver uma metodologia capaz de estimar as equações dos esforços de corte do processo, bem como as pressões específicas de corte associadas. Por meio dos experimentos realizados, verificou-se a influência do pré-furo nos esforços de corte. Assim, com o aumento do diâmetro do pré-furo percebeu-se que a força de avanço e o momento torçor diminuíram, e que, ao se variar também o avanço da ferramenta, o momento torçor apresentava maior variação que a força de avanço.

Ke et al[8] desenvolveram um modelo analítico capaz de prever os esforços de corte causados pela variação da espessura do cavaco, durante o processo de furação profunda. Além disso, os autores observaram que o aumento dos esforços de corte, devido ao aumento da profundidade de furação, é causado pelo atrito do cavaco com o canal da ferramenta e com a parede do furo e pelo aumento da espessura do cavaco.

Pirtini e Lazoglu [11] desenvolveram um modelo matemático baseado nos mecanismos e na dinâmica do processo de furação capaz de prever os esforços de corte para várias condições de corte durante o planejamento do processo. Também permite a determinação, simulação e visualização dos perfis dos furos em três dimensões.

Segundo Pirtini e Lazoglu [11], as propriedades e a geometria da broca, o material a ser furado e os parâmetros do processo de furação influenciam não só os esforços de corte como a qualidade dos furos, sendo os esforços de corte os principais responsáveis por problemas relacionados com o processo de furação, como erros de forma, vibração, desgaste de ferramentas etc. Desta forma, o objetivo desse trabalho é analisar a influência da presença de pré-furo na análise dos esforços de corte durante o processo de furação do aço endurecido AISI P20, levando em consideração o sistema de lubrificação, a velocidade de corte e o avanço da ferramenta.

Metodologia

Os experimentos foram realizados no Laboratório de Usinagem do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Os ensaios de furação consistiram na produção de furos passantes de 9,5 mm de diâmetro e foram realizados no centro de usinagem Discovery 560, que tem rotação máxima de 10.000 rpm e potência de 15 kW (figura 1a, pág. 30).

Os corpos de prova utilizados foram de aço-ferramenta para injeção de plástico, AISI P20 (DIN 1.2738) tratados termicamente, com têmpera a 800°C por 30 minutos e revenimento por 60 minutos, para obter uma dureza média de 42 HRC. As dimensões

Furação  

Figura 1 – Centro de usinagem Romi Discovery 560 (a) e detalhe do processo de furação (b)

 

dos corpos de prova eram de 20 x 20 x 11 mm (comprimento x largura x altura), e tiveram as faces superior e inferior retificadas para eliminar saliências e produzir um paralelismo preciso.

Os experimentos foram aleatorizados por níveis em um planejamento estatístico fatorial (2k) e cada condição experimental foi repetida três vezes, somando um total de 48 experimentos. Os parâmetros de entrada foram a presença ou não de um pré-furo nos corpos de prova, o sistema de lubrifi cação (emulsão ou mímina quantidade de lubrificante - MQL), a velocidade de corte e o avanço da ferramenta.

Para a produção dos pré-furos foi utilizada uma broca de metal duro com 3,5 mm de diâmetro e revestimento de TiAlN da fabricante Dormer, código R4583.5. Os furos de 9,5 mm de diâmetro foram realizados utilizando uma broca de metal duro de 9,5 mm de diâmetro e revestimento de TiAlN da fabricante Mitsubishi, código MZS0950MB, classe VP15TF. A técnica MQL foi empregada com 60 ml/h do fluido Vascomill

MMS, da Blaser. A emulsão utilizada apresenta 6% em concentração de óleo e foi aplicada de modo convencional. Foram utilizados dois níveis para a velocidade de corte e dois níveis para o avanço da ferramenta. A tabela 1 mostra os parâmetros de entrada com seus respectivos níveis.

As variáveis de resposta do processo de furação foram a força de avanço média (F fm) e o momento torçor médio (M tm). Para medição das variáveis de resposta foi utilizado um dinamômetro piezoelétrico estacionário Kistler 9272 com quatro canais, um amplificador de sinais Kistler 5070A e o software Dynoware também fornecido pela Kistler. Os dados das respostas foram analisados estatisticamente com o software Minitab e, para a geração dos gráficos dos esforços de corte e obtenção de seus valores médios, empregou-se também o software Matlab.

Resultados

A influência dos parâmetros de entrada e suas interações sobre as respostas força de avanço média (F fm) e momento torçor médio

Furação

 

(M tm) foi verificada usando-se a análise de variância (Anova), considerando-se 95% de significância. Nela, o parâmetro F representa a relação-F, que é calculada dividindo a média quadrada ajustada de cada fator pela média quadrada ajustada do erro.

Os P-valores indicam quais efeitos são estatisticamente significantes no sistema, baseando-se nos resultados experimentais das réplicas. Se o P-valor for menor ou igual a α é possível concluir que o efeito é significante. O valor de α igual a 0,05 indica o nível de significância, ou seja, a condição de 95% de probabilidade de o efeito ser significativo.

O valor de R2 (adj) também exibido na análise de variância mede a proporção da variabilidade presente nas observações das variáveis resposta. Quanto mais próximo de 100% for R2, melhor a capacidade preditiva da variável resposta.

A tabela 2 mostra o resultado da análise de variância para as respostas força de avanço média (F fm) e momento torçor médio (M tm). Deste modo, verifica-se que todos os fatores exercem influência sobre Ffm e Mtm nas análises individuais, assim como a maioria das interações entre os fatores.

As interações “Condição de furação*Fluido”, “Condição de furação*Fluido*Avanço”, “Condição de furação*Avanço*Velocidade de corte” e “Condição de furação*Fluido*Avanço*Velocidade de corte” não apresentam significância para nenhuma das respostas. Já a interação “Condição de furação*Fluido*Velocidade de corte” apresenta significância apenas para M tm.

Influência da condição de furação e do avanço

Os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha quatro grupos, classificados pelas condições de furação e pelos avanços utilizados. Cada grupo com 12 experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com as duas velocidades de corte (25 e

Furação

Figura 2 – Influência da condição de furação e do avanço

 

50 m/min) e com os dois sistemas de lubrificação (emulsão e MQL) utilizados. A figura 2 mostra a análise dos dados desses quatro grupos.

Analisando os dados apresentados na figura 2 é possível verificar que a condição de furação com pré-furo apresenta menores valores de força de avanço média e momento torçor médio que a furação em cheio. Assim, como verifi caram Yamada [15], Camargo [2] e Diniz [4], a maior parcela da força total de avanço é proporcionada pela resistência que a aresta transversal de corte sofre durante a furação, e, como na furação com pré-furo a aresta transversal de corte não estava em trabalho, uma considerável parcela da força de avanço foi reduzida.

Com relação ao momento torçor médio, como há uma menor quantidade de material a ser retirada no processo de furação com pré-furo, apesar de se ter um braço de alavanca maior, menor também foi o valor do momento torçor médio. Ainda de acordo com a figura 2, verifica-se para a força de avanço média que a variação do avanço é mais sensível para a furação em cheio que para a furação com pré-furo.

Como citado, na furação com pré-furo, a aresta transversal de corte não estava em trabalho, o que justifica a furação em cheio ser mais sensível a esta alteração. Para ambas as condições de furação, o aumento do avanço ocasiona o aumento da força de avanço média.

Para o momento torçor médio, o aumento do avanço também provoca uma elevação em seu valor, no entanto, esse aumento é sentido da mesma forma pelas duas condições de furação. Segundo Camargo [2] e Diniz et al [5], o aumento do avanço ocasiona o aumento da seção do cavaco e, consequentemente, dos esforços de corte. No entanto, isso não ocorre na mesma proporção, pois

Figura 3 – Influência da condição de furação e da velocidade de corte

 

Figura 4 – Influência do sistema de lubrificação e do avanço

 

o aumento do avanço diminui a pressão específica de corte.

Influência da condição de furação e da velocidade de corte

Assim como citado na seção anterior, os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha quatro grupos, classificados pela condição de furação e pelas velocidades de corte utilizadas. Cada grupo com 12 experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com os dois sistemas de lubrificação (emulsão e MQL) e com os dois avanços (0,08 mm/rot e 0,12 mm/rot). A figura 3 (pág. 34) mostra a análise dos dados desses quatro grupos.

Analisando os dados apresentados na figura 3, é possível verificar que a condição de furação com pré-furo apresenta menores valores de força de avanço média e momento torçor médio que a furação em cheio, independente da velocidade de corte utilizada. Isso se deve ao fato da aresta transversal de corte não estar em trabalho, como citado anteriormente.

Com relação à alteração da velocidade de corte, a figura 3 mostra que o aumento da velocidade de corte proporcionou um aumento na força de avanço média e uma diminuição no momento torçor médio para ambas as condições de furação.

Influência do sistema de lubrificação e do avanço

Como citado anteriormente, os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha quatro grupos, classificados pelo sistema de lubrificação e pelo avanço utilizados. Cada grupo com 12 experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com as duas condições de furação (em cheio e com pré-furo) e com as duas velocidades de corte (25 e 50 m/min) utilizadas. A figura 4 mostra a análise dos dados desses quatro grupos.

Analisando os dados apresentados na figura 4, verifica-se que o sistema de lubrificação com MQL apresentou maiores valores de força de avanço média e de momento torçor médio que o sistema de lubrificação com emulsão. Segundo Sreejith e Ngoi [14] e Camargo [2], a aplicação da mínima quantidade de lubrificante externamente pode ser comparada com a furação à seco, pois o filme de lubrificante aplicado apresenta um efeito máximo de lubrificação que pode não ser capaz de lubrificar totalmente as guias da ferramenta.

Apesar de Zeilmann [16] e Rahim e Sasahara [12] conseguirem menores esforços de corte com a aplicação do MQL na furação de ligas de titânio, isso não ocorreu com o aço AISI P20 nos experimentos deste trabalho. Mesmo que o MQL tenha apresentado maiores

Furação

Figura 5 – Influência da velocidade de corte e do sistema de lubrificação

 

esforços de corte que a emulsão, exigindo mais potência de corte da máquina-ferramenta e gerando maiores gastos com energia elétrica, a utilização deste sistema pode se tornar benéfica a longo prazo, pois, além do fluido lubrificante ser reciclável e menos agressivo ao meio ambiente, este é utilizado a baixas vazões, o que provavelmente reduz custos na produção.

A figura 4 também mostra que a força de avanço média e o momento torçor médio aumentam quando o avanço é elevado, independente do sistema de lubrificação. Como citado anteriormente, a elevação do avanço ocasiona o aumento da seção de corte do cavaco e, consequentemente, dos esforços de corte.

Influência da velocidade de corte e do sistema de lubrificação

Os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha quatro grupos, classificados pela velocidade de

Figura 6 – Influência da velocidade de corte e do avanço

 

corte e os sistemas de lubrificação utilizados. Cada grupo com 12 experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com as duas condições de furação (em cheio e com pré-furo) e com os dois avanços (0,08 e 0,12 mm/rot). A figura 5 mostra a análise dos dados desses quatro grupos.

Pelos dados apresentados na figura 5, verifica-se, para a força de avanço média, que seus valores foram maiores quando se utilizou o sistema MQL. O aumento da velocidade de corte, juntamente com a utilização desse sistema, não influiu na força de avanço média, no entanto, reduziu o momento torçor médio. Quando se analisa o aumento da velocidade de corte com a utilização de emulsão, percebe-se que ambos os esforços de corte aumentaram.

Segundo Ning et al [9], Sharman et al [13] e Zeilmann et al [17], o material removido durante a usinagem pode apresentar algumas altera-

Figura 7 – Influência da velocidade de corte, do avanço e do sistema de lubrificação

 

ções como deformações plásticas, aumento de dureza e formação da chamada camada branca. O atrito entre as regiões de elevada dureza com a parede do furo provoca dificuldades no escoamento do cavaco, aumentando seu volume e, consequentemente, comprometendo o escoamento do mesmo para fora do furo.

Desse modo, pode-se supor que o aumento da velocidade de corte gerou um aumento na temperatura do aço, o que facilitaria a remoção de material. No entanto, o sistema de emulsão apresentou melhores condições de lubrificação e refrigeração que o sistema de MQL, contendo esse aumento de temperatura e, consequentemente, propiciando o aumento dos esforços de corte

Influência da velocidade de corte e do avanço

Os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha quatro grupos, classificados pela velocidade de corte e avanço utilizados. Cada grupo com 12 experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com as duas condições de furação (em cheio e com pré-furo) e com os dois sistemas de lubrificação (emulsão e MQL) utilizados. A figura 6 (pág. 36) mostra a análise dos dados desses quatro grupos.

Analisando os dados apresentados na figura 6, verifica-se, para a força de avanço média, que tanto o aumento do avanço como o aumento da velocidade de corte propiciaram um aumento no valor da resposta, sendo esta mais sensível para a variação da velocidade de corte.

Com relação ao momento torçor médio, também apresentado na figura 6, verifica-se uma forte influência do avanço na resposta. O aumento do avanço proporcionou um aumento significativo no momento torçor médio, devido ao aumento da seção de corte do cavaco. No entanto, o aumento da velocidade de corte para o avanço de 0,08 mm/rot não influenciou a resposta.

Para o avanço de 0,12 mm/rot, o aumento da velocidade de corte apresentou uma diminuição no valor do momento torçor médio. Ainda de acordo com a figura 6, pode-se dizer que os menores valores de avanço e de velocidade de corte propiciaram os menores esforços de corte.

Influência da velocidade de corte, do avanço e do sistema de lubrificação

Os dados dos experimentos podem ser agrupados de tal forma que se tenha oito grupos, classificados pela velocidade de corte, avanço e os sistemas de lubrificação utilizados. Cada grupo com seis experimentos é composto por forças de avanço médias e momentos torçores médios obtidos com as duas condições de furação (em cheio e com pré-furo) utilizadas. A figura 7 (pág. 37) mostra a análise dos dados desses oito grupos.

Por meio dos dados apresentados na figura 7, pode-se verificar, para a força de avanço média, que o sistema MQL apresentou maiores esforços de corte que a emulsão, independente da velocidade de corte e do avanço utilizados. Para o momento torçor médio, isso só ocorreu quando se utilizou a menor velocidade de corte e o menor avanço juntos.

De acordo com a figura 7, também é possível verificar que o aumento do avanço gerou um aumento nos esforços de corte, independente do sistema de lubrificação. Isso pode ser justificado pelo aumento da seção de corte do cavaco.

Como citado anteriormente, é bem possível que o aumento da velocidade de corte tenha proporcionado um aumento na temperatura do aço, sendo que a emulsão foi capaz de conter esse aumento, diferentemente do sistema MQL. Assim, verifica-se, para o uso do sistema MQL, que o aumento da velocidade de corte não foi tão significativo para a força de avanço média como foi para o momento torçor médio. Com o uso de emulsão é possível que tenha ocorrido uma melhor lubrificação e refrigeração do aço, inibindo o aumento de temperatura e gerando maiores esforços de corte com o aumento da velocidade de corte.

Conclusão

Os dados experimentais deste trabalho mostraram que os esforços de corte durante a furação do aço AISI P20 são influenciados pela condição de furação, pelo sistema de lubrificação, pela velocidade de corte e pelo avanço da ferramenta. A condição de furação com pré-furo apresentou menores esforços de corte que a furação em cheio.

Apesar do sistema de MQL apresentar maiores esforços de corte que a emulsão, a utilização deste sistema pode se tornar interessante a longo prazo, pois, além de ser menos agressivo ao meio ambiente, há a possibilidade da reciclagem do fluido e a vazão utilizada ser baixa, o que pode reduzir custos no processo. Com relação às velocidades de corte e avanço da ferramenta, os menores esforços de corte encontrados foram com a utilização destas variáveis em seus níveis mínimos.

Assim, os menores esforços de corte encontrados foram de 568,7 N para a força de avanço média e 4,9 Nm para o momento torçor médio, quando se utilizou a furação com pré-furo, o sistema de emulsão, a velocidade de corte de 25 m/min e o avanço da ferramenta de 0,08 mm/rot. Já os maiores esforços de corte encontrados foram de 2.733,2 N para a força de avanço média e 9,2 Nm para o momento torçor médio, quando se adotou a furação em cheio, o sistema MQL, a velocidade de corte de 25 m/min e o avanço da ferramenta de 0,12 mm/rot.

Referências

  1. Boujelbene, M.; Moisan, A.; Tounsi, N.; Brenier, B.: Productivity enhancement in dies and molds manufacturing by the use of C1 continuous tool path. International Journal of Machine Tool & Manufacture, Amsterdam, Holland, v. 44, no 1, p. 101-107, 2004.
  2. Camargo, R.: Verifi cação da usinabilidade dos aços inoxidáveis austeníticos através do processo de furação. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.
  3. Daré, G.: Desenvolvimento integrado do produto: uma referência para o projeto de componentes de plástico injetados. Anais do Congresso Brasileiro de Gestão de Desenvolvimento de Produto, UFSCar, São Carlos, Brasil, p. 274-282, 2000.
  4. Diniz, A. E.: Uma contribuição ao estudo do processo de furação de aços inoxidáveis austeníticos. Tese de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1985.
  5. Diniz, A. E.; Marcondes, F. C.; Coppini, N. L.: Tecnologia da usinagem dos materiais. Ed. Artliber, 6a ed., 262 p., São Paulo, 2008.
  6. Ferraresi, D.: Fundamentos da Usinagem dos Metais. Ed. Edgard Blucher Ltda., São Paulo, Brasil, 751 p., 1977.
  7. Hamade, R. F.; Seif, C. Y.; Ismail, F.: Extracting cutting force coefficients from drilling experiments. International Journal of Machine Tools & Manufacture, v. 46, p. 387-396, 2006.
  8. Ke, F.; Ni, J.; Stephenson, D. A.: Chip thickening in deep-hole drilling. International Journal of Machine Tools & Manufacture, v. 46, p. 1.500-1.507, 2006.
  9. Ning, L.; Veldhuis, S. C.; Yamamoto, K.: Investigation of wear behavior and chip formation for cutting tools with nanomultilayered TiAlCrN/NbN PVD coating. International Journal of Machine Tools and Manufacture, v. 48, p. 656-665, 2008.
  10. Oliveira, V. V.; Berkenbrock, E.; Arias, M. L.; Souza, A. F.; Beltrão, P. A. C.: Influência do revestimento na vida útil de brocas de metal duro na usinagem do aço AISI P20. VI Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, Campina Grande, Brasil, 2010.
  11. Pirtini, M.; Lazoglu, I.: Forces and hole quality in drilling. International Journal of Machine Tools & Manufacture, v. 45, p. 1.271-1.281, 2005.
  12. Rahim, E. A.; Sasahara, H.: A study of the effect of palm oil as MQL lubricant on high speed drilling of titanium alloys. Tribology International, v. 44, no 3, p. 309-317, 2011.
  13. Sharman, A. R. C.; Amarasinghe, A.; Ridgway, K.: Tool life and surface integrity aspects When drilling and hole making in Inconel 718. Journal of Materials Processing Technology, v. 200, p. 424-432, 2008.
  14. Sreejith, P. S.; Ngoi, B. K. A.: Dry machining: machining of the future. Journal of Materials Processing Technology, v. 101, no 1-3, p. 287-291, 2000.
  15. Yamada, Y.: Melhoria da produtividade na obtenção de furos em liga de alumínio aeronáutico com ferramentas de aço rápido. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.
  16. Zeilmann, R. P.: Furação da liga de titânio Ti6Al4V com mínimas quantidades de fluido de corte. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
  17. Zeilmann, R. P.; Vacaro, T.; Soares, R.; Teixeira, C. R.; Heiler, R.: Estudo da formação de cavaco na furação a seco do aço AISI P20 endurecido. VI Congresso Brasileiro de Engenharia de Fabricação, Caxias do Sul, Brasil, 2011.

 

 


Mais Artigos MM



Estudo sobre erros de forma no fresamento de peças com geometria complexa

Durante a fabricação de produtos com formato geométrico complexo, diferentes fatores podem levar ao erro de forma e comprometer a qualidade superficial obtida por fresamento. A identificação desses fatores torna-se relevante para a redução de custos e a otimização de processos. Acredita-se que os fatores mais influentes no erro de forma são a escolha adequada de estratégias de usinagem e tolerâncias usadas na programação de usinagem com plataformas CAM, erros de movimentação da máquina CNC, referenciamento para usinagem, parâmetros de corte e deflexão da ferramenta de corte, além de metodologias de inspeção dimensional e vibração no dispositivo de fixação da peça. Este trabalho tem como objetivo identificar e quantificar as fontes de erro geométrico do fresamento CNC de peças com formato complexo. A influência das etapas envolvidas foi avaliada por modelamento de produto em uma plataforma CAD, até sua inspeção final.

19/02/2025


Análise estatística de um modelo matemático para o processo de EDM

A usinagem de peças na indústria metal mecânica requer constante aprimoramento e desenvolvimento, seja por meio da modernização das máquinas operatrizes, da evolução das ferramentas de usinagem ou da análise do processo em si. Para esse último, uma alternativa é analisar as grandezas físicas fenomenológicas que ocorrem durante a usinagem via eletroerosão por penetração (EDM, de electrical discharge machining). O conhecimento das grandezas físicas, tais como corrente elétrica, tensão elétrica, características do material, geometria da região de ação da corrente, calor gerado, entre outras, contribui para a realização da erosão de uma quantidade determinada de massa de material e que resulta na boa qualidade superficial da peça de trabalho e, consequentemente, na boa qualidade do produto final. Este artigo apresenta um modelo teórico físico das grandezas que envolvem o processo de eletroerosão por penetração. Os resultados das simulações do modelo teórico mostram que o mesmo pode ser utilizado para analisar a quantidade de calor gerada e a quantidade de massa de material a ser erodida e consequentemente ser uma ferramenta para entender os fenômenos termofísicos que consideram como variáveis as características do material, forma geométrica da região a ser erodida e a energia para realizar tal usinagem.

19/02/2025


Análise de fluido de corte orgânico à base de óleo de mamona aplicado à usinagem

Empresas do setor de usinagem pretendem reduzir os resíduos sólidos e líquidos provenientes de seus processos produtivos como, por exemplo, cavaco, resíduos de lubrifi cantes e borra proveniente do processo de retifi cação, visando alinhar suas operações aos conceitos de sustentabilidade. Foi então feito um estudo de possíveis fontes de óleo na natureza, e também os possíveis aditivos necessários para agregar a esse óleo as propriedades necessárias para a aplicação na usinagem. Foi escolhido o óleo de rícino 100% natural proveniente da mamona e foram feitas algumas misturas envolvendo emulsionantes e bactericidas até ser obtido um fl uido que apresentasse viscosidade adequada e boa capacidade de refrigeração.

23/02/2024